O estilo de J.B. Tanko –provavelmente o melhor
diretor a passar pelo crivo de filmes feitos pelos Trapalhões nos anos 1980
–prima pela busca por um certo realismo regional, no qual imerge a encenação à
realidade presente, obtendo não raro um resultado encantador (como a interação
do elenco de “Saltimbancos Trapalhões” com pessoas da platéia).
Ao contrário da produção de 2013, “Serra
Pelada”, de Heitor Dhalia, em cujos ombros repousa um certo mérito pela
reconstituição esmerada, o filme de Tanko, em 1982, capturou as cenas do
formigueiro humano da Serra Pelada onde tudo aquilo realmente aconteceu e no
período em que aquilo realmente aconteceu, permitindo ao filme, apesar de suas
aspirações comerciais mais singelas, o privilégio de registrar, em estado
bruto, um acontecimento.
E Tanko se mostra consciente disso ao registrar
essa realidade com imodestas panorâmicas de câmera que acompanham –em primeiro
plano –os protagonistas de seu filme infiltrados entre legiões intermináveis de
mineradores. Uma imagem que não faz feio em comparação com cenas envolvendo
centenas de figurantes em qualquer épico antigo hollywoodiano.
Neste filme, os quatro humoristas, Didi, Dedé,
Mussum e Zacarias, vivem personagens distintos daqueles pelos quais ficaram
conhecidos –um hábito que eles foram abandonando filme a filme, optando pelo
conforto e a facilidade de independente da trama continuarem sendo eles mesmos.
Sendo assim, eles são Curió (Didi, ou Renato
Aragão), Boroca (Dedé), Melexete (Mussum) e Bateia (Zacarias), quatro amigos
sem eira nem beira que chegam à Serra Pelada alimentados, como tantos, pelo
sonho da riqueza instantânea.
Encontram, em vez disso, a dura realidade da
exploração: Aliciados pelos capangas do coronel local, eles devem a eles 30% de
tudo que encontrarem, além da obrigação que venderem exclusivamente para eles
todo o restante, pelo preço que eles determinarem; e que dificilmente haverá de
cobrir suas despesas com comida (!).
A saída para os Trapalhões é a galhofa: Ao
acharem, por acaso, um veio abundante de ouro, os quatro põem o pé na estrada
junto de sua carga antes que sejam roubados.
Não adianta: Na primeira parada, num boteco das
redondezas, eles são surrupiados!
Sem o ouro com o qual pagariam a festança que
promoveram, resta aos Trapalhões lavar louça e trabalhar no local por tempo
indeterminado.
E aí o filme de Tanko abandona um pouco a trama
que parecia querer abraçar no início para evocar algo mais trivial aos
Trapalhões: Eles são envolvidos numa disputa territorial envolvendo o insípido
vilão da vez contra um fazendeiro mais benevolente e seu filho altivo e
destemido, vivido por Gracindo Júnior, ao lado de quem os Trapalhões resolvem
ficar.
Nessa deixa, o diretor Tanko –cuja narrativa se
mostra visivelmente menos entusiasmada do que no início –aproveita para fazer
ótimas referências às convenções do faroeste.
O enaltecimento desmedido ao Exército Militar
feito pelo roteiro no trecho final se deve à intervenção do Conselho de
Segurança Nacional, visto que só liberaram o filme e algumas das cenas gravadas
na Serra Pelada sob tais condições.
Embora não tenha o ritmo
normalmente irrequieto das produções anteriores do quarteto, “Os Trapalhões Na
Serra Pelada” é uma realização admirável por seu senso de oportunidade e
improviso ao colocar o humor chapliniano dos Trapalhões naquele contexto bem
brasileiro visto em sua primeira meia hora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário