O segundo filme da “Trilogia Karnstein”, por
muito pouco, não é uma obra quase independente de relações com o filme
anterior, salvo a constante menção do sobrenome Karnstein e uma situação de
datas esboçada numa das primeiras cenas (onde é sugerido que os eventos do
outro filme se sucederam cerca de quarenta anos antes), embora o roteirista
Tudor Gates e os produtores Harry Fine e Michael Styles permaneçam os mesmos.
Há um prólogo nada esclarecido, mas bastante
inteligível, onde vemos um casal de vampiros (Barbara Jefford e Mike Raven, ele
fazendo uma esmerada recriação dos trejeitos do Drácula de Christopher Lee) num
ritual em que entregam o sangue de uma virgem em sacrifício perante um
esqueleto.
O sangue traz o esqueleto de volta à vida, e o
que vemos então –sem que hajam explicações mais minuciosas –supostamente deve
ser a vampira do filme anterior, Carmilla, reencarnada agora nas formas
esculturais da atriz dinamarquesa Yutte Stensgaard; é bom lembrar que ela nunca
é chamada por esse nome aqui adotando como alcunha para todos os outros o
anagrama Mircalla.
O filme se inicia logo após os créditos que veem
em seguida, e introduz o herói trágico, o bon vivant Richard Lestrange (Michael
Johnson). Recém-chegado ao vilarejo, Lestrange desdenha do temor local dos
moradores pela famigerada Mansão Karnstein, a tal ponto que decide subir até a
montanha onde ele está.
Chegando lá, uma surpresa: Nos arredores da
mansão há uma escola só para garotas (!), povoada por alguns dos mais
tentadores rabos de saia que a Hammer já colocou em um filme!
Ávido por estar em meio a tantas beldades,
Lestrange executa uma manobra típica de malandro e consegue convencer o novo
professor de literatura a partir para uma viagem enquanto fica em seu lugar.
Todavia, a predileção de Lestrange não tardará
em eleger uma favorita; e que vem a ser justamente a belíssima aluna
recém-chegada, Mircalla, cuja beleza atrai pelo menos duas vítimas antes de
Lestrange: A sua jovem companheira de quarto (no mais próximo que o filme chega
da sugestão lésbica do filme anterior), e o incauto professor de história
(Ralph Bates). O que desperta as suspeitas da única personagem sensata de todo
o filme, a professora Playfair (Suzanna Leigh), que também tem lá a sua atração
não correspondida por Lestrange.
Mircalla é assim, para o casal de vampiros que
a despertou, e que acompanha seus passos com certa onipresença embora muito
pouco interfiram na trama, uma predadora perfeita na maneira com que seduz suas
vítimas sem lhes oferecer escapatória; e a contagem de pessoas desaparecidas
começa a alarmar a preocupada, ainda que displicente, diretora da escola (Helen
Christie).
Contudo, apesar desse papel que exerce,
Mircalla cede de fato às intenções românticas de Lestrange (um romance entre um
vampiro e um humano, décadas antes da “Saga Crepúsculo” e da obra-prima “Deixa Ela Entrar”) e com isso um impasse começa a se desenhar: Mircalla obedecerá
seus instintos predatórios de vampira, ou penderá para o lado de Lestrange
reiterando sua paixão e poupando-o da morte? –ainda que, no fim das contas, o
roteiro de Tudor Gates não saiba o que fazer com esse subterfúgio, terminando
por descarta-lo de modo quase banal em seu desfecho.
O diretor aqui encarregado, Jimmy Sangster,
emprega a nudez e a sensualidade com mais economia do que em “Carmilla-A Vampira de Karnstein”, o que é curioso numa continuação quando a tendência
comum é sempre tentar superar o filme original, a atriz Yutte Stensgaard não
tem o mesmo magnetismo de cena que a sensacional Ingrid Pitt, e ainda faz um
olhar vesgo nas cenas de êxtase que quase descamba o filme para a comédia
involuntária, mas é bela e escultural o bastante para monopolizar muito da
atenção do expectador.
Inferior ao seu antecessor,
mas ainda assim prazeroso de se assistir, “Luxúria de Vampiros”, na forma com
que evoca seus elementos, parece mais ser uma espécie de recriação
auto-referente das características mais marcantes de “Carmilla” e das maiores
obras da Hammer do que uma produção propriamente dita, indícios lamentáveis da
decadência que o famoso estúdio inglês experimentaria na década de 1970.
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