terça-feira, 6 de março de 2018

Fim dos Tempos

O fundo do poço, para o diretor e roteirista M. Night Shyamalan, após uma tentativa de fugir à sua fórmula com o estranho “A Dama Na Água” representou ser este equivocado “Fim dos Tempos”.
Após as críticas negativas e o desinteresse do público no filme anterior, Shyamalan decidiu recorrer ao mesmo molde pelo qual havia urgido os bem-sucedidos “O Sexto Sentido”, “Corpo Fechado”, “Sinais” e “A Vila”. E ele seguiu a receita à risca: Como nos outros, escalou um ator de filmes de ação (Mark Wahlberg) como forma de surpreender o público num personagem dramático; administrou seu estilo parcimonioso –indiferente às cenas de ação –para se ocupar de uma trama de conotações fantásticas e fantasiosas, mas ainda sim um reflexo de celeumas e inquietações bem reais (uma espécie de episódio da série “Além da Imaginação” estendido para o cinema); e ainda tentou introduzir uma pretensa revelação infantil, nos moldes do que fez com Haley Joel Osment –a péssima e inexpressiva Ashlyn Sanchez.
Embora tenha organizado os ingredientes com rigor até excessivo, a mistura mostrou-se pouco harmoniosa em relação aos seus bons trabalhos.
“Fim dos Tempos” fala sobre uma praga desconhecida que assola a humanidade –o mais próximo, portanto, que Shyamalan e seu peculiar cinema se aproximam de um filme-catástrofe. Na premissa bolada pelo autor, um surto coletivo de suicídios domina os grandes centros urbanos começando pelas cidades da Costa Oeste dos EUA. Na Philadelphia (local que é uma referência constante nos trabalhos de Shyamalan), um professor de matemática (Wahlberg) junto da esposa (Zooey Deschanel, deslocada) e de sua sobrinha (a menina Ashlyn), inicialmente acompanham a onda de pessoas perdidas e assustadas dispostas a fugir desse mal, que a princípio pensam tratar-se de um ato terrorista.
É, na realidade, uma vingança das próprias árvores (!) contra o desmatamento: Na concepção do diretor (que sua impostação e sua pretensão fazem ser tão ridícula quanto parece), as plantas, identificando na humanidade um inimigo que as ameaça há milênios desenvolvem uma enzima que se espalha pelo ar e que interfere no cérebro humano, levando as pessoas ao suicídio.
Mais uma parábola, portanto, muito particular de M. Night Shyamalan sobre a humanidade e o próprio gênero de terror e suspense que adotou, onde ele lança mão de cenas um pouco mais gráficas –no lugar da sugestão que predominou nas obras anteriores –como as intermináveis (e mórbidas) seqüências de suicídio (pessoas se jogando dos prédios, deitando na frente de cortadores de grama e tirando a vida das mais diversas maneiras) ou os momentos de tensão quando os personagens ficam na expectativa da chegada silenciosa do vento (elemento que afinal transporta a enzima suicida!). No entanto, o filme acaba ficando na memória mesmo por suas cenas constrangedoras, como o diálogo do personagem de Mark Wahlberg com uma samambaia –é sério, isso acontece mesmo!
Tudo, porém, piora muito mais quando chegamos aos quarenta minutos finais, e Shyamalan desleixadamente parece deixar de lado o filme irregular que construía até então para colocar os personagens numa situação distinta repleta de acontecimentos sem sentido –uma casa isolada, onde a moradora oferece abrigo para então revelar-se excêntrica e psicótica (vivida por Betty Buckley, que também aparece em “Fragmentado”): Na verdade, esse trecho esquisito, mal amarrado ao restante da premissa e desagradavelmente inesperado é baseado num curta-metragem de Shyamalan, e foi colocado ali para aumentar a duração do filme somente.

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