Quem viu “O Segredo dos Seus Olhos” já podia
pressupor que a sua refilmagem norte-americana dificilmente igualaria o
trabalho magnífico realizado pelo diretor Juan José Campanella –o cinema
argentino de um modo geral está mesmo em um patamar artístico que poucas
escolas do mundo conseguem rivalizar.
E olha que esta nova versão, estréia como
diretor do roteirista Billy Ray (de “Jogos Vorazes”), fez o que pode para
emanar um brilho próprio: Chamaram para protagonizá-la o ótimo Chiwetel
Ejiofor, de “12 Anos de Escravidão” e ainda reuniram no mesmo elenco, as
estrelas Nicole Kidman e Julia Roberts –cuja reunião em cena termina sendo o
maior atrativo para este filme.
A trama também ganhou novas nuances que
aprofundam ainda mais o envolvimento pessoal dos protagonistas e agregam de
maneira inteligente os desdobramentos da história ao contexto norte-americano
pós-11 de setembro.
O protagonista é Ray (Chiwetel Ejiofor, sempre
ótimo ainda que incapaz de igualar o magnífico Ricardo Darin), um ex-agente do
FBI cujo retorno ao convívio dos antigos colegas de profissão traz junto as
pesarosas lembranças de uma investigação transcorrida há treze anos atrás (e,
sendo o filme datado de 2015, esses treze anos ambientam sua trama logo após os
traumáticos desdobramentos sócio-políticos do atentado às Torres Gêmeas) e que
afetaram a todos: O terrível estupro e assassinato da filha de sua parceira
Jess (Julia Roberts, vivendo uma personagem que não existia no filme argentino
que pode ser vista como uma junção específica de alguns daqueles personagens).
Tornado pessoal por essas questões de
parentesco, o caso não se mostrou complicado em sua elucidação –logo ficou
claro quem foi o assassino –mas sim em sua conclusão circunstancial: O
assassino se viu impune às conseqüências do crime que perpetrou justamente por
ser um importante informante na tentativa de identificar uma célula terrorista
em atividade.
Como em “O Segredo dos Seus Olhos”, este novo
filme se dedica a avaliar as transfigurações amargas que uma tragédia
inominável e suas corrosivas ramificações operaram nos relacionamentos;
inclusive o amor não declarado entre Ray e a procuradora Claire (Nicole Kidman)
que, ao lado dos dois detetives, lutou até o fim pela condenação do culpado.
A maneira com que o filme
de Billy Ray procurou recriar o filme original –e dele, na medida do possível
se distanciar –não alcança aquele mesmo padrão de perfeição por uma série de
motivos contundentes: Porque o diretor não tem a mesma desenvoltura que Juan
José Campanella para orquestrar as facetas distintas deste trabalho –e na falta
delas o filme se empobrece. Porque as motivações –sobretudo, no que tange ao
final inesperado –não estão tão bem elaboradas e especificadas quanto na obra
argentina. E porque o cinema norte-americano, em sua postura displicente
(especialmente em filmes comerciais), e na tentativa constante de seus
realizadores em encontrar uma expressão relevante à sua dramaturgia não
consegue igualar a percepção afiada e certeira que o primoroso cinema argentino
leva à condição humana em obras escritas, dirigidas e interpretadas com riqueza
primordial.
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