segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Verão de 42

Ainda um adolescente, o roteirista Herman Raucher viveu uma experiência inesquecível no ano de 1942, quando passou as férias de verão numa praia.
Essa experiência foi registrada com propriedade neste filme do diretor Robert Mulligan (o mesmo de “O Sol É Para Todos”), onde nota-se com evidência a intenção de criar uma névoa de agridoce nostalgia a envolver os fatos narrados, com o poder afetivo que eles deviam ocorrer ao indivíduo que as vivenciou. Isso representa muito do fascínio perene com que o filme foi recebido ao longo dos anos –potencializado na inebriante trilha sonora composta por Michel Legrand.
Tomado, ao lado dos amigos, pelo súbito florescer da sexualidade (e na iminência sôfrega de colocar tais descobertas em prática), o adolescente Hermie (Gary Grimes) perambula pela praia onde passa as férias numa titubeante procura por garotas.
Há, porém, um elemento que o arrebata: Uma moradora de uma casa próxima do mar, Dorothy (a belíssima Jennifer O’ Neil), cujo marido foi convocado para a guerra, se torna, para ele quase uma espécie de obsessão e, nas situações corriqueiras que se seguem, uma amiga, embora seja quase indisfarçável o desejo convulsivo que ele sente por ela.
Bobinho e simples na maior parte de seu tempo (ainda que tudo seja narrado com pontual discrição, objetividade e notável sensibilidade para com seus personagens e seus propósitos) o filme de Mulligan cresce e se impõe no que diz respeito ao seu inesperado trecho final, quando a trama tem a audácia (até mesmo para os pudicos padrões da época) de levar o relacionamento de Hermie e Dorothy até sua consumação. Não no que tange à concretização de algum romance improvável e idealizado, mas na conseqüência prática que conduzem ao grande acontecimento: Uma noite de amor entre Dorothy e Hermie, tão inacreditável que ele, como nós, acha que pode estar sonhando.
O diretor Mulligan, contudo, é sensato e honesto o suficiente para não ludibriar o expectador com essa possibilidade: O modo como a cena é conduzida, sua sugerida sensualidade (sem nudez), o som intrusivo das ondas do mar em contraponto à ausência da trilha sonora, antes onipresente, tudo isso contribui para uma percepção autêntica do que se passa –e para que esse momento fique gravado na mente, tal e qual ficou na do jovem.

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