sexta-feira, 3 de novembro de 2017

The Room

Tommy Wiseau –sobre quem muito pouco se sabe mais profundamente –tinha um sonho... ou algo parecido com um sonho! Ele queria publicar um livro onde contava uma história. Não conseguiu. Resolveu então criar uma peça de teatro baseada nessa história. Também não conseguiu. O quê ele conseguiu (sabe-se lá Deus como, embora existam teorias a respeito disso na Internet) foi fazer um filme!
Um filme no qual encarou as funções de ator principal, diretor, roteirista e produtor –e mais diversas outras funções visto a forma mambembe com que é realizado!
E não foi um filme qualquer: Quando foi parcamente lançado em meados de 2003, “The Room” tirou de “Plan 9 From de Outer Space”, de Ed Wood, o infame posto mantido há umas quatro décadas de pior filme de todos os tempos (!).
No papel do protagonista Johnny, Tommy Wiseau entrega algo incategorizável, que sequer pode ser chamado de má interpretação: Um personagem definido por arroubos inconstantes e bipolares, um sotaque bizonho e indefinível e um comportamento de tal maneira estranha e ininteligível que só resta ao expectador achar graça de tal figura.
Johnny é um banqueiro (e também é estiloso e sempre se veste com a mesma roupa preta...). Sua noiva é Lisa –talvez, a grande vilã da trama?... –e o filme desperdiça algumas cenas mostrando que ele nutre por ela amor incondicional. O sentimento, porém, não é tão recíproco: Lisa, que é ‘interpretada’ por Juliette Danielle com peculiar displicência, logo começa a trair Johnny com seu melhor amigo, Mark (Greg Sestero, amigo de Wiseau que assumiu o papel em cima da hora e não sabe bolhufas de atuação!). Lisa se comporta como uma dissimulada bipolar: Junto de Johhny repete todos os clichês da garota apaixonada. Longe dele, só sabe falar que sua vida é um tédio (!).
Por conta disso, estes personagens mergulham numa espiral de desilusão e relacionamentos pouco saudáveis.
A intercalar essa, que seria a trama principal, existem várias outras pequenas sub-tramas atreladas aos inúteis personagens secundários que aparecem (e que também desaparecem da mesma forma gaiata com que são introduzidos), essas sub-tramas, porém, nunca acrescentam coisa alguma ao todo, surgindo às vezes como um comentário casual (“Recebi os exames ontem, definitivamente acho que tenho câncer de mama...”) e ficando sem qualquer desenvolvimento.
Com o passar do tempo, uma parcela específica do público identificou em “The Room” algo que ia além do inconsistente e incoerente drama romântico pontuada de cenas de sexo (dessas que lembram a cafonice das produções soft-porn dos anos 1990) imaginado por Tommy Wiseau: Uma comédia involuntária, e das mais hilárias!
A grande razão para isso é a imensa ingenuidade de Wiseau como ator e como realizador –ele não tem e menor idéia do quê está fazendo, seja em frente ou atrás das câmeras! O roteiro escrito por ele estrutura os acontecimentos dramáticos, até mesmo trágicos, de maneira brega, a direção consegue ser rudimentar em seus melhores momentos –sem falar da nulidade completa de seus valores de produção, absolutamente ausentes –mas, a coisa se complica de verdade quando chegamos na questão do desempenho do elenco.
A começar pelo próprio Tommy Wiseau (afetado como você jamais verá em qualquer outra produção), o filme todo é um contra-exemplo de atuação: Não há um único integrante que consiga interpretar de maneira minimamente satisfatória,a ponto de certos elementos do roteiro ficarem assim meio nebuloso –alguns personagens, por exemplo, podem ou não serem retardados mentais, mas nunca fica claro, tal é a forma lesada com que se comportam em frente às câmeras.
É um filme todo errado, todo tosco, todo patético e sem noção, e por isso mesmo inevitavelmente hilariante –não há como levar a sério o que se passa em cena (exceto, Wiseau, ele pensa que está fazendo o maior filmaço da face da terra!).
O que ele fez, contudo, é hoje rotulado como o “Cidadão Kane” dos filmes ruins.

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