sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar

A década de 1960 não foi somente um período marcante de mudanças e transformações para os EUA e o mundo; foi também uma época a qual aparentemente, o diretor Oliver Stone custou a conseguir deixar de lado. A maior parte dos grandes títulos de sua filmografia, ao menos durante as suas duas primeiras décadas de atividade como cineasta, se dedicam a falar sobre episódios essenciais desse trecho da história americana.
Se a Guerra do Vietnam é uma parte indissociável do contexto de “Platoon” e “Nascido em 4 de Julho”, em “JFK”, ele lança seu olhar parcial, paranóico e imbuído de uma tendenciosa maestria cinematográfica sobre os percalços e conseqüências do assassinato do então presidente americano John F. Kennedy, cometido –acredita-se –pelo atirador Lee Oswald (aqui interpretado com peculiaridade por Gary Oldman). A base para esse olhar, Stone encontra na teoria controversa do promotor Jim Garrison –personificado com segundas intenções da parte de seu diretor pelo astro Kevin Costner: Na época, devido à sua participação no aclamado épico “Dança Com Lobos” e em outros sucessos de bilheteria como “Robin Hood-O Príncipe dos Ladrões”, Costner era enxergado como uma espécie de herói americano, o tipo de intérprete escolhido a dedo para se colocar num personagem do qual o diretor não deseja que a platéia duvide.
Desde a utilização brilhante do famoso e vídeo amador de Zapruder –uma prática habitual no cinema de Oliver Stone –ao emprego de uma riqueza documental e informativa incomum para qualquer superprodução (por tais valores, “JFK” levou os Oscars de Melhor Fotografia e Montagem) e o uso pontual de participações notáveis de um elenco diverso e estelar, todas as exuberantes facetas deste filme são administradas por seu diretor na imposição demagógica de sua própria ideologia e ponto de vista –provavelmente a grande ressalva em toda a filmografia fascinante de Stone.
Garrison acreditava numa possibilidade bem diferente daquela ventilada pela imprensa. Para ele, Oswald era um mero bode expiatório para toda uma conspiração que envolvia inúmeros interessados em dar cabo de Kennedy –e para tanto, um de seus argumentos é de que a sucessão de tiros obtida unicamente por Oswald naquele atentado seria humanamente impossível para um atirador sozinho executar.
A partir daí, subjetivada nas investigações de Garrison, a narrativa de Stone desfralda uma conspiração que ganha ares assombrosos e aterradores ao longo das três horas de duração do filme.
E Stone o faz com uma mescla assombrosa de tensão e intensidade, deixando entrever, apenas em alguns rápidos momentos de seu último terço a pecaminosa tendência do diretor em alterar obviedades históricas apenas para salientar seu próprio ponto de vista.
Um grande filme de um diretor tendencioso que soube empregar como poucos as ferramentas do cinema com perversa astúcia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário