O cineasta inglês Ian Softley tinha um estilo
imediatamente identificável: Seus trabalhos partilhavam de uma mesma vibração
frenética e febril, e seus protagonistas eram impelidos pela intensidade do
êxtase –na precipitação da juventude, eles primeiro agiam (e reagiam) para
depois avaliar as conseqüências de suas ações.
Mão obstante esse padrão, ele passeou por
diversos gêneros e trabalhou os mais diferenciados temas.
“Os Cinco Rapazes de Liverpool” (uma audaciosa
reconstituição de uma história não contada dos Beatles), “Hackers-Piratas de
Computador” (dos primeiros filmes a tratar sobre o tema da informática e a
trazer em seu elenco uma ainda jovem e estreante Angelina Jolie) e “As Asas do
Amor” (adaptação de um romance de Henry James) são suas obras mais conhecidas,
com considerável ênfase no reconhecimento da crítica desse último.
Ele unia –mal comparando –o dinamismo
inconformista de Danny Boyle com o atrevido despojamento de Ken Russell. Na
teoria pode parecer promissor –e foi isso que ele conseguiu ser em seus
melhores momentos –mas, na prática, a verdade é que como autor cinematográfico,
Ian Softley foi uma chama fugaz.
Em “Asas do Amor” esse seu inconformismo já
fica bem claro na inesperada escalação da atriz Helena Bonham Carter para o
papel principal: Ela que o público dificilmente veria como uma mulher audaz,
sensual e encantadora surpreendeu (e ganhou uma indicação ao Oscar de Melhor
Atriz!) justamente por injetar audácia, sensualidade e encanto à aristocrática
Kate, uma moça que, na primeira década do século XX, vê os excessos do próprio
pai (Michael Gambon) esgotarem os recursos financeiros da família. Ela vai
morar com uma tia rude e autoritária (Charlotte Rampling) junto de quem
encontra duas alternativas: Um casamento devidamente arranjado por ela com
algum ricaço que não ama; ou contrariá-la e casar-se com o apaixonado Merton
(Linus Roache), por quem Kate é apaixonada também, mas quem ela sabe não ter
onde cair morto –e isso, para a ambiciosa Kate é algo inadmissível.
Ironicamente, o destino sinaliza para ela com
uma terceira alternativa: Eis que ela conhece a luminosa Millie (Alison
Elliott), uma jovem americana rica em visita à Inglaterra.
Millie se interessa por Merton, sem ter a menor
idéia de que Kate, sua nova melhor amiga, tem com ele um profundo
relacionamento.
E, nos planos de Kate, assim continuará sendo:
Ela descobre que Millie tem uma doença que logo irá levá-la, e fazer de Merton
um iminente viúvo rico é, para ela, uma oportunidade perfeita para unir o útil
(preservar as posses financeiras de sua classe) ao agradável (ficar com o homem
que ama).
Na equação de Kate só não entra, porém, o ciúme
esmagador ao qual esse arranjo irá submetê-la.
É extremamente interessante
–e fonte da curiosidade maior deste filme –o fato de vermos um diretor de
orientações tão contemporâneas quanto Ian Softley trabalhar a narrativa de uma
produção de época (com toda atenção habitual ao figurino e à direção de arte) e
assim mesmo fazer dele algo tão próximo de seu estilo; para tanto, ele abre mão
da densidade e do rigor formal que normalmente acompanham o texto nas obras
literárias de Henry James fazendo deste um filme palatável, dinâmico e, por que
não, jovem.
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