sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Jane Got A Gun

Uma mescla hesitante de faroeste e manifesto feminista, este projeto estrelado por Natalie Portman (também produtora) renderia uma obra certamente diferente se fosse mantida a diretora original, Lynne Ramsay de “O Romance de Movern Callar” e “Precisamos Falar Sobre OKevin”.
Ela foi substituída na última hora por Gavin O’ Connor (de “Guerreiro”, também com Joel Edgerton no elenco) e o resultado de seu trabalho –em parte pelo pouco propício fato de assumir uma realização às pressas e já em andamento –padece de originalidade, ainda que o roteiro, em sua versão básica, tenha circulado por anos em Hollywood como um dos seus grandes scripts jamais filmados.
Jane Ballard, a protagonista vivida por Natalie, é uma mulher sofrida, como normalmente o são as mulheres fadadas a viver e sobreviver no Velho Oeste. Seu marido é um certo Bill Hammond (Noah Emmerich, de “O Show de Truman”) que, já na cena inicial, chega ao seu longínquo rancho ferido por tiros de bala. Ele teve um encontro com o famigerado John Bishop (Ewan McGregor, fazendo mais uma vez um bom vilão depois do ótimo “Haywire”), cujo bando numeroso e perigoso (e que inclui participações de Rodrigo Santoro e Boyd Hoolbrook) virá logo em seu encalço.
Jane precisa, portanto, se preparar.
Ela busca auxílio com Dan Frost (Joel Edgerton, também um dos roteiristas do filme) que, de início reluta, ressentido por algo do qual ainda não temos informação, terminando mais tarde por concordar em proteger Jane.
Durante os preparativos para o conflito iminente e a consequente tensão da espera pela chegada desse momento, a narrativa é ocasionada por flashbacks designados para esclarecer os pormenores mais pessoais dessa história –e do porque Jane é central à ela: A dívida de vida e de gratidão que ela tem por Bill e que se estende para além de seu matrimônio; a intervenção sórdida e tentacular do inescrupuloso e ambicioso Bishop em seu passado;e a relação inicialmente amorosa, porém desafortunada que ela teve com Dan e que reserva, da parte de ambos, dolorosas revelações.
Há algo bastante interessante na estrutura com a qual a trama que envolve os personagens se apresenta ao expectador, com idas e vindas no tempo substituindo a linearidade tediosa por uma sucessiva e revitalizadora entrega de novas informações (incluindo uma ligeira reviravolta final), e certamente é muito curioso o manejo espirituoso do protagonismo de Jane Ballard em meio à uma trama definida por ombridade masculina e duelos irreversíveis, tal e qual clássicos insuspeitos do gênero como “Johnny Guitar” e “Era Uma Vez No Oeste”.
O grande problema de “Jane Got A Gun” –que aqui no Brasil, seguindo a orientação convencional que o filme acabou adquirindo, recebeu o título genérico de “Em Busca de Justiça” –é justamente a direção de Gavin O’ Connor, tão hábil em filmes de drama e outros gêneros, entretanto, mostrando-se aqui limitada ao absorver os códigos e as linguagens específicas do faroeste que rendeu obras notáveis nas mãos de artesões brilhantes como Quentin Tarantino (“Django Livre” e “Os Oito Odiados”) e os Irmãos Coen (“Bravura Indômita” e “A Balada de Buster Scruggs”) mas, que entregue a um talentoso operário padrão terminou um pouco aquém de sua promessa.

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