A filmografia Makoto Shinkai tem um teor mais
dramático e comiserativo do que é o normal no já bastante desigual estilo da
animação japonesa. Poucas obras (mesmo as live-action sérias e adultas)
conseguem igualar o nível de intensa melancolia que ele obtém aqui, nesta
dolorosa fábula sobre o efeito corrosivo do tempo sobre o bem-querer dos
relacionamentos.
O título faz referência à velocidade com que a
pétala de uma flor de cerejeira chega ao chão quando se desprende de sua árvore
–uma analogia, quem sabe, da efemeridade das vidas humanas.
Há algo de singular e terno na relação entre
Takaki e Akari, na primeira das três partes que integram este filme –separadas
narrativamente por esquetes quase como episódios de uma série de TV.
Eles são jovens estudantes num enlace amoroso
do qual a narrativa não tem ressalvas em tornar cúmplice o expectador; esse
efeito enternecedor será potencializado logo mais, quando ela haverá de
mudar-se para outra cidade.
A distância irá contaminar esse amor, fazendo-o
desvanecer?
As tentativas para que os dois jovens
enamorados permaneçam juntos continua de ambas as partes, comovendo com
facilidade o expectador, enquanto os obstáculos –numa aparente aleatoriedade
sádica –se acumulam para separá-los. Logo, Takaki também se muda para outra
cidade tornando a continuidade do relacionamento com Akari ainda mais
improvável.
A segunda parte salta alguns anos para mostrar ambos
em outra etapa da vida –agora mais velhos, a beira dos dezoito anos –e
introduzir uma terceira protagonista, Kanae, também ela apaixonada por Takaki e
também desejosa de encontrar sua própria felicidade.
Neste trecho a narrativa de Makoto Shinkai se torna
ainda mais dúbia e nebulosa do que vinha sendo a fim de revelar o mínimo
necessário através de suas narrações elípticas. Tornando cada nova informação,
que poderia ser óbvia em outras circunstâncias, de um imprevisto flagrante.
Assim, chegamos à quase desoladora terceira
parte, onde compreendemos que o diretor não queria falar de romance
propriamente dito, mas de como as trajetórias da vida por vezes representam
barreiras existenciais para esses romances tão idealizados acontecer.
Nela, a vida adulta desses três personagens tão
esperançosos tomou um rumo onde vemos evidenciada sua solidão, intensificada
pelas lembranças de uma fugaz chance de alegria e amor. Lembranças que então se
perdem no tempo e no esquecimento.
A contundência dramática que ele impõe aos
percalços sentimentais de seus personagens chega a impressionar pela
austeridade inclemente que falta até mesmo em obras norte-americanas de cunho
mais adulto ao tratar o realismo dos relacionamentos modernos..
A vida, na visão
intransigente e minimalista de Makoto Shinkai, é um dura sucessão de tristeza e
desilusão acometida por instantes de felicidade aos quais seus protagonista têm
o heroísmo e a dignidade de tentar se agarrar.
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