O ótimo e emocionante trabalho do diretor Peter
Weir não deixou que o ingênuo público dos anos 1980, que prestigiou (e muito) o
filme nos cinemas, percebesse um insuspeito caráter de transgressão disfarçado
da mais pura e genuína ode à vida e à liberdade que impregnava esta maravilha
da sétima arte.
Avesso à emoções fortes e apelos melodramáticos
convencionais (como provam seus equilibrados, austeros e também magistrais “A
Testemunha”, de 1985, “O Show de Truman” de 1999, e “Mestre dos Mares”, de 2003),
o talentoso diretor australiano entrou numa fase mais emotiva no final daquela
década, chegando a realizar até mesmo uma comédia romântica! Mas, uma comédia
romântica que era, também ela, uma esmerada obra de cinema, com um roteiro
inquestionável e um trabalho narrativo superior à muito drama vencedor de Oscar
(e quando se tem Gerard Depardieu no elenco, o filme se torna, no mínimo, livre
de críticas quanto às atuações): Tratava-se de “Green Card-Passaporte Para O
Amor”, sobre o qual, inclusive já falei aqui.
O curioso é que, aparentemente, Peter Weir
vinha planejando a algum tempo essa fase mais leve e agridoce: O roteiro de “Green
Card” vinha sendo trabalho a alguns anos, e Weir tinha inclusive escrito
especialmente para Depardieu.
Na qualidade de grande astro da França naquele
período, o francês estava atarefado (no caso, filmando “Cyrano de Bergerác”
que, em 1990, lhe deu uma indicação ao Oscar), e para conseguí-lo, Weir teria
de adiar o início das filmagens.
Eis que ele contornou a ansiedade da espera
preenchendo o tempo enquanto fazia um outro filme: “Sociedade dos Poetas Mortos”.
É curioso notar, portanto, que não passava pela
cabeça de Weir o filme brilhante que ele estava fazendo. Desnecessário dizer
que “Green Card”, ainda que ótimo, não teve metade da repercussão que o
sensacional filme estrelado por Robin Willians obteve.
“Sociedade...” recebeu inúmeras indicações ao
Oscar, inclusive de Melhor Diretor, para Weir, mas ganhou mesmo o de Melhor
Roteiro Original, vem laureado uma de suas maiores forças: O script certeiro,
enxuto, ponderado e essencial de Tom Schulman.
São meados da década de 1950, e a prestigiada
escola norte-americana para meninos de Welton recebe um novo professor de
poesia, John Keating (um inspirado Robin Willians), cuja desigual postura em
sala de aula –ele inspira os alunos à um pensamento livre e questionador,
abrindo mão de manuais e regras –encanta muitos dos alunos na mesma medida em
que desperta a intolerância da direção da escola.
Surge então a dita Sociedade dos Poetas Mortos,
um grupo composto de alunos que reúnem-se numa caverna para recitar poemas. Os
jovens que formam esse grupo são inspirados assim a buscar seus sonhos, sejam
eles materializados da forma que for.
Desde a feliz descoberta de um elenco homogêneo
e competente de jovens atores até a sacada fantástica de colocar Robin Willians
num papel dramático, tudo funciona a favor do filme. As cenas costuradas à
medida que a narrativa avança são brilhantes e memoráveis em sua unidade: Os
poemas na caverna; as sucessivas aulas de poesia onde Willians enche a boca com
os monólogos extraordinários de seu personagem; a cena em que os jovens
declamam uma frase e chutam bola; a tensa apresentação de teatro.
Nada, contudo, supera a emoção dos dez minutos
finais, um momento que, ao som da sempre eficiente trilha sonora de Maurice
Jarre, ouso dizer, está entre os mais tocantes do cinema.
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