Durante muito tempo, o público e os estúdios
acarinharam um projeto de uma versão cinematográfica para o cultuado seriado “A
Feiticeira” –ideia ainda mais promissora quando se tem no elenco uma atriz tão
competente e adequada ao papel tornado icônico por Elizabeth Montgomery como a
estrela Nicole Kidman.
Haviam outros elementos mais a favor do filme:
Não só a protagonista, como também o restante do elenco era perfeito; Will
Ferrell ocupando o lugar que seria de Dick York e Dick Sargent, os atores que
se revezaram no papel de par da feiticeira ao longo das temporadas da série; e
Shirley MacLane, como a mãe dela, também dotada de magia –além das presenças de
Michael Caine, Steve Carell, Jason Schwartzman, e outros. Para completar, a
realizadora escolhida para o projeto (Nora Ephron, sucesso de bilheterias com
as comédias românticas “Sintonia de Amor” e “Mensagem Para Você”) teve uma
ideia até que bastante esperta para a transposição para cinema –no contexto em
que o filme se passa, “A Feiticeira”, a série, existe realmente no mundo real. E
é de interesse às redes de televisão que seja feito um revival com novos
atores. Logo, a ganância de agentes e produtores dá novo rumo ao projeto; a
ideia é fazer dele um veículo para o esnobe e arrogante astro Jack Wyatt (que o
humor peculiar de Will Ferrell transforma num bufão egocêntrico, megalomaníaco
e irreal).
As audições em busca de uma intérprete para o
desafiador papel de feiticeira começam e logo esbarram na doce e ingênua Isabel
(cujos trejeitos, Nicole Kidman, sempre compenetrada, consegue igualar à
perfeição com os de Elizabeth Montgomery).
Entretanto, Jack e todos os demais à sua volta
estão por demais preocupados em enaltecer o astro que não notam um detalhe
inusitado –que Isabel é, realmente, uma feiticeira (!), daí seu encaixe
tremendamente intuitivo com a personagem (!).
Fascinada com o ator famoso que Jack é, ela
aceita o papel na série, tornando-se uma espécie de escada para ele. Contudo,
os meses de convívio com seu insuportável narcisismo irritam de tal maneira
Isabel que ela não tarda a usar de seus poderes para dar a ele o troco.
E entre uma rusga e outra, não só Jack descobre
a verdade acerca de Isabel, como também encontra um sentimento novo, de interesse
por outro alguém que não ele próprio.
Com uma premissa que, em si, rumava na direção
daquilo em que Nora Ephron é especialista –uma comédia romântica –era de se
presumir que, com tal elenco, e com uma ideia tão promissora, “A Feiticeira” resultasse,
senão notável, ao menos, gracioso, divertido e encantador (características que
bastam para comédias românticas se tornarem fenômenos de bilheteria), todavia,
não é bem isso que ocorre.
Repetitivo em muitos cacoetes que entregou com
mais brilho no passado, Will Ferrell tem um desempenho que lembra muito seu
machista e narcisista personagem em “O Âncora-A Lenda de Ron Borgondy”, e sem
um roteiro inteligente para contextualizá-lo, ele soa como tudo aquilo que é de
fato: Um personagem desprezível, mimado e grosseiro cujas manhas desmesuradas
não têm qualquer graça.
A própria Nicole Kidman, habituada a
personagens densas e desafiadoras, parece um pouco apagada aqui, numa
protagonista excessivamente inocente, romântica e banal, mesmo a ligeira
mudança que ela experimenta no decorrer do filme pouco acrescenta no sentido de
oportunidades para a atriz se impor.
No final das contas, a interessante premissa de
metalinguagem que dava o ponto de partida para esta versão cinematográfica de “A
Feiticeira” acabava levando a um equívoco que condenou todo o filme: Ao
reafirmar a série como um produto de ficção (e não a fantasia cativante que
capturou a atenção do público), a trama seguiu em direções completamente
distintas daquelas que faziam o divertimento dos episódios da série.
Um grande desperdício.
Nenhum comentário:
Postar um comentário