O cinema, desde sempre, foi terreno fértil para
essas espetaculares possibilidades. E calhou de surgir nos anos 1980 uma das
mais magníficas e significativas obras a representar o potencial desse
conceito.
“O Feitiço de Áquila” é uma história que
acompanhamos quase que exclusivamente pelos olhos de um personagem que entra de
gaiato em sua história: O ladrão carismático e escorregadio interpretado por um
muito jovem Matthew Broderick, uma das muitas escolhas perfeitas do elenco.
O início do filme registra a sua escapada
audaciosa, ainda que acidental, de Phillipe, o seu personagem, das masmorras lamacentas
da cidade medieval de Áquila (a trama se passa em algum lugar da Europa que
remete a Itália e a França). Em fuga, Phillipe busca desaparecer nas aldeias de
camponeses dos soldados que estão em seu encalço, quando encontra o cavaleiro
Etienne Navarre (Rutger Hauer, no tom ideal para o papel), sempre acompanhado
de um falcão adestrado e de um corcel negro, que termina defendendo-o dos
soldados.
O rapaz decide acompanhá-lo como escudeiro
enquanto ele o protege, ainda que o objetivo de Navarre, por motivos ainda
nebulosos, o conduza a contra-gosto para o único lugar onde ele não quer ir: De
volta à Áquila.
Logo, Phillipe percebe um fenômeno estranho: Á
noite, Navarre sempre desaparece, por mais que um enorme e assustador lobo
ronde as florestas por onde pernoitam. Também à noite surge uma presença
inesperada: Uma mulher linda que, mais tarde, ele descobre se chamar Isabeau
(Michelle Pfeifeir, e bota linda nisso!).
Quando o falcão de Navarre termina alvejado por
uma flecha durante uma batalha que o trio trava contra soldados de Áquila, que
se multiplicam a medida que eles chegam cada vez mais próximos do lugar,
Phillipe finalmente consegue montar as peças do quebra-cabeça: O falcão é
Isabeau transformada durante o dia; Navarre é o lobo transformado durante a
noite. Dessa forma, os dois amantes amaldiçoados não podem se relacionar como
seres humanos, e por isso o cavaleiro deseja voltar para Áquila, onde está o
homem cuja inveja tratou de condená-los à essa maldição, o poderoso bispo.
Revelar esse detalhe da trama (que é esboçado
ao longo do filme sem pressa, de forma deliciosa e envolvente) não configura
nenhum spoiler pois todo mundo já conhece sua trama (ou pelo menos, já deve ter
ouvido falar dela), e além disso, a condução do diretor Richard Donner, é tão
convicta, exemplar e serena que, mesmo sabendo de antemão o que acontece, não
há como não se deixar absorver por sua narrativa: Embora tenha realizado alguns
dos grandes clássicos do entretenimento daquele período, como os inesquecíveis
“Os Goonies” e “Superman-O Filme”, “O Feitiço de Áquila” é seu trabalho mais
perfeito.
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