terça-feira, 31 de outubro de 2017

O Vale Proibido

Neste belíssimo trabalho realizado nos anos 1960, que inspirou “Jurassic Park”, o nome do diretor Jim O’ Conolly pesa menos do que o do responsável pelos efeitos visuais, o lendário Ray Harryhausen, considerado o mestre da técnica do stop-motion.
Superado pelo avanço implacável da computação gráfica, o stop-motion era antes, desde os tempos áureos de George Mélies, a forma primordial de se materializar criaturas fantásticas nas telas de cinema, e o supervisor Ray Harryhausen foi certamente aquele que a elevou a um status de arte: Suas composições tinham não apenas o registro do movimento em si, mas a sutileza da caracterização, a percepção técnica e assombrosa dos demais elementos dos filmes à sua volta, uma transfiguração crível e emocionante da realidade plausível, como pode ser conferido em obras notáveis como “Jasão e O Velo de Ouro”, “Fúria de Titãs” ou “Sinbad e O Olho do Tigre”.
Tudo isso está aqui em “O Vale Proibido” que ainda oferece uma desigual e interessante junção de gêneros: O faroeste e o ‘filme de monstros’ –uma mescla infinitamente mais bem realizada do que aquela que logrou o diretor Jon Favrau, sob produção do próprio Spielberg, no mal fadado “Cowboys & Aliens”.
Numa cidade do México, o outrora vigarista Tuck Kirby (James Franciscus) retorna para rever a mulher que amou e que abandonou em função de interesses mais práticos, a senhorita T. J. Breckenridge (Gila Golan). Ela trabalha como artista numa apresentação que sucede uma encenação do conflito entre cowboys e índios –o tipo de espetáculo que atraia multidões na época do Velho Oeste.
Tuck quer levar TJ embora, mas ela não está muito certa da confiança dele.
Champ (Richard Carlson), que tem por T.J. um certo paternalismo, também não quer que ele vá, especialmente agora, que o mexicano Carlos (Gustavo Rojo) obteve, ainda que sob protesto de uma anciã de sua aldeia, um espécime que poderá render uma fortuna em seu show: Trata-se de um pequeno eqüino, descendente dos cavalos atuais que remonta à Pré-História.
Mas, como é possível existir tal animal? Essa dúvida leva Tuck e o pesquisador Professor Bromley (Laurence Naismith), assim como T.J., Champ, Carlos e outros, a uma aventura onde encontram o chamado ‘Vale de Gwangi’ onde todos os tipos de criaturas pré-históricas convivem –e onde os efeitos visuais de Harryhausen têm então chance de explodir na tela, fascinantes como raramente os efeitos computadorizados de hoje conseguem ser.
Lá, eles encontram Gwangi, um dinossauro da espécie Alossauro (quase como um Tiranossauro Rex) que parece ser o grande predador dominante do local e fonte da maioria das superstições dos aldeões locais.
Como é sintomático à ganância dos homens, eles o capturam e o levam para a cidade a fim de enriquecer exibindo-o em seus shows, mas tal e qual clássico “King Kong”, Gwangi escapa e promove um pandemônio na cidadezinha mexicana, levando a população a se refugiar no interior de uma grande catedral.
Como em “King Kong”, o monstro é assim uma espécie de vítima do próprio circo de interesses montado pelo ser humano e sua cobiça sem fim. Gwangi só não inspira mais empatia por que não há, por exemplo, uma conexão emocional maior entre ele e a mocinha Gila Golan, como ocorria com o gorila gigante, mas a mensagem está lá: Ao entrar pela catedral em uma de suas imensas portas –enquanto a população foge por outra –é Gwangi quem fica prisioneiro e é ele, a despeito de sua ferocidade irrefreável, quem morre desolado quando a catedral pega fogo.
O ser humano terminou sendo para o monstro um perigo mortal.

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