Quando estreou na TV brasileira lá pelos anos
1990, na novela “Renascer”, muitos foram aqueles que notaram no ator Jackson
Antunes uma certa semelhança com o astro Charles Bronson. Pois eis que em 2005,
o próprio Jackson Antunes se envolveu num projeto que abraçava essa semelhança
com desavergonhado caráter referencial.
Escrito, dirigido e produzido por Alonso
Gonçalvez –além de inúmeras outras funções devido à pobreza da produção –“Confronto
Final” é nada mais que um thriller sobre o cidadão comum levado aos extremos da
justiça com as próprias mãos; e, na premissa básica que assim adota, ele não
faz nenhuma questão de esconder “Desejo de Matar” como seu modelo fundamental.
Falta ao diretor Alonso Gonçalvez (certamente
amigo pessoal de Jackson Antunes para convencê-lo a embarcar numa canoa furada
dessas!) compreender, porém, que o filme com Bronson tinha direção e roteiros
tratados com um mínimo de zelo e elaboração, e também –o fato principal –era um
produto até bastante incomum para sua época: Depois de seu lançamento, o
conceito de “Desejo de Matar” (e o próprio filme em si, com suas continuações)
passou a ser empregado com tanto desleixo e insistência (em certos casos, em
obras que contavam com o próprio Charles Bronson!) que o enredo em torno de um
homem comum convertido num improvável vigilante tornou-se banal e defasado.
É contra essas desvantagens atrozes (e outras
mais) que caminha a trama (se é que assim se pode chamar) deste filme: O
empresário e morador de Belo Horizonte –cidade que o prólogo didático e
ginasiano mostra como um centro de criminalidade crescente –Marcos Ferrante (o
próprio Jackson Antunes, prevalecendo sobre o elenco amador) acorda um belo dia
e encontra sua casa de classe média alta arrombada.
Perplexo, ele pede auxílio à polícia (que, a
exemplo da manjada cartilha do cinema comercial, se revela obtusa) e transforma
sua moradia em uma fortaleza (enche a casa com alarmes e grades de segurança).
Nada disso, porém, afasta a sensação terrível de que os criminosos podem voltar
–e quando o fizerem, poderão perpetrar algum mal a sua mulher e filha.
Demora um pouco até o protagonista ceder ao
óbvio: Sabemos que Marcos irá adotar uma atitude de justiceiro e providenciar,
ele próprio, os meios para que retribua, devidamente armado, a violência dos
bandidos. Todavia, o roteiro e a direção de Gonçalves parecem presumir que o
público não sabe disso, e enrola a narrativa com situações que testam
constantemente a paciência, incluindo a introdução de um núcleo mirabolante de
vilões que não parecem ter qualquer relação com os criminosos aleatórios do
início: São os próprios policiais encarregados do caso, mostrados como
corruptos, que acabam voltando para atormentar a família de Marcos, quando um
delegado se interessa –pasmem –por uma pintura de sua sala e, disposto a
vendê-la para colecionadores, envia o vilanesco detetive Glayson (Rodrigo
Signoretti, da dupla “Caju & Totonho”...) e outros capangas.
Eis a senha para o primeiro tiroteio do filme
(que até demora um bocado para acontecer) onde podemos testemunhar a bizarrice
extrema dos efeitos especiais de power point (!). E a coisa só piora quando o
filme fica mais ambicioso e inventa de mostrar acidentes de carro, explosões a
bomba (!!) e novos tiroteios.
Filmado em 16mm –o que lhe confere, do início
ao fim, graças aos enquadramentos genéricos e rudimentares, uma constrangedora
atmosfera de filme pornô –o filme de Alonso Gonçalvez, embora tenha lá suas
boas intenções, deixa em evidência absoluta as condições de seu orçamento
indigente.
Mas não se pode dizer que é
uma experiência de todo perdida: No aspecto bizarro de sua desmazelada
produção, na preguiça vergonhosa de seus diálogos clichês e na atitude sorumbática de seu quase
constrangido elenco, “Confronto Final” é involuntariamente um filme do qual se
pode rir o tempo inteiro graças aos flagras contínuos de suas presepadas
–predicado singular que faz dele uma das poucas obras capazes do ombrear o
também absurdo “The Room”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário