sábado, 10 de outubro de 2015

Precisamos Falar Sobre o Kevin

Parte de um novo movimento de cinema do Século XXI, que rompe com as restrições de um teatro filmado ou mesmo da encenação convencional do passado, esta obra da escocesa Lynne Ramsay, tal e qual os trabalhos de Steve McQueen, por exemplo, assume o cinema em seu caráter experimental e suas ferramentas narrativas como um meio de chegar à estados singulares de percepção do expectador.
"Precisamos Falar Sobre O Kevin" não esconde, do início ao fim, suas intenções de desestabilizar o público; e por vezes, nos momentos mais hiperlativos de sua premissa, nas atuações mais inspiradas de seus intérpretes, no clímax existencial de sua criação, ele consegue.
O filme fala de um tópico já investigado por psiquiatras ao redor do mundo, mas certamente fonte de perplexidade da parte do expectador comum: A história de uma criança psicopata. Desde quando era bebê havia algo de estranho em Kevin.
Eva (a primorosa Tilda Swinton), sua mãe, jamais deixou de notar (e sentir na pele) sua hostilidade e seu ódio, que ironicamente, passavam completamente despercebidos de Franklin (John C. Reily), seu pai.
É Eva quem irá testemunhar todas as terríveis atrocidades que o filho, já mais velho (e magnificamente vivido por Ezra Miller), causará, e é ela também, que carregará a culpa de suas consequências.
Ao relatar essa trama sem uma ordenação linear comum (levando o público assim a desvenda-la aos poucos gerando aflição a cada descoberta), a diretora Lynne Ramsay (do prestigiado, porém pouco conhecido "Movern Callar") consegue assombrar o expectador com uma história singular sobre a problemática de uma relação mãe-e-filho sem igual no cinema. Terminada a sessão de "Precisamos Falar Sobre O Kevin" temos a impressão de que vimos algo terrível demais, excessivo demais, para além do que poderia se considerar tolerável no cinema comercial; o que é, no mínimo, notável e curioso, visto que este trabalho não possui cenas gráficas mais chocantes.
Não é, porém, essa  sensação que ele causa: Ao fazer de seu filme uma experiência sensorial, Ramsay invade o psicológico de quem o assiste usando de elipses, códigos narrativos internos e linguagem visual subconsciente para arremessar o público a um estado perturbador de espanto e choque sem amenidades, recomendado para poucos.
Um daqueles grande filmes que não sei se terei coragem para ver uma segunda vez. 
Grandes atuações de Tilda Swinton e Ezra Miller.

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