Uma daquelas produções datadas do início dos
anos 1990 que ficaram mais conhecidas em homevideo do que em cinema, este filme
do diretor Michael Lindsay-Hogg faz uma curiosa observação entre os conceitos
de beleza e valor.
Pivô para esse olhar e esse discurso é uma
escultura em busto concebida pelo artista Henry Moore que movimenta toda a
trama.
Inicialmente, ele pertence à Tina (a inebriante
Andie MacDowell), socialite que a ganhou de presente do ex-marido.
Tina agora está envolvida com Jake (John
Malkovich), ao lado de quem quer desfrutar do bom e do melhor que a vida
burguesa pode oferecer.
Há também a criada e surda-muda Jenny (Rudi
Davies) que, em sua ignorância ingênua, dá o gatilho para as grandes
complicações da trama, e para o próprio infortúnio.
Acontece que Tina e Jake já não têm como manter
a vida de refinamento e conforto que tanto apreciavam. O dinheiro se foi. A
única garantia, permanece sendo o busto deixado para Tina, uma obra preciosa
cujo valor pode lhes preservar o patamar social.
Todavia, a estátua desaparece e tanto Jake
quanto Tina se desesperam por seu sumiço por distintas razões e propósitos.
Para Jake (cuja relação com Tina começa a ruir
por causa disso), é sua oportunidade de manter a vida de grã-fino que escapa
misteriosamente por seus dedos; para Tina, é a inesperadamente agridoce
lembrança do ex-marido (e estabilidade que outrora tinha) que se vai; já para
Jenny, despida dos interesses financeiros ali envolvidos, a obra de arte exerce
um fascínio a ela indescritível –de alguma forma, ela possui o poder de trazer
encanto para sua vida atribulada e miserável.
Aparentando uma referência
gaiata à “Esse Obscuro Objeto do Desejo”, de Luis Buñuel, em seu título
nacional, o filme de Lindsay-Hogg, em sua ostensiva sofisticação, se contenta
em oscilar entre uma comédia romântica, um ocasional drama sobre veleidades
perdidas e uma farsa quase inconsequente sobre as frivolidades apáticas da
burguesia e do materialismo.
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