Dos muitos exemplares revisionistas que o
faroeste ganhou nos anos 1960 e 70, este “Nasce Um Homem” tem como produtor
associado um ainda jovem Jerry Bruckheimer, antes de tornar-se o poderoso (e
explosivo) produtor hollywoodiano que todos conhecem.
Nele, a visão romântica da vida aventureira de
vaqueiro que se observa nos clássicos antigos ganha uma desmistificação
intimista nos moldes do que há algum tempo a literatura já o fazia.
O jovem Ben Mockridge (Gary Grimes, de “O Verão de 42”) é um morador de uma cidadezinha norte-americana que, como tantos
rapazes, sonha em conhecer o mundo e provar a própria coragem e destemor
vivendo como vaqueiro nas pradarias do Oeste.
Ele conquista tal oportunidade ao ser aceito no
grupo de Frank Culpepper (Billy Green Bush), cujos vaqueiros devem conduzir uma
boiada por quilômetros do deserto americano.
Ao longo da jornada, Ben –que arruma a ocupação
de ajudante de cozinheiro a quem chamam de ‘Little Mary’ –irá perceber que as
histórias romantizadas das aventuras de vaqueiros que ouvia com seus amigos não
incluíam os relatos de exaustão, fome e privações extremas que experimentará;
nem tampouco que os desafios de bravura envolvendo o manejo de pistolas e
outras armas incluíam a injustiça paralisante, a traição constante, o medo real
diante da morte e a violência inóspita e sanguinária.
Duas personalidades parecem ilustrar com
perfeição, aos olhos do assombrado Ben, os extremos da vida no Oeste: O próprio
Culpepper, numa atitude sempre distante, quase indiferente, assolado pelo fardo
da liderança, e o intenso, selvagem e beligerante Russ Caldwell (Geoffrey Lewis,
em ótima atuação), cuja presença exala uma mistura ameaçadora e perigosa de
valentia inconsequente.
Entretanto, será Russ, e não Culpepper, quem
definirá o clima e o ritmo na apoteótica cena final, quando, após inúmeras
aventuras e desventuras, a comitiva se encontra com um grupo de despossuídos,
ameaçados pelo mesmo dono de terras que lhes roubou algumas armas, pouco antes.
Ben, então rompe com a resignação de Culpepper
(sempre disposto a colocar a importância da manada de bois e sua função a
frente de tudo), e decide ficar para proteger as pessoas. Impelido mais por um
desejo de revanche do que por justiça, Russ e seus amigos resolvem fazer o
mesmo e assim, o jovem Ben testemunha, nessa sequência final, sangrenta e explosiva,
todas as variações terríveis e imprevisíveis da vida no Oeste como ele jamais
imaginava que seria.
Seu encontro pessoal com a própria coragem e
com a própria ética, se dá no desfecho, quando os despossuídos, numa atitude
algo indigna, já não querem mais aquela terra pela qual tantos morreram para
lhes assegurar.
“Ela está maculada por sangue” alegam eles.
Não importa. O que está
feito, está feito, e Ben, o menino agora transformado em homem, irá coagi-los a
pelo menos prestar um enterro justo e respeitoso à Russ, o pistoleiro assassino
e provocador que deu sua vida para que eles tivessem dignidade.
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