sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Band Of Brothers

A experiência de realizar em conjunto o clássico “O Resgate do Soldado Ryan” havia sido tão marcante para Steven Spielberg e para o astro Tom Hanks que eles resolveram, em 2006, se aventurar por um projeto de espírito muito parecido, e escopo ainda mais ambicioso.
A minissérie “Band Of Brothers” levava para a tela da TV a mesma concepção visual e narrativa que tornava “Soldado Ryan” majestosamente cinematográfico, desta vez, contando a história muito real (e muito Impressionante) da Companhia Easy, o 506º Regimento da 101ª Divisão de paraquedistas dos EUA.
A história, oriunda do livro de Stephen E. Ambrose, detalha com minúcia espetacular o modo como as circunstâncias fizeram com que a 101 fosse uma das Divisões de desempenho definitivo na Segunda Guerra Mundial, em ocasiões assombrosamente estratégicas, inclusive sendo os primeiros a chegar ao famigerado Ninho da Águia, o Q.G. de Adolph Hitler.
Oscilando episódio a episódio em seu protagonismo –em virtude de possuir numerosos personagens –mas, ainda assim, mantendo o foco central quase sempre no destemido capitão Winters (a quem Damian Lewis confere uma interpretação à altura), a história tem início no epísodio “Currahee”, onde vemos, não a guerra, mas o treinamento submetido aos recrutas –durante o qual a tropa como um todo já demonstra sinais de que virá a ser um dos grupos de desempenho mais destacado do batalhão.
Somente a partir do segundo episódio, “O Dia dos Dias”, somos testemunhas da guerra de fato, numa reconstituição espetacular das operações aéreas do Dia D quando legiões de paraquedistas norte-americanos saltaram na França sob artilharia pesada.
Do ponto de vista do perplexo recruta Blithe (Marc Warren), vemos, no episódio “Caretan” a Companhia Easy se reagrupar e tentar repelir os invasores alemães da cidade francesa de Caretan, numa das mais fabulosas batalhas já filmadas na TV norte-americana.
É no episódio “Os Substitutos” que Winters é promovido de tenente para capitão quando toda a companhia retorna à Inglaterra para então ser encaminhada como apoio numa operação nos Países Baixos. Na Hollanda, uma ofensiva sofrida pela Easy leva o hábil soldado Denver ‘Bull’ Randleman (Michael Cudlitz) a perder-se de sua tropa durante uma tensa noite em meio à fazendeiros refugiados e soldados inimigos espreitando em cada canto.
Ainda pela região da Hollanda, em “Encruzilhadas”, a Companhia Easy frustra mais uma operação alemã, para então lançar-se a uma penosa incursão à Bélgica, no que o capitão Winters compreende ser um desafio de vida ou morte para seus soldados.
O primoroso episódio “Bastogne” chegou a ganhar o prêmio Writers Guild Award, em 2003, por seu roteiro. Nele, testemunhamos através dos olhos do médico Eugene ‘Doc’ Roe (Shane Taylor) o definhar gradativo, tétrico e desumano dos soldados da Easy, a medida que os dias gélidos se passam enquanto eles se veem entrincheirados nas redondezas da cidade belga de Bastogne, nos arredores da ocupada Vila Foy.
O episódio alterna o relacionamento hesitante, furtivo e efêmero de Roe com uma enfermeira belga nas bases aliadas e sua incapacidade em salvar a totalidade de seus companheiros de bombardeios implacáveis e devastadores perpetrados contra as trincheiras que deveriam manter.
Em “A Gota D’Água”, ao receber reforços dos aliados –alguns proporcionados pela tenacidade do General George Patton, como visto em acontecimentos paralelos mostrados em “Patton-Rebelde Ou Herói?” –a Companhia Easy enfim invade a Vila Foy, prosseguindo em seu árduo avanço rumo à Alemanha.
No que talvez seja o mais fraco dentre todos os episódios, “A Patrulha” –não pelo episódio em si, mas, provavelmente pelo nível elevadíssimo de qualidade de todos os demais –acompanhamos o soldado Webster (Eion Bailey) juntando-se à Easy na cidade de Haguenau e sofrendo uma ligeira discriminação de seus outrora companheiros: Um tiro na perna levou-o a um retiro de meses no hospital militar afastando-o de todos os trágicos acontecimentos vistos nos últimos dois episódios, o que leva seus companheiros a dispor-lhe o mesmo tratamento dado aos substitutos.
A saída? Provar seu valor, junto do destacamento do calejado soldado Malarkey (Scott Grimes), e invadir a área de Haguenau tomada por alemães, numa patrulha audaciosa (e para muitos suicida!).
Em “Por Isso Nós Lutamos”, finalmente estrelado pelo melhor amigo de Winters, o Capitão Nixon (Ron Livingston, de “Como Enlouquecer Seu Chefe”), testemunhamos o estarrecimento dos soldados americanos ao encontrarem, pela primeira vez, os terríveis campos de concentração nazista, assim como as legiões de vítimas lá confinadas.
Dessa forma, chegamos em “Pontos”, o último episódio, quando a Companhia Easy por fim chegada ao covil de Hitler, o Ninho da Águia.
A Segunda Guerra Mundial se aproxima de seu desfecho e os soldados, depois de seis longos anos lutando no conflito se preparam para voltar para casa encerrando assim uma das mais extraordinárias minisséries já realizadas.
O título “Band Of Brothers” tem uma refinada origem, William Shakespeare. Parte de uma frase presente do emocionante discurso final em “Henrique V”, quando o protagonista fala aos seus homens sujos, cansados e vitoriosos:
“Deste dia em diante, nós seremos lembrados! Nós, estes soldados entrincheirados! Nós, este bando de irmãos!”

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