Grande trabalho do diretor Frank Capra, este
magnífico conto de ironia e aventura sobre os percalços do destino é, de um
modo ou de outro, influente até hoje, seja no molde fundamental que representa
para o gênero das comédias românticas, seja na técnica assombrosamente
sofisticada que o diretor Capra empregou (e que lhe rendeu um merecido Oscar de
Melhor Direção), seja importância significativa que este filme tem para a
própria cultura pop –o personagem de Clark Gable, em seus trejeitos memoráveis
é a clara e declarada inspiração para Chuck Jones criar o coelho Pernalonga
(repare numa cena em que ele come uma cenoura!); e uma das cenas mais imitadas
da história do cinema é certamente aquela em que Claudette Colbert consegue
pegar carona parando um carro ao mostrar suas pernas!
Na trama deliciosamente narrada que segue,
temos a adorável e rebelde Ellie Andrews (a quem Claudette empresta genuíno fulgor),
filha de um milionário que se ressente por ela querer casar com um pretendente
que, em sua ótica, é um óbvio aproveitador.
Indignada com a falta de respeito por sua
própria escolha –o que já é um indicativo do quão a frente de seu tempo é este
filme ao incluir em sua premissa um esboço da emancipação da mulher –Ellie foge
de casa, metendo-se em mais confusões do que uma jovem de família rica sem
conhecimento do mundo é capaz de escapar.
Por sorte, Ellie não está sozinha: Logo, o
destino trata de entrelaça-la (a contragosto é bem verdade) com o desafortunado
jornalista Peter Warne (Gable, divertido, carismático e irrepreensível) que, na
aflição do desemprego generalizado daquela Grande Depressão, percebe que Ellie
pode representar uma história e tanto que lhe tire da rua da amargura.
Se hoje soa óbvio o fato de que no início os
pombinhos não se bicam, mas dentro em breve irão de apaixonar –e a implicância
sardônica entre eles parece autêntica porque Gable e Colbert de fato não se
deram bem durante as filmagens –é porque o enredo básico que constitui este filme
foi empregado e reempregado à exaustão por todas as comédias românticas que
vieram depois.
É seguro dizer que em nenhuma delas essa estrutura
narrativa funciona tão bem quanto nesta aqui: Das rusgas que se convertem em
encantos recíprocos; da descoberta acidental, salutar e transformadora do
verdadeiro amor, e do bem elaborado e divertido desenlace para os complicados
desdobramentos morais e éticos que os envolvem –e que certamente se estendem
até o jogo de interesses da fortuna da família da moça –o filme de Frank Capra
é um achado em todos os seus aspectos.
Tão singular é essa
qualidade que ele até hoje ocupa um lugar de honra entre os premiados com o
Oscar: Ao lado de outras duas obras-primas (“Um Estranho No Ninho” e “O Silêncio dos Inocentes”), ele é um dos três únicos filmes a conquistar todos os cinco
prêmios principais da Acdemia –Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator,
Melhor Atriz e Melhor Roteiro.
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