O diretor inglês Michael Caton-Jones sempre
deixou que a irregularidade prevalecesse em sua obra. Uma irregularidade que
contaminava suas escolhas estilísticas (nota-se em sua filmografia inclinações
diversas para todos os tipos de posturas e gêneros) e as características de
seus filmes em geral –houveram muitos diretores que optaram por filmes radicalmente
diferentes uns dos outros, mas cuja personalidade manifestava-se na realização
tornando similares obras que aparentavam extrema diferença.
Não é o caso de Caton-Jones: De filmes como a
comédia rasteira “Dr. Hollywood-Uma Receita de Amor” e o drama “O Despertar de
Um Jovem” à aventura “Rob Roy-A Saga de Uma Paixão” e a continuação
pseudo-erótica de “Instinto Selvagem”, sua direção parece se adaptar à vontade
de seus produtores, como o mais dócil dos operários.
Nesse contexto, o drama de guerra “Memphis Belle-A
Fortaleza Voadora” é um de seus melhores trabalhos (talvez, com a honrosa
exceção do thriller “Escândalo”).
Como em todos, nele prevalece as vontades e as
intenções do produtor que, neste caso, é David Puttman que, desde a década de
1980, gozava de relativo prestígio tendo conquistado um improvável Oscar de
Melhor Filme com “Carruagens de Fogo” (um dos grandes azarões do Oscar) e
assinando ao menos uma obra inquestionavelmente cult, a mais peculiar e autoral
de todas as versões de Tarzan, “Greystoke”.
Ambientado na Segunda Guerra Mundial e lançado
muitos anos antes de “O Resgate do Soldado Ryan” –e, portanto, destituído do
fulgor energético para com as cenas de batalha que o filme de Spielberg obrigou
praticamente todos os filmes de guerra a ter depois dele –o enredo de “Memphis
Belle” se inicia em 1943.
Há uma comoção à pairar na atmosfera daquela
base aérea norte-americana ambientada na Inglaterra: Uma de suas tripulações
(justamente a do B-17 nomeado Memphis Belle) está prestes a completar a inédita
marca de vinte e cinco missões completas, o que fará dela a primeira equipe a
conseguir completar suas tarefas e voltar para casa.
A derradeira missão é carregada de expectativa
da parte dos soldados –que se dividem entre empolgação pela conquista iminente
e medo da morte provável –e de seus oficiais, entre os quais o humanista e
paternalista Capitão Dennis Dearborn (Matthew Modine, de outro belo drama de
guerra, “Nascido Para Matar”, de Stanley Kubrick).
No percurso dessa missão (que consiste num
arriscado bombardeio à cidade de Bremem, na Alemanha), e no suspense que ela
suscita, o filme explora, numa narrativa embriagada da nostalgia do cinema à
moda antiga que parece buscar, os anseios e reflexões muitos humanos de seus
integrantes, abrindo espaço para um elenco masculino homogêneo e dedicado: O
sensível e austero Danny (Eric Stolz); o impulsivo e sem-noção Rascal (Sean
Astin); o boa-praça Clay (Harry Connick Jr. cuja verve de cantor é aproveitada
numa das mais famosas cenas); o auto-declarado médico Val (Billy Zane); o
tremendamente abalado Phil (D.B. Sweeney); o irrequieto e voluntarioso Luke
(Tate Donovan); o resignado Virgil (Reed Diamond); o supersticioso Eugene
(Courtney Gains); e o taciturno e sério Jack (Neil Giuntoli).
Nem tanto uma obra debruçada sobre o espetáculo
da guerra quando à exaltação de bons sentimentos (embora a sequência final
prime por realismo e intensidade), este filme abre mão de atos heroicos individuais
para entregar a história de um emocionante e sincero esforço conjunto.
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