segunda-feira, 13 de maio de 2019

Os Trapalhões Na Serra Pelada

O estilo de J.B. Tanko –provavelmente o melhor diretor a passar pelo crivo de filmes feitos pelos Trapalhões nos anos 1980 –prima pela busca por um certo realismo regional, no qual imerge a encenação à realidade presente, obtendo não raro um resultado encantador (como a interação do elenco de “Saltimbancos Trapalhões” com pessoas da platéia).
Ao contrário da produção de 2013, “Serra Pelada”, de Heitor Dhalia, em cujos ombros repousa um certo mérito pela reconstituição esmerada, o filme de Tanko, em 1982, capturou as cenas do formigueiro humano da Serra Pelada onde tudo aquilo realmente aconteceu e no período em que aquilo realmente aconteceu, permitindo ao filme, apesar de suas aspirações comerciais mais singelas, o privilégio de registrar, em estado bruto, um acontecimento.
E Tanko se mostra consciente disso ao registrar essa realidade com imodestas panorâmicas de câmera que acompanham –em primeiro plano –os protagonistas de seu filme infiltrados entre legiões intermináveis de mineradores. Uma imagem que não faz feio em comparação com cenas envolvendo centenas de figurantes em qualquer épico antigo hollywoodiano.
Neste filme, os quatro humoristas, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, vivem personagens distintos daqueles pelos quais ficaram conhecidos –um hábito que eles foram abandonando filme a filme, optando pelo conforto e a facilidade de independente da trama continuarem sendo eles mesmos.
Sendo assim, eles são Curió (Didi, ou Renato Aragão), Boroca (Dedé), Melexete (Mussum) e Bateia (Zacarias), quatro amigos sem eira nem beira que chegam à Serra Pelada alimentados, como tantos, pelo sonho da riqueza instantânea.
Encontram, em vez disso, a dura realidade da exploração: Aliciados pelos capangas do coronel local, eles devem a eles 30% de tudo que encontrarem, além da obrigação que venderem exclusivamente para eles todo o restante, pelo preço que eles determinarem; e que dificilmente haverá de cobrir suas despesas com comida (!).
A saída para os Trapalhões é a galhofa: Ao acharem, por acaso, um veio abundante de ouro, os quatro põem o pé na estrada junto de sua carga antes que sejam roubados.
Não adianta: Na primeira parada, num boteco das redondezas, eles são surrupiados!
Sem o ouro com o qual pagariam a festança que promoveram, resta aos Trapalhões lavar louça e trabalhar no local por tempo indeterminado.
E aí o filme de Tanko abandona um pouco a trama que parecia querer abraçar no início para evocar algo mais trivial aos Trapalhões: Eles são envolvidos numa disputa territorial envolvendo o insípido vilão da vez contra um fazendeiro mais benevolente e seu filho altivo e destemido, vivido por Gracindo Júnior, ao lado de quem os Trapalhões resolvem ficar.
Nessa deixa, o diretor Tanko –cuja narrativa se mostra visivelmente menos entusiasmada do que no início –aproveita para fazer ótimas referências às convenções do faroeste.
O enaltecimento desmedido ao Exército Militar feito pelo roteiro no trecho final se deve à intervenção do Conselho de Segurança Nacional, visto que só liberaram o filme e algumas das cenas gravadas na Serra Pelada sob tais condições.
Embora não tenha o ritmo normalmente irrequieto das produções anteriores do quarteto, “Os Trapalhões Na Serra Pelada” é uma realização admirável por seu senso de oportunidade e improviso ao colocar o humor chapliniano dos Trapalhões naquele contexto bem brasileiro visto em sua primeira meia hora.

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