Parecia absurdo (e realmente era) que um filme
memorável e bem-sucedido como “Conan-O Bárbaro”, de 1982, tivesse se
restringido apenas a uma pífia continuação (“Conan-O Destruidor”, de 1984, além
de “Guerreiro de Fogo”, um derivado muito do sem-vergonha...).
A indústria até tentou compensar esse lapso
(tardiamente, é bem verdade) fazendo uma espécie de refilmagem em 2011. Melhor
dizendo: Fazendo uma nova versão do personagem, extraído de uma série de
quadrinhos da Marvel dos anos 1970, por sua vez, inspirados nos contos escritos
na década de 1930, pelo autor Robert E. Howard.
De fato, o personagem Conan, o Bárbaro, é tão
rico, marcante e antológico que é de se admirar a pouca atenção dada a ele na
cultura pop recente.
Parecia que, em 2011, isso estava prestes a ser
compensado. A produção tinha no comando o diretor especialista em videoclips,
Marcus Nispel que, se havia feito um trabalho entre o medíocre e o
constrangedor no reboot de “Sexta-Feira 13” e no épico “Desbravadores”, ao
menos havia entregado algo minimamente interessante na nova versão de “O
Massacre da Serra Elétrica”.
No papel principal outra boa notícia: Fora
escalado o samoano Jason Momoa (que então havia se destacado num papel menor na
série “Game Of Thrones”) e, embora Conan fosse um personagem intrinsecamente
relacionado à Arnold Schwarzenegger, as reações à escalação de Momoa foram
bastante positivas pela adequação de sua fisionomia ao personagem, sobretudo,
às suas caracterizações nos quadrinhos.
A expectativa, porém, é sempre uma faca de dois
gumes, e o filme que Nispel entregou naquele ano não equiparava o que alguns
fãs dele esperavam; compará-lo com a ótima realização de John Millis, de 1982,
então, era uma covardia.
Numa variação até razoável do que está nas HQs,
no filme original e do que é esboçado nos livros, a origem do personagem –que
ocupa os primeiros vinte minutos –se dá pelo massacre de seu povo, os cimérios,
perpetrado pelas tropas do maníaco Khalar Zym (o normalmente competente Stephen
Lang, aqui afetado), grande vilão da trama que praticamente substitui, sem o
mesmo peso dramático, o Thulsa Doom, de James Earl Jones, no filme de 82.
Conan, então um menino na ocasião, que inclusive
teve o pai (Ron Perlman) assassinado –numa sequência feita para ser original,
mas que resulta ridícula –passa o resto da vida em busca de vingança.
Anos depois (e já então personificado pela
presença bastante impressionante de Jason Momoa), Conan finalmente encontra uma
pista de Khalar Zym e parte em seu encalço; descobre assim que o vilão passou
as últimas décadas dedicado a encontrar um artefato místico, algo que pode
arremessar toda a Era Hiborana (o mundo imaginado por Robert E. Howard onde as
aventuras de Conan se passam) num reino de trevas.
Para cada boa decisão tomada pelo filme, há um
lapso que o compromete. Exemplo: Se foi bastante positivo manter-se mais fiel
às características originais do personagem do que no filme de 82 –um bárbaro selvagem,
porém, astuto e articulado na comparação ao guerreiro taciturno de
Schwarzenegger –o filme de Nispel ao mesmo tempo comete equívocos grotescos e
ginasianos ao coloca-lo em situações risíveis como o forçado enlace amoroso com
a jovem indefesa Tamara (Rachel Nichols, interpretando sem um pingo de boa
vontade).
Outro: Se por um lado a direção de Nispel
capricha no quesito visual (uma de suas especialidades, vide seu currículo),
incluindo o aproveitamento da tecnologia 3D (o sucesso “Avatar”, com o próprio Stephen
Lang no elenco, havia pegado o mundo de assalto há apenas dois anos), por
outro, seu roteiro é incapaz de conceber sequências tão extraordinariamente
memoráveis como aquelas que o filme de 82 entrega simultaneamente –todas
extraídas das HQs do personagem –o diálogo sobre o Enigma do Aço; a sequência
da Grande Roda da Dor; a cena da crucificação e outras.
Além disso, na ânsia por sagrar-se um sucesso
de bilheteria –e ser assim acessível a uma plateia de faixa etária o mais ampla
possível –o filme padece de uma auto-censura que o despe de todas as
singularidades do filme original, como sua audaciosa inclinação para a nudez,
para uma sexualidade e uma sanguinolência que soavam (e ainda soam) incomuns
nos filmes comerciais de aventura. Algumas cenas até embrincam nessa direção
desvanecendo em clichês muito antes de algum resultado válido aparecer na tela.
O filme de 2011, tão
promissor que era na oportunidade de recolocar nos cinemas um personagem que
merecia e merece a evidência da qual desfrutam hoje ícones como James Bond ou
Indiana Jones, padeceu perante um diretor que não soube manter a solidez
narrativa de seu filme, e principalmente um roteiro que revelou incompetência
absurda ao desperdiçar os conceitos e elementos riquíssimos que tinha a sua disposição.
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