O astro Shintaro Katsu interpretou o lendário
samurai cego Zatoichi por cerca de 16 anos ao longo de 22 filmes –e atrelou seu
próprio nome de tal forma ao personagem que, depois disso, foi protagonista,
produtor e diretor de uma série de TV sobre ele.
Este filme é o ponto de partida de tal
trajetória, ao introduzir o personagem num embate de yakuzas ancestrais no
período do xogunato, quando as lideranças no Japão se polarizavam entre clãs
que determinavam as leis –e reservavam a si o privilégio de burlá-las.
Zatoichi chega à uma aldeia assolada por essas
condições, recrutado por Iioka, um dos chefes yakuza do lugarejo. Iioka viu a
habilidade com a espada de Zatoichi e sabe de seu valor como samurai a despeito
do descrédito de seus homens; para quem Zatoichi não passa de um cego enganador
(ele lhes levou todo o dinheiro com um golpe bem engendrado onde lhes passou a
perna).
Enquanto hospeda Zatoichi com tudo do bom e do
melhor –presumindo que isso baste para que fique ao seu lado –Iioka aguarda por
um conflito iminente.
Curioso como nesse sentido, no de negociar
paulatinamente e sem constrangimentos o preço de sua espada, o protagonista
lembra menos um samurai nas facetas tão honradas e nobres com as quais o cinema
japonês buscou retrata-los, e mais um cidadão japonês de uma visão voltada para
o futuro capitalista que, nos séculos vindouros, a nação estava prestes a
abraçar.
Mas, voltando à história do filme: Do outro
lado, da trincheira, por assim dizer, o chefe do clã rival, Sasagawa, também
contratou um samurai de grande renome: Trata-se de Hirate (Shigeru Amachi), de
quem ironicamente Zatoichi se torna amigo.
Zatoichi também percebe nele os sintomas
avassaladores da tuberculose, doença de dizimou muitos, mas Hirate não deseja
partir por meio da doença: Antes disso, não obstante a profunda camaradagem que
construíram, ele deseja a honra de enfrentar (e, quem sabe, vencer) um samurai
da estatura de Zatoichi.
As gaiatas sub-tramas que
capturam a personalidade incorrigível e corruptível dos membros de ambas as
facções da yakuza pouco acrescentam ao todo, exceto no que tange ao elemento do
alívio cômico. O diretor Kenji Mizumi, no entanto, é habilidoso o suficiente
para saber como enfatizar os aspectos primorosos de verdade do filme, e
construir um suspense em relação ao embate final que vai sendo sedimentado ao
longo da trama que se desenvolve em meio a essas vicissitudes corriqueiras.
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