Neste belíssimo trabalho realizado nos anos
1960, que inspirou “Jurassic Park”, o nome do diretor Jim O’ Conolly pesa menos
do que o do responsável pelos efeitos visuais, o lendário Ray Harryhausen,
considerado o mestre da técnica do stop-motion.
Superado pelo avanço implacável da computação
gráfica, o stop-motion era antes, desde os tempos áureos de George Mélies, a
forma primordial de se materializar criaturas fantásticas nas telas de cinema,
e o supervisor Ray Harryhausen foi certamente aquele que a elevou a um status
de arte: Suas composições tinham não apenas o registro do movimento em si, mas
a sutileza da caracterização, a percepção técnica e assombrosa dos demais
elementos dos filmes à sua volta, uma transfiguração crível e emocionante da
realidade plausível, como pode ser conferido em obras notáveis como “Jasão e O
Velo de Ouro”, “Fúria de Titãs” ou “Sinbad e O Olho do Tigre”.
Tudo isso está aqui em “O Vale Proibido” que ainda
oferece uma desigual e interessante junção de gêneros: O faroeste e o ‘filme de
monstros’ –uma mescla infinitamente mais bem realizada do que aquela que logrou
o diretor Jon Favrau, sob produção do próprio Spielberg, no mal fadado “Cowboys
& Aliens”.
Numa cidade do México, o outrora vigarista Tuck
Kirby (James Franciscus) retorna para rever a mulher que amou e que abandonou
em função de interesses mais práticos, a senhorita T. J. Breckenridge (Gila
Golan). Ela trabalha como artista numa apresentação que sucede uma encenação do
conflito entre cowboys e índios –o tipo de espetáculo que atraia multidões na
época do Velho Oeste.
Tuck quer levar TJ embora, mas ela não está
muito certa da confiança dele.
Champ (Richard Carlson), que tem por T.J. um
certo paternalismo, também não quer que ele vá, especialmente agora, que o
mexicano Carlos (Gustavo Rojo) obteve, ainda que sob protesto de uma anciã de
sua aldeia, um espécime que poderá render uma fortuna em seu show: Trata-se de
um pequeno eqüino, descendente dos cavalos atuais que remonta à Pré-História.
Mas, como é possível existir tal animal? Essa
dúvida leva Tuck e o pesquisador Professor Bromley (Laurence Naismith), assim como
T.J., Champ, Carlos e outros, a uma aventura onde encontram o chamado ‘Vale de
Gwangi’ onde todos os tipos de criaturas pré-históricas convivem –e onde os
efeitos visuais de Harryhausen têm então chance de explodir na tela,
fascinantes como raramente os efeitos computadorizados de hoje conseguem ser.
Lá, eles encontram Gwangi, um dinossauro da
espécie Alossauro (quase como um Tiranossauro Rex) que parece ser o grande
predador dominante do local e fonte da maioria das superstições dos aldeões
locais.
Como é sintomático à ganância dos homens, eles
o capturam e o levam para a cidade a fim de enriquecer exibindo-o em seus
shows, mas tal e qual clássico “King Kong”, Gwangi escapa e promove um
pandemônio na cidadezinha mexicana, levando a população a se refugiar no
interior de uma grande catedral.
Como em “King Kong”, o monstro é assim uma espécie
de vítima do próprio circo de interesses montado pelo ser humano e sua cobiça
sem fim. Gwangi só não inspira mais empatia por que não há, por exemplo, uma
conexão emocional maior entre ele e a mocinha Gila Golan, como ocorria com o
gorila gigante, mas a mensagem está lá: Ao entrar pela catedral em uma de suas
imensas portas –enquanto a população foge por outra –é Gwangi quem fica
prisioneiro e é ele, a despeito de sua ferocidade irrefreável, quem morre
desolado quando a catedral pega fogo.
O ser humano terminou sendo
para o monstro um perigo mortal.
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