Se há um filme que desafia convenções, esse
filme é "Lolita", de Adrian Lyne.
Não me atreverei a estabelecer uma comparação
com o "Lolita" de Stanley Kubrick que muitos críticos tendenciosamente
se apressam em dizer que é melhor. Essa é uma tarefa ingrata e pesada que
ficará para outro dia.
"Lolita" conta a história de Humbert
Humbert, erudito escritor europeu que ao mudar-se para a América, acaba
fascinado pela filha de 14 anos da dona da pensão em que se hospeda, menina que
embora adolescente, guarda traços de sensualidade insuspeita e pulsante,
"uma ninfeta" como ele diz.
Ainda que suas investidas para enredar Lolita
sejam atrapalhadas e pouco incisivas, o destino tratará de fazer com que a
jovem fique sob sua guarda e como consequência, a disposição de seus anseios
patológicos.
A questão é que "Lolita" de Adrian
Lyne é um filme, em tudo e por tudo, incompreendido.
Até hoje, jamais foi lançado em DVD no Brasil,
fruto certamente da forma sisuda e recriminada com que foi recebido à época de
seu lançamento em 1997.
Seria o tema da pedofilia? Acho que não, há
diversos filmes sobre isso por aí, e quanto mais polêmicos e escandalosos, mais
suscitam o interesse do público.
Seria a memória subconsciente do filme de
Kubrick fazendo com que gerações de cinéfilos repudiassem essa nova versão,
como alguns dizem?
É até possível, mas pouco provável.
A verdade é que essa injustiçada obra de Adrian
Lyne merece uma revisão. Seu trabalho tem o mesmo colorido presente na
linguagem do livro de Vladimir Nabokov, e embora alguns digam que Lyne cometeu
o erro de tornar o protagonista Humbert Humbert uma figura agradável na pele do
ótimo Jeremy Irons (o quê o filme de Kubrick não faz, para efeitos morais mais
retos e certos), ainda acredito que a narrativa do livro se encontra mais
preservada em sua totalidade no filme de Adrian Lyne.
Embora possivelmente suas imbricações morais
tenham se dissipado nesse exercício de estilo.
Talvez, a grande razão para a rejeição a este
novo "Lolita" seja mesmo ironicamente a forma com que o diretor Lyne
se aproximou mais do livro. Ao adotar uma narrativa cheia dos mesmos visuais e
das minúcias que o livro contado em primeira pessoa, Lyne fez com que a
história –seja proposital ou não –adquirisse os ares de um romance, uma
história de amor fadada a jamais se realizar por inteiro, por um homem e uma
menina, terminando por compadecer-se por seu protagonista, a despeito da
natureza hedionda de seus atos.
Este, com certeza, foi seu
grande pecado.
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