A experiência de realizar em conjunto o
clássico “O Resgate do Soldado Ryan” havia sido tão marcante para Steven
Spielberg e para o astro Tom Hanks que eles resolveram, em 2006, se aventurar
por um projeto de espírito muito parecido, e escopo ainda mais ambicioso.
A minissérie “Band Of Brothers” levava para a
tela da TV a mesma concepção visual e narrativa que tornava “Soldado Ryan”
majestosamente cinematográfico, desta vez, contando a história muito real (e
muito Impressionante) da Companhia Easy, o 506º Regimento da 101ª Divisão de
paraquedistas dos EUA.
A história, oriunda do livro de Stephen E.
Ambrose, detalha com minúcia espetacular o modo como as circunstâncias fizeram
com que a 101 fosse uma das Divisões de desempenho definitivo na Segunda Guerra
Mundial, em ocasiões assombrosamente estratégicas, inclusive sendo os primeiros
a chegar ao famigerado Ninho da Águia, o Q.G. de Adolph Hitler.
Oscilando episódio a episódio em seu protagonismo
–em virtude de possuir numerosos personagens –mas, ainda assim, mantendo o foco
central quase sempre no destemido capitão Winters (a quem Damian Lewis confere
uma interpretação à altura), a história tem início no epísodio “Currahee”, onde
vemos, não a guerra, mas o treinamento submetido aos recrutas –durante o qual a
tropa como um todo já demonstra sinais de que virá a ser um dos grupos de
desempenho mais destacado do batalhão.
Somente a partir do segundo episódio, “O Dia
dos Dias”, somos testemunhas da guerra de fato, numa reconstituição espetacular
das operações aéreas do Dia D quando legiões de paraquedistas norte-americanos
saltaram na França sob artilharia pesada.
Do ponto de vista do perplexo recruta Blithe
(Marc Warren), vemos, no episódio “Caretan” a Companhia Easy se reagrupar e
tentar repelir os invasores alemães da cidade francesa de Caretan, numa das
mais fabulosas batalhas já filmadas na TV norte-americana.
É no episódio “Os Substitutos” que Winters é
promovido de tenente para capitão quando toda a companhia retorna à Inglaterra
para então ser encaminhada como apoio numa operação nos Países Baixos. Na
Hollanda, uma ofensiva sofrida pela Easy leva o hábil soldado Denver ‘Bull’
Randleman (Michael Cudlitz) a perder-se de sua tropa durante uma tensa noite em
meio à fazendeiros refugiados e soldados inimigos espreitando em cada canto.
Ainda pela região da Hollanda, em “Encruzilhadas”,
a Companhia Easy frustra mais uma operação alemã, para então lançar-se a uma
penosa incursão à Bélgica, no que o capitão Winters compreende ser um desafio
de vida ou morte para seus soldados.
O primoroso episódio “Bastogne” chegou a ganhar
o prêmio Writers Guild Award, em 2003, por seu roteiro. Nele, testemunhamos
através dos olhos do médico Eugene ‘Doc’ Roe (Shane Taylor) o definhar
gradativo, tétrico e desumano dos soldados da Easy, a medida que os dias
gélidos se passam enquanto eles se veem entrincheirados nas redondezas da
cidade belga de Bastogne, nos arredores da ocupada Vila Foy.
O episódio alterna o relacionamento hesitante,
furtivo e efêmero de Roe com uma enfermeira belga nas bases aliadas e sua
incapacidade em salvar a totalidade de seus companheiros de bombardeios
implacáveis e devastadores perpetrados contra as trincheiras que deveriam
manter.
Em “A Gota D’Água”, ao receber reforços dos
aliados –alguns proporcionados pela tenacidade do General George Patton, como
visto em acontecimentos paralelos mostrados em “Patton-Rebelde Ou Herói?” –a
Companhia Easy enfim invade a Vila Foy, prosseguindo em seu árduo avanço rumo à
Alemanha.
No que talvez seja o mais fraco dentre todos os
episódios, “A Patrulha” –não pelo episódio em si, mas, provavelmente pelo nível
elevadíssimo de qualidade de todos os demais –acompanhamos o soldado Webster
(Eion Bailey) juntando-se à Easy na cidade de Haguenau e sofrendo uma ligeira
discriminação de seus outrora companheiros: Um tiro na perna levou-o a um
retiro de meses no hospital militar afastando-o de todos os trágicos
acontecimentos vistos nos últimos dois episódios, o que leva seus companheiros
a dispor-lhe o mesmo tratamento dado aos substitutos.
A saída? Provar seu valor, junto do destacamento
do calejado soldado Malarkey (Scott Grimes), e invadir a área de Haguenau
tomada por alemães, numa patrulha audaciosa (e para muitos suicida!).
Em “Por Isso Nós Lutamos”, finalmente estrelado
pelo melhor amigo de Winters, o Capitão Nixon (Ron Livingston, de “Como
Enlouquecer Seu Chefe”), testemunhamos o estarrecimento dos soldados americanos
ao encontrarem, pela primeira vez, os terríveis campos de concentração nazista,
assim como as legiões de vítimas lá confinadas.
Dessa forma, chegamos em “Pontos”, o último
episódio, quando a Companhia Easy por fim chegada ao covil de Hitler, o Ninho
da Águia.
A Segunda Guerra Mundial se aproxima de seu
desfecho e os soldados, depois de seis longos anos lutando no conflito se
preparam para voltar para casa encerrando assim uma das mais extraordinárias
minisséries já realizadas.
O título “Band Of Brothers” tem uma refinada
origem, William Shakespeare. Parte de uma frase presente do emocionante
discurso final em “Henrique V”, quando o protagonista fala aos seus homens
sujos, cansados e vitoriosos:
“Deste dia em diante, nós
seremos lembrados! Nós, estes soldados entrincheirados! Nós, este bando de
irmãos!”
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