quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Vizinhos

Mais um exemplar do humor particular e idiossincrático de Seth Rogen –que atua como produtor –“Vizinhos” é uma de suas empreitadas mais bem-sucedidas, dirigido por Nicholas Stoller que também realizou “Ressaca de Amor” e “Sim, Senhor”, com Jim Carrey.
Seu tema gira em torno das lendárias festas das irmandades universitárias norte-americanas que também serviam ao mote de “Dias Incríveis” e de incontáveis comédias adolescentes dos anos 1980, como “A Vingança dos Nerds” e afins.
Seth Rogen interpreta Mac, um cidadão comum que ao lado da esposa Kelly (a bela Rose Byrne) busca convencer a si mesmo que é um homem realizado e feliz, naquele discurso motivacional de reafirmação que os americanos empurram goela abaixo uns dos outros.
A crise de meia-idade de Mac –e a nostalgia natural dos tempos de farra –ganham, dessa forma, uma personificação viva quando muda-se para a casa ao lado uma irmandade universitária presidida pelo jovem Teddy (Zac Efron), um líder atlético, carismático, descontraído e festeiro –tudo o que Mac não é, ou em última instância, o que ele reprimiu dentro de si em prol da vida adulta.
Entretanto, a reflexão no filme de Stoller não se estende para tanto: O que Teddy proporciona aos seus vizinhos (após o trivial período da adaptação onde tentativas de conciliação são tentadas e superadas) são noites mal dormidas e aborrecimentos com o som alto que logo progridem para incômodos ainda mais diretos.
De sua parte, o casal de adultos não se esforça para ser mais responsável: Mac e Kelly inventam os planos mais mirabolantes para minar a credibilidade de Teddy, inclusive, uma tentativa de fazê-lo romper os laços com seu braço direito e melhor amigo, Pete (Dave Franco).
É quando o filme revela uma imprevista compreensão de seus personagens: Se a primeira parte explorava as incongruências crescentes entre os jovens e os (um pouco) mais velhos, sob o prisma de uma sufocada crise de meia idade, na segunda, são as inseguranças de Teddy que ganham expressão na narrativa, ao descobrirmos que, em sua inaptidão intelectual, ela busca se fazer imprescindível através das festas de arromba que promove, enquanto é obrigado a ver, um amigo seguido do outro, se afastar rumo a uma vida adulta que para ele parece inacessível.
O lapso neste filme, contudo, é possuir esse detalhe sempre proeminente em sua premissa (o de uma profundidade inesperada em seus personagens assim revelada), mas nunca dele tirar o devido proveito.
O diretor Stoller –que, em “Ressaca de Amor” soube tão bem trabalhar as inseguranças masculinas com seriedade e ternura em contraste com um humor beirando ao chulo –aqui parece se contentar com as gafes e confusões eventuais de estratagemas sucessivos engendrados por meros antagonistas declarados. Acaba que até mesmo a química e a camaradagem genuína que se percebe entre os personagens de Rogen e Efron –que leva o expectador a deduzir que eventualmente ficarão amigos –não se mostra devidamente explorada na trama, que segue por um desfecho abrupto, banal e pouco memorável.
Ainda assim, “Vizinhos” fez lá seu sucesso graças aos improvisos constantes –uma característica de Seth Rogen e sua turma –que nele geraram um humor desigual e as impagáveis situações construídas nas tais festas universitárias que o cinema americano sempre soube mostrar num viés folclórico que certamente não corresponde à realidade.

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