Muitos foram os filmes que trataram das
aventuras do homem-macaco. Tal qual Drácula e Sherlock Holmes, Tarzan é um herói
tão icônico e arraigado na cultura pop que se tornou uma referência para tudo o
quê, por ventura, lhe tenta se aproximar.
Filmes de Tarzan surgem desde os tempos do
cinema preto e branco (a gloriosa fase dos filmes de Johnny Westmuller),
chegando a existir até mesmo uma animação da Disney (de 1999, e uma das mais
saborosas versões do personagem!).
Um novo filme está prestes a sair, com
Alexander Skarsgard, como Tarzan, e a celestial Margot Robie, como Jane.
Mas, uma das versão mais inusitadas e curiosas
do personagem surgiu, para variar, na década de 1980.
É chamada “Greystoke-A Lenda de Tarzan” (em
referência ao Lorde de Greystoke, o título que Tarzan descobre pertencer à sua
família quando tenta regressar à civilização), e trazia um campeão de natação
no papel (como o fora Johnny Westmuller), em estréia no cinema, um certo Christopher
Lambert, que depois ganharia fama com outro clássico oitentista, o divertido “Highlander-O
Guerreiro Imortal”. Jane, por sua vez, era interpretada pela doce Andie MacDowell,
num registro bem diferente da personagem visto em outras versões.
A trama, à rigor, é a mesma de sempre: Criado
por macacos, após o desaparecimento e morte de seus pais em meio à selva
africana, Tarzan é levado à Londres, onde conhece seu avô (Ralph Richardson) e
passa a tomar conhecimento da origem aristocrática que lhe pertence.
Mas a civilização não tem um lugar para Tarzan,
e ele nem mesmo deseja fazer parte dela.
Dessa forma, este filme intrigante se posiciona
como uma releitura diferente, talvez, a mais desigual já realizada.
Pode-se dividi-lo em duas partes: A primeira,
onde vemos a selva e a origem de Tarzan propriamente ganha forma, para logo
conhecermos os outros personagens humanos.
Há um tom quase gore em muitas sequências que
abusam da sanguinolência, o que vem a ser indicativo da direção escorregadia do
inglês Hugh Hudson.
Com um prestígio meteórico adquirido pela
consagração do drama esportivo “Carruagens de Fogo” junto ao Oscar 1981, Hudson
foi escolhido pelo mesmo produtor daquele filme, David Puttman, para conduzir
esta reformulação do personagem de Edgar Rice Burroughs. Mas, o próprio
resultado final visto aqui demonstra que a aclamação ao diretor pode ter sido
tão presunçosa quanto precipitada.
A segunda parte, quando Tarzan cede às instruções
dos homens que o identificaram e vai para Londres agrega elementos mais
dramáticos, com os quais o diretor Hudson se vê mais à vontade. É nessa parte
(a despeito de cenas plasticamente admiráveis vistas no trecho da selva) que o
foco da narrativa se evidencia ao observar o choque cultural do personagem e o
esmero com que a caracterização de Christopher Lambert constrói um Tarzan mais
visceral, e mais despojado, próximo de realidade animal.
O final surpreende na maneira com que ele
encerra, num travo amargo a triste, o romance entre Tarzan e Jane, tão
idealizado e feliz nas outras versões.
Dessa maneira, a despeito de suas inúmeras
falhas, há em “Greystoke” uma série de elementos curiosos que diferenciam este
trabalho do que pode ser considerado convencional. Eis aí um belo candidato à Cult.
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