segunda-feira, 13 de maio de 2019

O Conto de Zatoichi

O astro Shintaro Katsu interpretou o lendário samurai cego Zatoichi por cerca de 16 anos ao longo de 22 filmes –e atrelou seu próprio nome de tal forma ao personagem que, depois disso, foi protagonista, produtor e diretor de uma série de TV sobre ele.
Este filme é o ponto de partida de tal trajetória, ao introduzir o personagem num embate de yakuzas ancestrais no período do xogunato, quando as lideranças no Japão se polarizavam entre clãs que determinavam as leis –e reservavam a si o privilégio de burlá-las.
Zatoichi chega à uma aldeia assolada por essas condições, recrutado por Iioka, um dos chefes yakuza do lugarejo. Iioka viu a habilidade com a espada de Zatoichi e sabe de seu valor como samurai a despeito do descrédito de seus homens; para quem Zatoichi não passa de um cego enganador (ele lhes levou todo o dinheiro com um golpe bem engendrado onde lhes passou a perna).
Enquanto hospeda Zatoichi com tudo do bom e do melhor –presumindo que isso baste para que fique ao seu lado –Iioka aguarda por um conflito iminente.
Curioso como nesse sentido, no de negociar paulatinamente e sem constrangimentos o preço de sua espada, o protagonista lembra menos um samurai nas facetas tão honradas e nobres com as quais o cinema japonês buscou retrata-los, e mais um cidadão japonês de uma visão voltada para o futuro capitalista que, nos séculos vindouros, a nação estava prestes a abraçar.
Mas, voltando à história do filme: Do outro lado, da trincheira, por assim dizer, o chefe do clã rival, Sasagawa, também contratou um samurai de grande renome: Trata-se de Hirate (Shigeru Amachi), de quem ironicamente Zatoichi se torna amigo.
Zatoichi também percebe nele os sintomas avassaladores da tuberculose, doença de dizimou muitos, mas Hirate não deseja partir por meio da doença: Antes disso, não obstante a profunda camaradagem que construíram, ele deseja a honra de enfrentar (e, quem sabe, vencer) um samurai da estatura de Zatoichi.
As gaiatas sub-tramas que capturam a personalidade incorrigível e corruptível dos membros de ambas as facções da yakuza pouco acrescentam ao todo, exceto no que tange ao elemento do alívio cômico. O diretor Kenji Mizumi, no entanto, é habilidoso o suficiente para saber como enfatizar os aspectos primorosos de verdade do filme, e construir um suspense em relação ao embate final que vai sendo sedimentado ao longo da trama que se desenvolve em meio a essas vicissitudes corriqueiras.

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