sábado, 21 de janeiro de 2017

La La Land - Cantando Estações

Dos cineastas mais promissores a surgir nos últimos anos, o jovem Damien Chazelle pode encontrar neste “La La Land-Cantando Estações” uma precoce consagração.
Grande vencedor do último Globo de Ouro, e presença garantida em todas as maiores premiações do ano, o filme segue ganhando cada vez mais favoritismo na corrida do Oscar com uma sucessão de críticas que não apenas o colocam entre os melhores (senão O melhor) filmes do ano, mas também afirmam tratar-se de uma obra de arte de inestimável valor.
Mas, e para a pessoa que vai ao cinema atrás de qualidade, todo esse confete se confirma?
Em grande medida, sim.
O expectador que vencer o preconceito que muitos nutrem pelo gênero musical (e que não conseguem engolir uma narrativa onde os personagens saem abruptamente a cantar e a dançar) encontrará uma obra notável que fala a atualidade ao mesmo tempo que enaltece um cinema pouco empregado nos tempos cínicos de hoje, cuja intenção é aliviar os males do coração. Não há mau humor que resista ao charme cativante de Emma Stone que, no papel da sonhadora Mia, reflete muito das experiências da própria Emma Stone em seus percalços cheios de frustração e desilusão a tentar vencer como atriz na competitiva indústria do cinema (e as audições de teste que se seguem no filme são um testemunho ao brilhantismo da atriz e ao primoroso senso de observação do diretor).
A contraparte romântica dela, o pianista de jazz vivido por Ryan Gosling (fazendo par pela terceira vez com Emma) passa por revezes parecidos: Equilibra-se muito mal entre a necessidade de tocar músicas banais a fim de ganhar dinheiro para viver e o ideal de manter viva a chama do verdadeiro jazz –e impelido por isso, seu sonho é abrir um clube onde a música de qualidade possa ser executada.
Os dois sonhadores se encontram (numa sucessão de cenas compostas com admirável perícia cênica pelo diretor Chazelle –seu primeiro encontro, por exemplo, é mágico!).
Inicialmente relutante, um amor floresce, capitulado pelas quatro estações do ano.
Ao longo delas (e disposto em sensações, impressões, vivacidade e tristeza através das cenas musicais), o diretor vai tratar de justapor o amor aos transtornos da exigente vida artística e profissional, e as contradições inevitáveis que abrirão um abismo entre os dois (um tema que já surgia timidamente em seu anterior “Whiplash-Em Busca Da Perfeição”, mas que aqui ganha o centro do plot): A rotina atroz, povoada por idas e vindas mecânicas de uma coreografia sem fim registrada com fôlego e brilho no inverno; o início auspicioso, engraçado e inspirador de um sentimento novo na primavera; os sonhos de cada um dividindo espaço com ocasionais desilusões, e com o desabrochar da relação durante o verão; e as escolhas dolorosas que a vida vai obrigar a fazer no outono.
Tudo isso pontuado por propriedade, leveza, beleza, e um encanto que poucos filmes souberam obter.
O cinema recente trouxe inúmeros exemplares de musicais ao longo dos últimos anos que restauravam a lembrança desse gênero ao público: “Moulin Rouge”, “Chicago”, “Across The Universe”, “Os Miseráveis”.
“La La Land-Cantando Estações” é mais musical que todos eles, em boa parte porque não se prende à um adaptação de uma obra, ou um álbum, ou qualquer referência de um produto pop que veio antes. É, todo ele, genuíno e original.
É também herdeiro direto de musicais de apelo inesquecível como “Cantando Na Chuva”, e dele trás pelo menos um elemento essencial e inconfundível: O objetivo, alcançado com plenitude, talento e êxito, de proporcionar a mais encantadora e enternecedora experiência ao expectador, e fazê-lo sair de bem com a vida de dentro do cinema.

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