Uma mescla hesitante de faroeste e manifesto
feminista, este projeto estrelado por Natalie Portman (também produtora)
renderia uma obra certamente diferente se fosse mantida a diretora original,
Lynne Ramsay de “O Romance de Movern Callar” e “Precisamos Falar Sobre OKevin”.
Ela foi substituída na última hora por Gavin O’
Connor (de “Guerreiro”, também com Joel Edgerton no elenco) e o resultado de
seu trabalho –em parte pelo pouco propício fato de assumir uma realização às
pressas e já em andamento –padece de originalidade, ainda que o roteiro, em sua
versão básica, tenha circulado por anos em Hollywood como um dos seus grandes
scripts jamais filmados.
Jane Ballard, a protagonista vivida por
Natalie, é uma mulher sofrida, como normalmente o são as mulheres fadadas a
viver e sobreviver no Velho Oeste. Seu marido é um certo Bill Hammond (Noah
Emmerich, de “O Show de Truman”) que, já na cena inicial, chega ao seu longínquo
rancho ferido por tiros de bala. Ele teve um encontro com o famigerado John
Bishop (Ewan McGregor, fazendo mais uma vez um bom vilão depois do ótimo
“Haywire”), cujo bando numeroso e perigoso (e que inclui participações de
Rodrigo Santoro e Boyd Hoolbrook) virá logo em seu encalço.
Jane precisa, portanto, se preparar.
Ela busca auxílio com Dan Frost (Joel Edgerton,
também um dos roteiristas do filme) que, de início reluta, ressentido por algo
do qual ainda não temos informação, terminando mais tarde por concordar em
proteger Jane.
Durante os preparativos para o conflito
iminente e a consequente tensão da espera pela chegada desse momento, a
narrativa é ocasionada por flashbacks designados para esclarecer os pormenores
mais pessoais dessa história –e do porque Jane é central à ela: A dívida de
vida e de gratidão que ela tem por Bill e que se estende para além de seu
matrimônio; a intervenção sórdida e tentacular do inescrupuloso e ambicioso
Bishop em seu passado;e a relação inicialmente amorosa, porém desafortunada que
ela teve com Dan e que reserva, da parte de ambos, dolorosas revelações.
Há algo bastante interessante na estrutura com
a qual a trama que envolve os personagens se apresenta ao expectador, com idas
e vindas no tempo substituindo a linearidade tediosa por uma sucessiva e
revitalizadora entrega de novas informações (incluindo uma ligeira reviravolta
final), e certamente é muito curioso o manejo espirituoso do protagonismo de
Jane Ballard em meio à uma trama definida por ombridade masculina e duelos
irreversíveis, tal e qual clássicos insuspeitos do gênero como “Johnny Guitar”
e “Era Uma Vez No Oeste”.
O grande problema de “Jane
Got A Gun” –que aqui no Brasil, seguindo a orientação convencional que o filme
acabou adquirindo, recebeu o título genérico de “Em Busca de Justiça” –é
justamente a direção de Gavin O’ Connor, tão hábil em filmes de drama e outros
gêneros, entretanto, mostrando-se aqui limitada ao absorver os códigos e as
linguagens específicas do faroeste que rendeu obras notáveis nas mãos de
artesões brilhantes como Quentin Tarantino (“Django Livre” e “Os Oito Odiados”)
e os Irmãos Coen (“Bravura Indômita” e “A Balada de Buster Scruggs”) mas, que
entregue a um talentoso operário padrão terminou um pouco aquém de sua
promessa.
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