sábado, 9 de julho de 2016

O Feitiço de Áquila

 
 As melhores obras de fantasia são aquelas que conseguem obter uma espécie de suspensão de crença, por meio da qual a realidade pode ser projetada num contexto mágico.
   O cinema, desde sempre, foi terreno fértil para essas espetaculares possibilidades. E calhou de surgir nos anos 1980 uma das mais magníficas e significativas obras a representar o potencial desse conceito.
   “O Feitiço de Áquila” é uma história que acompanhamos quase que exclusivamente pelos olhos de um personagem que entra de gaiato em sua história: O ladrão carismático e escorregadio interpretado por um muito jovem Matthew Broderick, uma das muitas escolhas perfeitas do elenco.
   O início do filme registra a sua escapada audaciosa, ainda que acidental, de Phillipe, o seu personagem, das masmorras lamacentas da cidade medieval de Áquila (a trama se passa em algum lugar da Europa que remete a Itália e a França). Em fuga, Phillipe busca desaparecer nas aldeias de camponeses dos soldados que estão em seu encalço, quando encontra o cavaleiro Etienne Navarre (Rutger Hauer, no tom ideal para o papel), sempre acompanhado de um falcão adestrado e de um corcel negro, que termina defendendo-o dos soldados.
   O rapaz decide acompanhá-lo como escudeiro enquanto ele o protege, ainda que o objetivo de Navarre, por motivos ainda nebulosos, o conduza a contra-gosto para o único lugar onde ele não quer ir: De volta à Áquila.
   Logo, Phillipe percebe um fenômeno estranho: Á noite, Navarre sempre desaparece, por mais que um enorme e assustador lobo ronde as florestas por onde pernoitam. Também à noite surge uma presença inesperada: Uma mulher linda que, mais tarde, ele descobre se chamar Isabeau (Michelle Pfeifeir, e bota linda nisso!).
   Quando o falcão de Navarre termina alvejado por uma flecha durante uma batalha que o trio trava contra soldados de Áquila, que se multiplicam a medida que eles chegam cada vez mais próximos do lugar, Phillipe finalmente consegue montar as peças do quebra-cabeça: O falcão é Isabeau transformada durante o dia; Navarre é o lobo transformado durante a noite. Dessa forma, os dois amantes amaldiçoados não podem se relacionar como seres humanos, e por isso o cavaleiro deseja voltar para Áquila, onde está o homem cuja inveja tratou de condená-los à essa maldição, o poderoso bispo.

    Revelar esse detalhe da trama (que é esboçado ao longo do filme sem pressa, de forma deliciosa e envolvente) não configura nenhum spoiler pois todo mundo já conhece sua trama (ou pelo menos, já deve ter ouvido falar dela), e além disso, a condução do diretor Richard Donner, é tão convicta, exemplar e serena que, mesmo sabendo de antemão o que acontece, não há como não se deixar absorver por sua narrativa: Embora tenha realizado alguns dos grandes clássicos do entretenimento daquele período, como os inesquecíveis “Os Goonies” e “Superman-O Filme”, “O Feitiço de Áquila” é seu trabalho mais perfeito.

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