A cena inicial –um close no amarelo vivo das
labaredas de uma fogueira –já deixa bem evidente o maior orgulho da produção:
Este é o primeiro filme realizado em cores da série do famoso samurai cego.
É também o filme onde, de certa forma, seus
paradigmas se vêem todos estabelecidos em meio ao panorama do cinema comercial
japonês de então; não é para qualquer protagonista, afinal, chegar ao seu
terceiro filme –e Zatoichi teria, nesse sentido, uma longa trajetória, na casa
de duas dezenas de longa-metragens e uma série nos anos 1970, estrelada pelo
mesmo Shintaro Katsu cuja atuação cheia de inventividade e travessura tornou
tão célebre o personagem.
A começar o filme numa cena de embate que não
necessariamente tem maiores ligações com o restante da trama –características
que “Zatoichi” começava a absorver de filmes ocidentais como os de “007” –temos
o samurai cego saindo de um bar e sendo cercado por três inimigos. Eles o
reconheceram como o espadachim que matou Kanbei (nos filmes anteriores) e querem
o prêmio por sua cabeça. Ali mesmo Zatoichi os fulmina com sua habilidade.
Dirigido pelo hábil Tokuzo Tanaka (do magnífico
“A Traição”), o filme que se inicia a partir daí revela Zatoichi em regresso ao
lugar onde cresceu –uma atitude que ele já vinha esboçando nos outros filmes
–e, nesse percurso, a narrativa constrói uma sucessão episódica de eventos que
já o relacionaria tematicamente com os primorosos filmes do “Lobo Solitário”,
caso a adição de cores também já não os tivesse deixado tão visualmente
parecidos.
Nessa esteira, Zatoichi cruza-se com um amigo
de infância, pobre cancioneiro de estrada, com quem vai brindar o reencontro
num bar. O lugar é assaltado e, numa postura bem japonesa, Zatoichi evita de
lutar com os ladrões a fim de poupar os inocentes presentes.
Mas, persegue a quadrilha até obriga-los, bem
como o chefe de seu clã, a ressarcir os infelizes roubados.
Devido aos acontecimentos vistos nos dois
outros filmes, a fama de Zatoichi o precede, e será dessa forma que ele será
encontrado pelo próprio irmão de Kanbei, também ele disposto a desafia-lo para
um duelo.
Duelo este que acaba interrompido por Banno
(Sezaburo Kawazui), outrora o mestre espadachim de Zatoichi.
Ele hospeda Zatoichi em sua casa, onde mora
também sua irmã, Yayoi (Mikiko Tsubouchi) que Banno almeja casar logo de uma
vez, mesmo que seja com um homem que ela não ama –aos poucos, porém, Zatoichi e
a moça desenvolvem uma ligação afetiva, crucial para os desdobramentos futuros.
Embora ostente uma postura de ombridade e
honra, Banno não deixa de fazer conluios questionáveis com guerreiros menos
favorecidos, os espadachins de Mito Tengu, um dos bandos responsáveis pelo
roubo que o próprio Zatoichi deteve no início. O que significa que uma colisão
entre Zatoichi e seu próprio mestre Banno será inevitável, como vai
pavimentando paulatinamente a narrativa ao arquitetar com alguma desenvoltura
os rumos argumentativos e as motivações pessoais nessa determinada direção,
mesmo tendo Zatoichi prometido a Yayoi, num ímpeto apaixonado (algo que não
combina tanto assim com o personagem), que nunca mais pegaria numa espada.
Dirigido com bastante
personalidade por Tokuzo Takana (que se vale do jogo de cores inovador na série
para agregar valores simbólicos), porém, roteirizado por Minoru Inuzuka com uma
certa pressão prejudicial em relação aos elementos acumulados filme a filme,
este terceiro exemplar na série supera algumas carências artísticas para
revelar-se mais uma satisfatória aventura no caminho de seu carismático
protagonista.
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