terça-feira, 29 de outubro de 2019

Billy Madison - Um Herdeiro Trapalhão

A ascensão da carreira do comediante Adam Sandler rumo ao estrelato foi algo tortuosa. Inicialmente um dos roteiristas contratados para o programa humorístico “Saturday Night Live”, ele teve a peculiar ideia de conceber personagens tão bizarros que somente seu próprio autor seria capaz de interpretá-los ganhando, dessa forma meio torta, a frente das câmeras.
Naturalmente migrando da TV para o cinema, ele destacou-se numa mediana (e hoje já bem esquecida) comédia dos anos 1990 chamada “Os Cabeças de Vento” –sobre um grupo de bandidos lesados e atrapalhados que sequestra o estúdio de uma rádio ao vivo.
Seguiram-se filmes de comédia rasteira estreladas por ele que, a medida que expressavam boa bilheteria junto ao público adolescente, providenciavam à Sandler produções que, na década seguinte, foram melhorando em qualidade técnica.
“Billy Madison” faz parte daquela irregular sucessão de trabalhos de meados dos anos 1990 que contou com títulos infames e desprezíveis como “O Rei da Água”, “O Paizão” e outros.
Como em todos eles, é necessário aceitar o caráter adolescente do humor de Adam Sandler, caso contrário, é melhor abandonar o filme. O desempenho cômico de Sandler em cena chega quase a lembrar as estripulias do brasileiro Sergio Mallandro.
Sandler é o personagem-título, um debilóide imaturo e inconsequente que teve a sorte de nascer em berço de ouro –seu pai Brian (Darren McGavin, da cultuada série “Kolchak e Os Demônios da Noite”) é um rico hoteleiro.
Entretanto, para a paciência do pai, o hedonismo desenfreado de Billy tem limites; na primeira cena, Billy toma tanto sol em sua piscina que começa a alucinar com pinguins (!).
O pai, portanto, lhe dá uma espécie de ultimato: Ou refaz toda a escola novamente –a primeira vez não contou já que Brian subornou todos os professores de Billy (!!) –ou a empresa da família passará a ser gerenciada pelo mesquinho e desleal Eric Gordon (Bradley Whitford, de “Corra!”).
Billy tem cerca de vinte e quatro semanas já que almeja passar por todas as doze séries escolares, a começar pelo jardim de infância (!!!), aprendendo cada uma em duas semanas.
O registro obtido por Adam Sandler desses percalços no mínimo insanos, seja no roteiro que ele escreve, seja na atuação que ele entrega (com absoluta indulgência da parte da direção de Tamra Davis), é de um non-sense sem tamanho: O humor executado por Adam Sandler é um desvario tão desregrado e retardado que dificilmente faz rir pessoas com mais de dezesseis anos.
Aclimatadas a esse humor discutível estão as participações não-creditadas de dois chapas de Sandler, o ator Steve Buscemi e o falecido Chris Farley (também ele vindo do “Saturday Night Live”).
A medida que foi se consolidando como astro, o próprio Adam Sandler foi abandonando (mas, não muito) esse teor chulo e ofensivo de seus primeiros trabalhos –e foi oportuno realizá-los nos anos 1990, quando tais obras politicamente incorretas não passavam pelo crivo de patrulhas ideológicas.
No percurso do abilolado Billy na escola, vemos sua imaturidade extrema entrar em conflito com o inconformismo da bela professora da 2ª série (Bridgette Wilson, uma gracinha), por quem o próprio Billy acaba se apaixonando; e contra todas as possibilidades verossímeis, justificado apenas pela vontade do roteiro, ela acaba se apaixonando por Billy também.
As coisas se complicam um pouco mais quando Billy chega ao colegial, onde o comportamento simuladamente adulto de seus colegas adolescentes coloca Billy num beco sem saída.
O filme não tem inteligência para lidar com a própria premissa a partir daí, quando as gags de humor retardado já não bastam, e a trama se entrega então a um irrelevante embate final, todo caricato, entre o protagonista e o antagonista.
Na esteira de toda sua imbecilidade, “Billy Madison” poderia ser um filme que compensasse seu mau gosto com uma abordagem cheia de inteligência sobre o bullying ou sobre a síndrome de Peter Pan no personagem principal, mas nada disso ele faz. Prefere o cômodo e convencional caminho onde agrada seu público-alvo com as bobagens grosseiras de sempre.

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