sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Confronto Final

Quando estreou na TV brasileira lá pelos anos 1990, na novela “Renascer”, muitos foram aqueles que notaram no ator Jackson Antunes uma certa semelhança com o astro Charles Bronson. Pois eis que em 2005, o próprio Jackson Antunes se envolveu num projeto que abraçava essa semelhança com desavergonhado caráter referencial.
Escrito, dirigido e produzido por Alonso Gonçalvez –além de inúmeras outras funções devido à pobreza da produção –“Confronto Final” é nada mais que um thriller sobre o cidadão comum levado aos extremos da justiça com as próprias mãos; e, na premissa básica que assim adota, ele não faz nenhuma questão de esconder “Desejo de Matar” como seu modelo fundamental.
Falta ao diretor Alonso Gonçalvez (certamente amigo pessoal de Jackson Antunes para convencê-lo a embarcar numa canoa furada dessas!) compreender, porém, que o filme com Bronson tinha direção e roteiros tratados com um mínimo de zelo e elaboração, e também –o fato principal –era um produto até bastante incomum para sua época: Depois de seu lançamento, o conceito de “Desejo de Matar” (e o próprio filme em si, com suas continuações) passou a ser empregado com tanto desleixo e insistência (em certos casos, em obras que contavam com o próprio Charles Bronson!) que o enredo em torno de um homem comum convertido num improvável vigilante tornou-se banal e defasado.
É contra essas desvantagens atrozes (e outras mais) que caminha a trama (se é que assim se pode chamar) deste filme: O empresário e morador de Belo Horizonte –cidade que o prólogo didático e ginasiano mostra como um centro de criminalidade crescente –Marcos Ferrante (o próprio Jackson Antunes, prevalecendo sobre o elenco amador) acorda um belo dia e encontra sua casa de classe média alta arrombada.
Perplexo, ele pede auxílio à polícia (que, a exemplo da manjada cartilha do cinema comercial, se revela obtusa) e transforma sua moradia em uma fortaleza (enche a casa com alarmes e grades de segurança). Nada disso, porém, afasta a sensação terrível de que os criminosos podem voltar –e quando o fizerem, poderão perpetrar algum mal a sua mulher e filha.
Demora um pouco até o protagonista ceder ao óbvio: Sabemos que Marcos irá adotar uma atitude de justiceiro e providenciar, ele próprio, os meios para que retribua, devidamente armado, a violência dos bandidos. Todavia, o roteiro e a direção de Gonçalves parecem presumir que o público não sabe disso, e enrola a narrativa com situações que testam constantemente a paciência, incluindo a introdução de um núcleo mirabolante de vilões que não parecem ter qualquer relação com os criminosos aleatórios do início: São os próprios policiais encarregados do caso, mostrados como corruptos, que acabam voltando para atormentar a família de Marcos, quando um delegado se interessa –pasmem –por uma pintura de sua sala e, disposto a vendê-la para colecionadores, envia o vilanesco detetive Glayson (Rodrigo Signoretti, da dupla “Caju & Totonho”...) e outros capangas.
Eis a senha para o primeiro tiroteio do filme (que até demora um bocado para acontecer) onde podemos testemunhar a bizarrice extrema dos efeitos especiais de power point (!). E a coisa só piora quando o filme fica mais ambicioso e inventa de mostrar acidentes de carro, explosões a bomba (!!) e novos tiroteios.
Filmado em 16mm –o que lhe confere, do início ao fim, graças aos enquadramentos genéricos e rudimentares, uma constrangedora atmosfera de filme pornô –o filme de Alonso Gonçalvez, embora tenha lá suas boas intenções, deixa em evidência absoluta as condições de seu orçamento indigente.
Mas não se pode dizer que é uma experiência de todo perdida: No aspecto bizarro de sua desmazelada produção, na preguiça vergonhosa de seus diálogos clichês  e na atitude sorumbática de seu quase constrangido elenco, “Confronto Final” é involuntariamente um filme do qual se pode rir o tempo inteiro graças aos flagras contínuos de suas presepadas –predicado singular que faz dele uma das poucas obras capazes do ombrear o também absurdo “The Room”.

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