A ascensão da carreira do comediante Adam
Sandler rumo ao estrelato foi algo tortuosa. Inicialmente um dos roteiristas
contratados para o programa humorístico “Saturday Night Live”, ele teve a
peculiar ideia de conceber personagens tão bizarros que somente seu próprio
autor seria capaz de interpretá-los ganhando, dessa forma meio torta, a frente
das câmeras.
Naturalmente migrando da TV para o cinema, ele
destacou-se numa mediana (e hoje já bem esquecida) comédia dos anos 1990
chamada “Os Cabeças de Vento” –sobre um grupo de bandidos lesados e
atrapalhados que sequestra o estúdio de uma rádio ao vivo.
Seguiram-se filmes de comédia rasteira
estreladas por ele que, a medida que expressavam boa bilheteria junto ao
público adolescente, providenciavam à Sandler produções que, na década
seguinte, foram melhorando em qualidade técnica.
“Billy Madison” faz parte daquela irregular
sucessão de trabalhos de meados dos anos 1990 que contou com títulos infames e
desprezíveis como “O Rei da Água”, “O Paizão” e outros.
Como em todos eles, é necessário aceitar o
caráter adolescente do humor de Adam Sandler, caso contrário, é melhor
abandonar o filme. O desempenho cômico de Sandler em cena chega quase a lembrar
as estripulias do brasileiro Sergio Mallandro.
Sandler é o personagem-título, um debilóide
imaturo e inconsequente que teve a sorte de nascer em berço de ouro –seu pai
Brian (Darren McGavin, da cultuada série “Kolchak e Os Demônios da Noite”) é um
rico hoteleiro.
Entretanto, para a paciência do pai, o
hedonismo desenfreado de Billy tem limites; na primeira cena, Billy toma tanto
sol em sua piscina que começa a alucinar com pinguins (!).
O pai, portanto, lhe dá uma espécie de
ultimato: Ou refaz toda a escola novamente –a primeira vez não contou já que
Brian subornou todos os professores de Billy (!!) –ou a empresa da família
passará a ser gerenciada pelo mesquinho e desleal Eric Gordon (Bradley
Whitford, de “Corra!”).
Billy tem cerca de vinte e quatro semanas já
que almeja passar por todas as doze séries escolares, a começar pelo jardim de
infância (!!!), aprendendo cada uma em duas semanas.
O registro obtido por Adam Sandler desses
percalços no mínimo insanos, seja no roteiro que ele escreve, seja na atuação
que ele entrega (com absoluta indulgência da parte da direção de Tamra Davis),
é de um non-sense sem tamanho: O humor executado por Adam Sandler é um desvario
tão desregrado e retardado que dificilmente faz rir pessoas com mais de
dezesseis anos.
Aclimatadas a esse humor discutível estão as
participações não-creditadas de dois chapas de Sandler, o ator Steve Buscemi e
o falecido Chris Farley (também ele vindo do “Saturday Night Live”).
A medida que foi se consolidando como astro, o
próprio Adam Sandler foi abandonando (mas, não muito) esse teor chulo e
ofensivo de seus primeiros trabalhos –e foi oportuno realizá-los nos anos 1990,
quando tais obras politicamente incorretas não passavam pelo crivo de patrulhas
ideológicas.
No percurso do abilolado Billy na escola, vemos
sua imaturidade extrema entrar em conflito com o inconformismo da bela
professora da 2ª série (Bridgette Wilson, uma gracinha), por quem o próprio
Billy acaba se apaixonando; e contra todas as possibilidades verossímeis,
justificado apenas pela vontade do roteiro, ela acaba se apaixonando por Billy
também.
As coisas se complicam um pouco mais quando
Billy chega ao colegial, onde o comportamento simuladamente adulto de seus
colegas adolescentes coloca Billy num beco sem saída.
O filme não tem inteligência para lidar com a
própria premissa a partir daí, quando as gags de humor retardado já não bastam,
e a trama se entrega então a um irrelevante embate final, todo caricato, entre
o protagonista e o antagonista.
Na esteira de toda sua
imbecilidade, “Billy Madison” poderia ser um filme que compensasse seu mau
gosto com uma abordagem cheia de inteligência sobre o bullying ou sobre a
síndrome de Peter Pan no personagem principal, mas nada disso ele faz. Prefere
o cômodo e convencional caminho onde agrada seu público-alvo com as bobagens
grosseiras de sempre.
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