O fato de
ter entregado, já em seu primeiro filme, uma das grandes obras do cinema com
“Um Sonho de Liberdade” foi, de certa maneira, um fantasma que assombrou a
carreira do diretor Frank Darabont: Isso estabeleceu para todos os seus
trabalhos posteriores um patamar altíssimo e injusto com o qual serem
comparados.
E Darabont
certamente sentiu essa pressão, prova disso é que seu filme imediatamente
seguinte partilhava de várias características em comum com aquela que é (e que
sempre vai ser) sua obra-prima: “À Espera de Um Milagre” era, também ele,
adaptado de uma obra de Stephen King –que, ao contrário de “Um Sonho de
Liberdade” flerta mais abertamente com seus artifícios sobrenaturais –e também
tinha como ambientação as paredes opressoras de uma prisão no Maine, desta vez,
o corredor da morte ou, como os próprios presos costumam chamar “a milha verde”
–como o título original “The Green Mile”.
Darabont
ainda adicionou à mistura a presença protagonista de Tom Hanks, mas (embora o
filme seja muito querido por uma boa parcela do público) ele não chega nem
perto de se equiparar a altíssima qualidade de “Um Sonho de Liberdade”.
Mas, é um
belo filme.
Desta vez,
deixando o ponto de vista dos prisioneiros para adotar o dos guardas
carcerários (Tom Hanks interpreta o papel de chefe deles, como logo é informado
no início, quando um flashback começa a resgatar a história), o filme de
Darabont registra a rotina dos guardas que trabalharam no corredor da morte nos
anos 1930. Eles vivem a atroz rotina de conviver com os condenados à cadeira
elétrica, uns ironicamente dóceis e afáveis, outros, psicóticos e estranhos. O
grupo de guardas (que além de Hanks, inclui David Morse, Barry Peper, de “O
Resgate do Soldado Ryan”, Jeffrey DeMunn, de “Cidadão X” e Doug Hutchison, ator
que teve uma breve e memorável presença na série “Arquivo X”) tem uma série de
comportamentos e atitudes específicas por meio das quais conseguem conviver
(com os prisioneiros, inclusive) numa certa harmonia diante do peso mórbido e
obscuro da natureza daquele trabalho.
Há,
portanto, uma novidade desestabilizadora quando eles recebem John Coffey, um
gigantesco prisioneiro (Michael Clarke Duncan, um achado) condenado à cadeira
elétrica pelo brutal assassinato de duas meninas. O novo detento, entretanto
(apesar do tamanho descomunal) em nada parece um criminoso; Coffey tem o
comportamento amável, tímido e por vezes diz ter medo do escuro.
No
entanto, o quê o chefe da carceragem, um tanto perplexo, logo descobrirá, é que
Coffey é um anjo de Deus na Terra, e que tem os dons de curar os males das
pessoas, incluindo o câncer que consome a vida da benevolente esposa do diretor
da prisão (James Cronwell). Mas, Coffey está condenado à morte.
É então um
dilema existencial e tanto que o filme de Darabont propõe ao personagem de
Hanks –e, por conseqüência, devido à insuspeita capacidade do ator em obter
identificação, ao expectador também: Permitir que um anjo capaz curar muitos
males com suas habilidades seja morto pelas leis corruptíveis dos homens ou
tentar algo para salvá-lo? Mesmo que ele próprio esteja disposto à encarar o
corredor da morte; na interpretação emotiva e emocionada de Clarke Duncan,
Coffey é como uma criança ferida em sua inocência, ávida por regressar para o
céu onde não precisará testemunhar a crueldade diária dos homens aqui na terra.
Por isso, por sua pouco econômica
carga dramática e por sua capacidade invulgar de, por vezes, levar os
expectadores às lágrimas, “À Espera de Um Milagre” é, apesar do lugar
secundário que ocupa na filmografia de Darabont, um melodrama celebrado.
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