quinta-feira, 29 de junho de 2017

Enquanto Somos Jovens

Como em todos os seus filmes (“A Lula e A Baleia”, “Frances Ha”), o diretor Noah Baumbach tem especial interesse por distúrbios comportamentais.
Aqui não é diferente.
Seu casal de protagonistas, Josh e Cornelia (Ben Stiller e Naomi Watts, escalações que expressam bem a mescla de comédia costumeira e drama independente que ele impõe em suas narrativas), estão naquela fase em que a euforia da juventude converteu-se mais em lembranças do que em ações presentes, e tal constatação parece levar uma sombra ao seu casamento. Planos iminentes (como reuniões festivas com os amigos de sempre, ou mesmo a possibilidade de adotar uma criança) pouco fazem para desvanecer esse pessimismo.
Um belo dia eles conhecem Jamie e Darby (Adam Driver e Amanda Seyfried), jovens como eles foram um dia; descolados, idealistas e passionais, como eles gostariam de ter sido.
A amizade logo transforma o comportamento deles, levando-os a uma atitude que muitos definiriam como “crise de meia idade”.
Todavia, existem mazelas na vida aparentemente feliz e plena que aquele casal jovem vive e, sobretudo no caso de Jamie, essas pequenas fissuras irão revelar, aos olhos de Josh, sua prepotência, seu egocentrismo e certa inconseqüência na maneira com que ele molda sua vida (ele almeja ser, como Josh, um documentarista) para que se encha de glamour aos olhos dos outros.
Pouco a pouco, portanto, Noah Baumbach deixa o tema da crise de meia idade, que parecia definir os rumos do filme, para abordar as questões morais que, por ventura, envolvem o compromisso dos contadores de história, sob o prisma algo maniqueísta de um antagonismo entre a juventude que promete inovação e a experiência que conserva alguma ética.
Essa é, todavia, uma discussão que dificilmente se sustenta como interesse para grande parte do público –Baumbach saiu-se muito melhor quando ponderou acerca de assuntos muito mais universais como a disfunção ocasional das famílias modernas (“A Lula e A Baleia” e “Margot e O Casamento”, com Nicole Kidman) e a dinâmica singular das amizades (“Frances Ha”).

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