segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Oz - Mágico e Poderoso

O próprio diretor Sam Raimi admitiu que não estava animado com a idéia de um filme que revisitava o universo do clássico “OMágico de Oz”, de Victor Fleming, mas o roteiro escrito por Mitchell Kapner e David Lindsay, inspirado em elementos pouco conhecidos da série de livros de L. Frank Baun, ambientados em Oz, e repleto de espertas referências ao clássico terminou o conquistando.
E o estilo de Raimi, uma junção deliberadamente gaiata entre modernidade e anacronismo, funciona muito bem na narrativa desta história.
Voltamos aproximadamente trinta anos no tempo em relação à história na qual a menina Dorothy vai para Oz através de um furacão. Ou seja, neste roteiro, Dorothy ainda não nasceu e aquela que é sua tia Annie (vivida por Michelle Williams, que voltará, mais tarde, em outra personagem), ainda jovem, se acha indecisa entre casar com aquele que será seu futuro marido e um flerte ainda inicial com o mágico (vivido com entusiasmo por James Franco que trabalhou com Raimi em sua trilogia do “Homem-Aranha”).
Em algum momento desse prólogo em preto & branco (e também achatado num formato de tela quadrado 4:3 adotado por Raimi), o expectador mais informado sabe que haverá um furacão e que por meio deste, o mágico será conduzido ao espetacular e aí então colorido mundo de Oz (e não só as cores despontam esplendorosas em cena, como a tela também adquire o formato widescreen).
O mágico –um personagem de moral questionável no qual a atuação de Franco remete aos trejeitos normalmente associados à Johnny Depp –se encontra assim num mundo dotado de magia de verdade, com personagens genuinamente dotadas de magia, como a bruxa do oeste Theodora (a linda Mila Kunis), a primeira a encontrá-lo, e as demais bruxas, Evanora, do Leste (Rachel Weisz) e Glinda, do Sul (novamente, Michelle Williams).
Fugindo do que se supõe por óbvio num filme como este, o roteiro ludibria protagonista e plateia mostrando Theodora e Evanora como personagens boas para revelar suas intenções reais a partir da metade do filme, quando Glinda é introduzida e conhecemos melhor o funcionamento dos antagonismos na Terra de Oz –Theodora, aliás, é um caso mais elaborado de uma personagem complexa que sofre uma metamorfose ao longo da trama, e a atriz Mila Kunis se encarrega maravilhosamente bem do recado.
Como numa espécie de tradição herdada do filme original, neste daqui, ao longo de sua aventura em Oz, o mágico encontra alguns personagens de peculiaridade temática e visual que irão lhe acompanhar em sua jornada: O subserviente macaco com asas Finley (voz de Zack Braft) e a delicada menina de porcelana (voz da jovem Joey King).
Aquela que talvez seja a sacada mais referencial e apaixonada de Sam Raimi surge perto do final, quando o plano engendrado pelo mágico se revela. Engenhoso, cheio de estratégia e carregado de ilusionismo, o tal plano consiste de derrotar o poder das bruxas com a única magia mais poderosa que a delas: A magia do cinema.
Ainda que colorido e notadamente infanto-juvenil, o trabalho exercido por Raimi não deixa de incluir alguns reflexos involuntários do diretor de filmes de terror que ele é: E “O Mágico de Oz” em si, sempre agregou, nas entrelinhas de sua mitologia, características de perversidade, incorreção política e sadismo que casam muito bem com o assombro abrupto, algo adolescente, dos filmes de terror de Raimi.

Claro que, devido ao tamanho da produção e ao alcance do filme, esta nova obra traz uma mensagem diferente do enredo pessoal e individualista –da mocinha que tão somente queria voltar para casa –falando, agora, dos esforços altruístas em ajudar toda uma comunidade e, no processo, amarrar devidamente alguns ganchos narrativos ao icônico filme de 1939.

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