A década de 1960 não foi somente um período
marcante de mudanças e transformações para os EUA e o mundo; foi também uma
época a qual aparentemente, o diretor Oliver Stone custou a conseguir deixar de
lado. A maior parte dos grandes títulos de sua filmografia, ao menos durante as
suas duas primeiras décadas de atividade como cineasta, se dedicam a falar
sobre episódios essenciais desse trecho da história americana.
Se a Guerra do Vietnam é uma parte
indissociável do contexto de “Platoon” e “Nascido em 4 de Julho”, em “JFK”, ele
lança seu olhar parcial, paranóico e imbuído de uma tendenciosa maestria
cinematográfica sobre os percalços e conseqüências do assassinato do então
presidente americano John F. Kennedy, cometido –acredita-se –pelo atirador Lee
Oswald (aqui interpretado com peculiaridade por Gary Oldman). A base para esse
olhar, Stone encontra na teoria controversa do promotor Jim Garrison
–personificado com segundas intenções da parte de seu diretor pelo astro Kevin
Costner: Na época, devido à sua participação no aclamado épico “Dança Com
Lobos” e em outros sucessos de bilheteria como “Robin Hood-O Príncipe dos
Ladrões”, Costner era enxergado como uma espécie de herói americano, o tipo de
intérprete escolhido a dedo para se colocar num personagem do qual o diretor
não deseja que a platéia duvide.
Desde a utilização brilhante do famoso e vídeo amador
de Zapruder –uma prática habitual no cinema de Oliver Stone –ao emprego de uma
riqueza documental e informativa incomum para qualquer superprodução (por tais
valores, “JFK” levou os Oscars de Melhor Fotografia e Montagem) e o uso pontual
de participações notáveis de um elenco diverso e estelar, todas as exuberantes
facetas deste filme são administradas por seu diretor na imposição demagógica
de sua própria ideologia e ponto de vista –provavelmente a grande ressalva em
toda a filmografia fascinante de Stone.
Garrison acreditava numa possibilidade bem
diferente daquela ventilada pela imprensa. Para ele, Oswald era um mero bode
expiatório para toda uma conspiração que envolvia inúmeros interessados em dar
cabo de Kennedy –e para tanto, um de seus argumentos é de que a sucessão de
tiros obtida unicamente por Oswald naquele atentado seria humanamente impossível
para um atirador sozinho executar.
A partir daí, subjetivada nas investigações de
Garrison, a narrativa de Stone desfralda uma conspiração que ganha ares
assombrosos e aterradores ao longo das três horas de duração do filme.
E Stone o faz com uma mescla assombrosa de
tensão e intensidade, deixando entrever, apenas em alguns rápidos momentos de
seu último terço a pecaminosa tendência do diretor em alterar obviedades
históricas apenas para salientar seu próprio ponto de vista.
Um grande filme de um
diretor tendencioso que soube empregar como poucos as ferramentas do cinema com
perversa astúcia.
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