O escritor Dan Brown criou uma fórmula, e dela
se valeu para construir seus sucessos. Uma trama de suspense, tão rocambolesca
que flerta com o inverossímil. Um repertório bastante interessante e
francamente admirável de elementos históricos pesquisados a fundo e tão
entranhados na trama mirabolante que fica difícil discernir o que é invenção
fictícia do autor e o que é fato espantoso.
E seu protagonista: O cuidadosamente descuidado
especialista em simbologia (e especialista em atrair para si os mais inacreditáveis
apuros!) professor Robert Langdom –interpretado, em todos os três filmes até
aqui, com tranqüilidade até excessiva por Tom Hanks.
A história de “Inferno” (na ordem de livros
estrelados por Lagdom, diferente dos filmes, este já é o quarto), a fim de
oferecer um ligeiro diferencial na trama –nas quais basicamente, Langdom é
sempre recrutado para usar seus dons privilegiados de decifrador de símbolos
para achar pistas ocultas nas mais diversas obras da antiguidade –começa quando
Langdom concorda em um hospital, com um ferimento na cabeça e a memória toda
embaralhada.
Suas roupas estão ensangüentadas e, embora se
recorde de estar nos EUA, ele se encontra em Florença, na Itália.
A única pessoa que parece oferecer-lhe auxílio é
a jovem médica que o atendeu, Dra. Sienna Brooks (a linda Felicity Jones, de “Rogue
One”, tão no piloto automático quanto Tom Hanks) e, tal e qual todas as jovens
bonitas dos outros filmes, ela passará quase toda a duração deste correndo
alucinadamente ao lado do personagem de Hanks.
Como de praxe, há personagens ainda nebulosos e
de intenções misteriosas no encalço de Langdom (são eles, o talentoso francês
Omar Sy, de “Intocáveis”, a dinamarquesa Sidse Babett Knudsen, e o indiano Irrfan Khan,
talvez a melhor presença do elenco).
Como é mais de praxe ainda, ele logo estará
decifrando uma série de enigmas cuja solução faz repousar sobre seus ombros –e dele
fazer, afinal, o herói da história –a responsabilidade de salvar assim,
milhares de vidas.
Regendo todos esses elementos que, somados e
intensificados gradativamente ao longo dos cento e vinte e dois minutos de
filme viram quase um samba do crioulo doido (!), está o oscilante diretor Ron
Howard, um veterano que ora faz trabalhos de insuspeita maestria (caso de “Apollo
13”, com o próprio Hanks, “Uma Mente Brilhante”, “Frost/Nixon” ou “Rush-No
Limite da Emoção”), ora realiza produções nas quais perde a mão, exagerando em
vários quesitos (caso de “No Coração do Mar”, “O Código Da Vinci” e todas as
suas seqüências até este daqui).
Howard adapta com relativa fidelidade a obra de
Dan Brown, mas esquece de preservar o elemento que a faz antológica: Não é soma
de todas as melindrosas peças de seu intrincado quebra-cabeça (cujo excesso de
detalhes, já no terço final do filme começa a cansar e a irritar o expectador),
mas na verdade o clima de deliciosa furtividade que ele obtém desta e daquela
cena, sucessivamente, por meio das quais a trama vai avançando. Em prol de
encapsular o máximo possível do livro, Howard sacrifica esses pequenos momentos
inspirados e termina com um todo formulaico, apressado e esquizofrênico.
Alfred Hitchcock, em suas brilhantes obras de antigamente, soube fazer muito, muito melhor.
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