sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A Feiticeira

Durante muito tempo, o público e os estúdios acarinharam um projeto de uma versão cinematográfica para o cultuado seriado “A Feiticeira” –ideia ainda mais promissora quando se tem no elenco uma atriz tão competente e adequada ao papel tornado icônico por Elizabeth Montgomery como a estrela Nicole Kidman.
Haviam outros elementos mais a favor do filme: Não só a protagonista, como também o restante do elenco era perfeito; Will Ferrell ocupando o lugar que seria de Dick York e Dick Sargent, os atores que se revezaram no papel de par da feiticeira ao longo das temporadas da série; e Shirley MacLane, como a mãe dela, também dotada de magia –além das presenças de Michael Caine, Steve Carell, Jason Schwartzman, e outros. Para completar, a realizadora escolhida para o projeto (Nora Ephron, sucesso de bilheterias com as comédias românticas “Sintonia de Amor” e “Mensagem Para Você”) teve uma ideia até que bastante esperta para a transposição para cinema –no contexto em que o filme se passa, “A Feiticeira”, a série, existe realmente no mundo real. E é de interesse às redes de televisão que seja feito um revival com novos atores. Logo, a ganância de agentes e produtores dá novo rumo ao projeto; a ideia é fazer dele um veículo para o esnobe e arrogante astro Jack Wyatt (que o humor peculiar de Will Ferrell transforma num bufão egocêntrico, megalomaníaco e irreal).
As audições em busca de uma intérprete para o desafiador papel de feiticeira começam e logo esbarram na doce e ingênua Isabel (cujos trejeitos, Nicole Kidman, sempre compenetrada, consegue igualar à perfeição com os de Elizabeth Montgomery).
Entretanto, Jack e todos os demais à sua volta estão por demais preocupados em enaltecer o astro que não notam um detalhe inusitado –que Isabel é, realmente, uma feiticeira (!), daí seu encaixe tremendamente intuitivo com a personagem (!).
Fascinada com o ator famoso que Jack é, ela aceita o papel na série, tornando-se uma espécie de escada para ele. Contudo, os meses de convívio com seu insuportável narcisismo irritam de tal maneira Isabel que ela não tarda a usar de seus poderes para dar a ele o troco.
E entre uma rusga e outra, não só Jack descobre a verdade acerca de Isabel, como também encontra um sentimento novo, de interesse por outro alguém que não ele próprio.
Com uma premissa que, em si, rumava na direção daquilo em que Nora Ephron é especialista –uma comédia romântica –era de se presumir que, com tal elenco, e com uma ideia tão promissora, “A Feiticeira” resultasse, senão notável, ao menos, gracioso, divertido e encantador (características que bastam para comédias românticas se tornarem fenômenos de bilheteria), todavia, não é bem isso que ocorre.
Repetitivo em muitos cacoetes que entregou com mais brilho no passado, Will Ferrell tem um desempenho que lembra muito seu machista e narcisista personagem em “O Âncora-A Lenda de Ron Borgondy”, e sem um roteiro inteligente para contextualizá-lo, ele soa como tudo aquilo que é de fato: Um personagem desprezível, mimado e grosseiro cujas manhas desmesuradas não têm qualquer graça.
A própria Nicole Kidman, habituada a personagens densas e desafiadoras, parece um pouco apagada aqui, numa protagonista excessivamente inocente, romântica e banal, mesmo a ligeira mudança que ela experimenta no decorrer do filme pouco acrescenta no sentido de oportunidades para a atriz se impor.
No final das contas, a interessante premissa de metalinguagem que dava o ponto de partida para esta versão cinematográfica de “A Feiticeira” acabava levando a um equívoco que condenou todo o filme: Ao reafirmar a série como um produto de ficção (e não a fantasia cativante que capturou a atenção do público), a trama seguiu em direções completamente distintas daquelas que faziam o divertimento dos episódios da série.
Um grande desperdício.

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