Após um primeiro filme notável, a saga do
samurai cego prosseguiu numa nova aventura, desta vez dirigida por Kazuo Mori (mesmo
diretor de “A Ameaça Cega”, de 1960,
obra que em muito influenciou “Zatoichi”), substituindo o especialista Kenji Misumi.
Entretanto, não se percebem maiores diferenças de estilo: Ambos são artesãos
cuja técnica absorve com propriedade e competência as características do
chambara realizado na época.
Ao conceber este segundo filme, os
realizadores, sobretudo, no que tange ao roteiro, criaram um filme que permite
duas impressões bem distintas: De um lado temos a trama aparentemente
independente deste filme, tornando-o uma história tão individual quanto o
primeiro filme o teria sido, mostrando Zatoichi regressando a uma cidade
conhecida, e arrumando lá suas encrencas que terminam exigindo dele sua perícia
com a espada –e que por ele ser cego, surpreende a muitos.
Por outro lado, porém, o novo filme é pontuado
de pequenos detalhes (todos prováveis de passarem despercebidos dos menos
atentos) que remetem à elementos da trama do primeiro filme, como a promessa de
Zatoichi feita ao samurai que ele derrotou no clímax, ou alguns personagens que
reaparecem para tentar novamente confrontá-lo.
A trama que move este filme se inicia realmente
quando Zatoichi (ainda Shintaro Katsu), agindo como massagista, atende a um
senhor de um clã que, durante a sessão de massagem, se mostra infantil e
risonho, acometido de uma espécie de loucura.
O clã não deseja que tal informação acerca de
seu senhor se espalhe minando a imagem respeitosa de seus guerreiros e decidem
assim eliminar Zatoichi tomando-o por um mero massagista cego comum.
Bastam alguns embates, porém, para o clã
perceber que trata-se do mesmo espadachim que tem sido mencionado no clamor
popular a respeito da grande batalha
ocorrida um ano antes entre os clãs Iioka e Sasagawa –correspondente aos
eventos do primeiro filme.
O filme de Kazuo Mori, no entanto, passeia por
várias outras circunstâncias, de maneira que essa trama principal, a espinha
dorsal do filme, aparece até bem tarde: O começo, por exemplo, se ocupa de uma
série de situações que levam Zatoichi a ser reconhecido por outros jovens
guerreiros, levando a um encontro com o samurai sem braço Nagisa (Tomisaburô
Wakayama, de “O Lobo Solitário”), permitindo assim a descoberta de maiores
informações do passado do herói –uma vez que o primeiro filme foi demasiado
econômico nesse aspecto, optando por uma apresentação plena de mistério à
exemplo dos protagonistas de faroeste.
Bastante ágil e divertido,
e deveras prudente em não cansar o público na escolha de seus enxutos setenta e
um minutos de duração, a nova aventura aproveita para corrigir pequenos
equívocos de execução da ótima obra anterior e planta deliberados elementos que
o tornam uma continuação propriamente dita –detalhes cujo entendimento depende
do conhecimento prévio do primeiro filme –numa manobra muito consciente do quão
longe os realizadores estavam dispostos a levar a saga de seu protagonista.
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