Tommy Wiseau –sobre quem muito pouco se sabe
mais profundamente –tinha um sonho... ou algo parecido com um sonho! Ele queria
publicar um livro onde contava uma história. Não conseguiu. Resolveu então
criar uma peça de teatro baseada nessa história. Também não conseguiu. O quê
ele conseguiu (sabe-se lá Deus como, embora existam teorias a respeito disso na
Internet) foi fazer um filme!
Um filme no qual encarou as funções de ator
principal, diretor, roteirista e produtor –e mais diversas outras funções visto
a forma mambembe com que é realizado!
E não foi um filme qualquer: Quando foi
parcamente lançado em meados de 2003, “The Room” tirou de “Plan 9 From de Outer
Space”, de Ed Wood, o infame posto mantido há umas quatro décadas de pior filme
de todos os tempos (!).
No papel do protagonista Johnny, Tommy Wiseau
entrega algo incategorizável, que sequer pode ser chamado de má interpretação:
Um personagem definido por arroubos inconstantes e bipolares, um sotaque bizonho
e indefinível e um comportamento de tal maneira estranha e ininteligível que só
resta ao expectador achar graça de tal figura.
Johnny é um banqueiro (e também é estiloso e
sempre se veste com a mesma roupa preta...). Sua noiva é Lisa –talvez, a grande
vilã da trama?... –e o filme desperdiça algumas cenas mostrando que ele nutre por
ela amor incondicional. O sentimento, porém, não é tão recíproco: Lisa, que é
‘interpretada’ por Juliette Danielle com peculiar displicência, logo começa a
trair Johnny com seu melhor amigo, Mark (Greg Sestero, amigo de Wiseau que
assumiu o papel em cima da hora e não sabe bolhufas de atuação!). Lisa se
comporta como uma dissimulada bipolar: Junto de Johhny repete todos os clichês
da garota apaixonada. Longe dele, só sabe falar que sua vida é um tédio (!).
Por conta disso, estes personagens mergulham
numa espiral de desilusão e relacionamentos pouco saudáveis.
A intercalar essa, que seria a trama principal,
existem várias outras pequenas sub-tramas atreladas aos inúteis personagens
secundários que aparecem (e que também desaparecem da mesma forma gaiata com
que são introduzidos), essas sub-tramas, porém, nunca acrescentam coisa alguma
ao todo, surgindo às vezes como um comentário casual (“Recebi os exames ontem,
definitivamente acho que tenho câncer de mama...”) e ficando sem qualquer
desenvolvimento.
Com o passar do tempo, uma parcela específica
do público identificou em “The Room” algo que ia além do inconsistente e
incoerente drama romântico pontuada de cenas de sexo (dessas que lembram a
cafonice das produções soft-porn dos anos 1990) imaginado por Tommy Wiseau: Uma
comédia involuntária, e das mais hilárias!
A grande razão para isso é a imensa ingenuidade
de Wiseau como ator e como realizador –ele não tem e menor idéia do quê está
fazendo, seja em frente ou atrás das câmeras! O roteiro escrito por ele
estrutura os acontecimentos dramáticos, até mesmo trágicos, de maneira brega, a
direção consegue ser rudimentar em seus melhores momentos –sem falar da
nulidade completa de seus valores de produção, absolutamente ausentes –mas, a
coisa se complica de verdade quando chegamos na questão do desempenho do
elenco.
A começar pelo próprio Tommy Wiseau (afetado
como você jamais verá em qualquer outra produção), o filme todo é um
contra-exemplo de atuação: Não há um único integrante que consiga interpretar
de maneira minimamente satisfatória,a ponto de certos elementos do roteiro
ficarem assim meio nebuloso –alguns personagens, por exemplo, podem ou não serem
retardados mentais, mas nunca fica claro, tal é a forma lesada com que se
comportam em frente às câmeras.
É um filme todo errado, todo tosco, todo
patético e sem noção, e por isso mesmo inevitavelmente hilariante –não há como
levar a sério o que se passa em cena (exceto, Wiseau, ele pensa que está
fazendo o maior filmaço da face da terra!).
O que ele fez, contudo, é
hoje rotulado como o “Cidadão Kane” dos filmes ruins.
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