Dos cineastas mais promissores a surgir nos últimos
anos, o jovem Damien Chazelle pode encontrar neste “La La Land-Cantando Estações” uma precoce consagração.
Grande vencedor do último Globo de Ouro, e
presença garantida em todas as maiores premiações do ano, o filme segue
ganhando cada vez mais favoritismo na corrida do Oscar com uma sucessão de críticas
que não apenas o colocam entre os melhores (senão O melhor) filmes do ano,
mas também afirmam tratar-se de uma obra de arte de inestimável valor.
Mas, e para a pessoa que vai ao cinema atrás de
qualidade, todo esse confete se confirma?
Em grande medida, sim.
O expectador que vencer o preconceito que
muitos nutrem pelo gênero musical (e que não conseguem engolir uma narrativa
onde os personagens saem abruptamente a cantar e a dançar) encontrará uma obra
notável que fala a atualidade ao mesmo tempo que enaltece um cinema pouco
empregado nos tempos cínicos de hoje, cuja intenção é aliviar os males do coração.
Não há mau humor que resista ao charme cativante de Emma Stone que, no papel da
sonhadora Mia, reflete muito das experiências da própria Emma Stone em seus percalços
cheios de frustração e desilusão a tentar vencer como atriz na competitiva indústria
do cinema (e as audições de teste que se seguem no filme são um testemunho ao
brilhantismo da atriz e ao primoroso senso de observação do diretor).
A contraparte romântica dela, o pianista de
jazz vivido por Ryan Gosling (fazendo par pela terceira vez com Emma) passa por
revezes parecidos: Equilibra-se muito mal entre a necessidade de tocar músicas
banais a fim de ganhar dinheiro para viver e o ideal de manter viva a chama do
verdadeiro jazz –e impelido por isso, seu sonho é abrir um clube onde a música
de qualidade possa ser executada.
Os dois sonhadores se encontram (numa sucessão
de cenas compostas com admirável perícia cênica pelo diretor Chazelle –seu primeiro
encontro, por exemplo, é mágico!).
Inicialmente relutante, um amor floresce,
capitulado pelas quatro estações do ano.
Ao longo delas (e disposto em sensações,
impressões, vivacidade e tristeza através das cenas musicais), o diretor vai
tratar de justapor o amor aos transtornos da exigente vida artística e
profissional, e as contradições inevitáveis que abrirão um abismo entre os dois
(um tema que já surgia timidamente em seu anterior “Whiplash-Em Busca Da
Perfeição”, mas que aqui ganha o centro do plot): A rotina atroz, povoada por
idas e vindas mecânicas de uma coreografia sem fim registrada com fôlego e
brilho no inverno; o início auspicioso, engraçado e inspirador de um sentimento
novo na primavera; os sonhos de cada um dividindo espaço com ocasionais desilusões,
e com o desabrochar da relação durante o verão; e as escolhas dolorosas que a
vida vai obrigar a fazer no outono.
Tudo isso pontuado por propriedade, leveza,
beleza, e um encanto que poucos filmes souberam obter.
O cinema recente trouxe inúmeros exemplares de
musicais ao longo dos últimos anos que restauravam a lembrança desse gênero ao
público: “Moulin Rouge”, “Chicago”, “Across The Universe”, “Os Miseráveis”.
“La La Land-Cantando Estações” é mais musical
que todos eles, em boa parte porque não se prende à um adaptação de uma obra,
ou um álbum, ou qualquer referência de um produto pop que veio antes. É, todo
ele, genuíno e original.
É também herdeiro direto de
musicais de apelo inesquecível como “Cantando Na Chuva”, e dele trás pelo menos
um elemento essencial e inconfundível: O objetivo, alcançado com plenitude,
talento e êxito, de proporcionar a mais encantadora e enternecedora experiência
ao expectador, e fazê-lo sair de bem com a vida de dentro do cinema.
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