terça-feira, 29 de outubro de 2019

Robin & Marian

Das tantas versões da lenda de Robin Hood contadas pelo cinema, a do filme de Richard Lester é a única a investir por um caminho de fato desigual –a invés de ciscar em torno da sempre revisitada origem do herói (coisa que até pouco tempo, um fracasso recente de bilheteria estrelado por Taron Egerton voltou a querer fazer), ele escolhe pelo caminho oposto contemplando, num exercício de imaginação da parte do roteirista James Goldman (de “O Leão No Inverno” e “O Sol da Meia-Noite”), como seria o famoso fora-da-lei em seu crepúsculo.
Personificado pela fleuma madura e sempre impecável de Sean Connery, encontramos Robin ao lado de seu filme companheiro Little John (o ótimo Nicol Williamson), ambos servindo o Rei Ricardo Coração de Leão (Richard Harris) na cada vez mais desesperançada iniciativa das Cruzadas Santas.
Robin chegou num ponto em que seu descontentamento com a índole corrupta do rei o põe em sérios apuros –que só não se converte numa execução sumária porque o próprio rei falece antes, fulminado por um banal ferimento com flecha.
Robin e Little John assim retornam para a Inglaterra onde o reinado emergente do irmão de Ricardo, o Rei John (Ian Holm), transformou em renegados todos os indivíduos do clero devido ao rompimento político com o Vaticano.
Ele reencontra Marian (Audrey Hepburn, ainda encantadora) na função de líder de uma abadia, tendo abraçado os princípios religiosos depois da partida de Robin. É assim que, já de chegada, Robin tem de salvá-la, quando o próprio Xerife de Nothingham (Robert Shaw) aparece para prende-la cumprindo uma designação real.
Refugiados na Floresta de Sherwood, Robin, Marian e Little John reencontram, ainda escondidos por lá, alguns companheiros do passado, como Frei Tuck (Ronnie Barker) e Will (Denholm Elliot, de “Os Caçadores da Arca Perdida” e “Indiana Jones e A Última Cruzada”).
Ao mesmo tempo, esse regresso do herói reaviva a chama de esperança nos camponeses oprimidos que se juntam novamente a ele, resgatando a mesma circunstância de outrora, enquanto o próprio Robin se descobre embriagado pelo retorno do passado como ele recordava. No entanto, como a narrativa trata de lembrar paulatinamente –inclusive nos monólogos melancólicos de Marian –o tempo passou, e os heróis envelheceram.
Charmoso como filme de aventura, e executado tão somente com essa modesta pretensão pelo diretor Richard Lester (que substituiu Richard Donner em “Superman 2” e ainda realizou “Os Três Mosqueteiros” e “A Vingança de Milady”), “Robin & Marian” não se aprofunda tanto quanto poderia se imaginar nas agonias da meia-idade a se abater sobre homens lembrados por seu vigor, optando por um registro gracioso (e envolvente) na maior parte do tempo.
Seu momento mais contundente (e talvez ousado) é o desfecho que escolhe para seus heróis, longe de um maniqueísmo previsível do bem contra o mal, mas sim impondo uma amarga realidade, na qual a abnegação do momento pode soar um bocado implausível para os expectadores jovens de hoje.

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