sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Inferno

O escritor Dan Brown criou uma fórmula, e dela se valeu para construir seus sucessos. Uma trama de suspense, tão rocambolesca que flerta com o inverossímil. Um repertório bastante interessante e francamente admirável de elementos históricos pesquisados a fundo e tão entranhados na trama mirabolante que fica difícil discernir o que é invenção fictícia do autor e o que é fato espantoso.
E seu protagonista: O cuidadosamente descuidado especialista em simbologia (e especialista em atrair para si os mais inacreditáveis apuros!) professor Robert Langdom –interpretado, em todos os três filmes até aqui, com tranqüilidade até excessiva por Tom Hanks.
A história de “Inferno” (na ordem de livros estrelados por Lagdom, diferente dos filmes, este já é o quarto), a fim de oferecer um ligeiro diferencial na trama –nas quais basicamente, Langdom é sempre recrutado para usar seus dons privilegiados de decifrador de símbolos para achar pistas ocultas nas mais diversas obras da antiguidade –começa quando Langdom concorda em um hospital, com um ferimento na cabeça e a memória toda embaralhada.
Suas roupas estão ensangüentadas e, embora se recorde de estar nos EUA, ele se encontra em Florença, na Itália.
A única pessoa que parece oferecer-lhe auxílio é a jovem médica que o atendeu, Dra. Sienna Brooks (a linda Felicity Jones, de “Rogue One”, tão no piloto automático quanto Tom Hanks) e, tal e qual todas as jovens bonitas dos outros filmes, ela passará quase toda a duração deste correndo alucinadamente ao lado do personagem de Hanks.
Como de praxe, há personagens ainda nebulosos e de intenções misteriosas no encalço de Langdom (são eles, o talentoso francês Omar Sy, de “Intocáveis”, a dinamarquesa  Sidse Babett Knudsen, e o indiano Irrfan Khan, talvez a melhor presença do elenco).
Como é mais de praxe ainda, ele logo estará decifrando uma série de enigmas cuja solução faz repousar sobre seus ombros –e dele fazer, afinal, o herói da história –a responsabilidade de salvar assim, milhares de vidas.
Regendo todos esses elementos que, somados e intensificados gradativamente ao longo dos cento e vinte e dois minutos de filme viram quase um samba do crioulo doido (!), está o oscilante diretor Ron Howard, um veterano que ora faz trabalhos de insuspeita maestria (caso de “Apollo 13”, com o próprio Hanks, “Uma Mente Brilhante”, “Frost/Nixon” ou “Rush-No Limite da Emoção”), ora realiza produções nas quais perde a mão, exagerando em vários quesitos (caso de “No Coração do Mar”, “O Código Da Vinci” e todas as suas seqüências até este daqui).
Howard adapta com relativa fidelidade a obra de Dan Brown, mas esquece de preservar o elemento que a faz antológica: Não é soma de todas as melindrosas peças de seu intrincado quebra-cabeça (cujo excesso de detalhes, já no terço final do filme começa a cansar e a irritar o expectador), mas na verdade o clima de deliciosa furtividade que ele obtém desta e daquela cena, sucessivamente, por meio das quais a trama vai avançando. Em prol de encapsular o máximo possível do livro, Howard sacrifica esses pequenos momentos inspirados e termina com um todo formulaico, apressado e esquizofrênico.
Alfred Hitchcock, em suas brilhantes obras de antigamente, soube fazer muito, muito melhor.

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