Mais um exemplar do humor particular e idiossincrático
de Seth Rogen –que atua como produtor –“Vizinhos” é uma de suas empreitadas
mais bem-sucedidas, dirigido por Nicholas Stoller que também realizou “Ressaca de Amor” e “Sim, Senhor”, com Jim Carrey.
Seu tema gira em torno das lendárias festas das
irmandades universitárias norte-americanas que também serviam ao mote de “Dias Incríveis” e de incontáveis comédias adolescentes dos anos 1980, como “A
Vingança dos Nerds” e afins.
Seth Rogen interpreta Mac, um cidadão comum que
ao lado da esposa Kelly (a bela Rose Byrne) busca convencer a si mesmo que é um
homem realizado e feliz, naquele discurso motivacional de reafirmação que os
americanos empurram goela abaixo uns dos outros.
A crise de meia-idade de Mac –e a nostalgia
natural dos tempos de farra –ganham, dessa forma, uma personificação viva
quando muda-se para a casa ao lado uma irmandade universitária presidida pelo
jovem Teddy (Zac Efron), um líder atlético, carismático, descontraído e
festeiro –tudo o que Mac não é, ou em última instância, o que ele reprimiu
dentro de si em prol da vida adulta.
Entretanto, a reflexão no filme de Stoller não
se estende para tanto: O que Teddy proporciona aos seus vizinhos (após o
trivial período da adaptação onde tentativas de conciliação são tentadas e
superadas) são noites mal dormidas e aborrecimentos com o som alto que logo
progridem para incômodos ainda mais diretos.
De sua parte, o casal de adultos não se esforça
para ser mais responsável: Mac e Kelly inventam os planos mais mirabolantes
para minar a credibilidade de Teddy, inclusive, uma tentativa de fazê-lo romper
os laços com seu braço direito e melhor amigo, Pete (Dave Franco).
É quando o filme revela uma imprevista
compreensão de seus personagens: Se a primeira parte explorava as
incongruências crescentes entre os jovens e os (um pouco) mais velhos, sob o
prisma de uma sufocada crise de meia idade, na segunda, são as inseguranças de
Teddy que ganham expressão na narrativa, ao descobrirmos que, em sua inaptidão
intelectual, ela busca se fazer imprescindível através das festas de arromba
que promove, enquanto é obrigado a ver, um amigo seguido do outro, se afastar
rumo a uma vida adulta que para ele parece inacessível.
O lapso neste filme, contudo, é possuir esse
detalhe sempre proeminente em sua premissa (o de uma profundidade inesperada em
seus personagens assim revelada), mas nunca dele tirar o devido proveito.
O diretor Stoller –que, em “Ressaca de Amor”
soube tão bem trabalhar as inseguranças masculinas com seriedade e ternura em
contraste com um humor beirando ao chulo –aqui parece se contentar com as gafes
e confusões eventuais de estratagemas sucessivos engendrados por meros antagonistas
declarados. Acaba que até mesmo a química e a camaradagem genuína que se
percebe entre os personagens de Rogen e Efron –que leva o expectador a deduzir
que eventualmente ficarão amigos –não se mostra devidamente explorada na trama,
que segue por um desfecho abrupto, banal e pouco memorável.
Ainda assim, “Vizinhos” fez
lá seu sucesso graças aos improvisos constantes –uma característica de Seth
Rogen e sua turma –que nele geraram um humor desigual e as impagáveis situações
construídas nas tais festas universitárias que o cinema americano sempre soube
mostrar num viés folclórico que certamente não corresponde à realidade.
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