Zalman King ganhou certo renome após o sucesso
colossal de seu roteiro para “9 e ½ Semanas de Amor”, filmado por Adrian Lyne
–de repente, ele, que havia escrito pouco mais que um romance modernoso sobre
pulsões sexuais inusitadas, era um profissional considerado a última palavra em
erotismo.
Ele soube aproveitar a maré lançando-se como o
próprio diretor de seus scripts (no longa “Um Toque de Sedução”) e –sem o
estilo visualmente extravagante de Lyne –as suas características autorais
começaram a ficar mais claras: King tinha o objetivo de conceber um misto
elegante e excitante de dramaturgia nada usual com erotismo em níveis
desafiadores para o mercado convencional de então, numa postura que lembrava um
pouco os projetos fetichistas do italiano Tinto Brass.
Lançado em 1990, “Orquídea Selvagem” reuniu
Zalman King novamente com o astro de “9 e ½ Semanas...”, Mickey Rourke,
prometendo uma obra de sexualidade forte e singular tanto quando foi o cultuado
filme de Lyne.
“Orquídea Selvagem” começa com sua protagonista
de fato, Emily (a modelo Carré Otis) rumando para Nova York a fim de vencer na
vida –ponto de partida mais clichê, impossível!
Lá, ela obtém emprego como advogada na empresa
da poderosa Claudia Liones (Jacqueline Bisset, absolutamente sensacional) e de
pronto as duas seguem para o fechamento de um negócio a ser realizado em terras
brasileiras envolvendo chineses e um edifício antigo.
A distinção da realização de Zalman King para
os filmes eróticos mais convencionais –mesmo os de hoje –é, sobretudo, o tempo
prolongado que ele demanda para elaborar sua premissa. Uma pena que esse
período anormalmente longo permite ficarem evidentes os lapsos de sua produção:
Se Jacqueline Bisset rouba com facilidade cada uma das cenas em que aparece, a
novata Carré Otis é tão inexpressiva que nem falar ela consegue direito que o
diga atuar! O próprio Zalman King, como diretor, deixa bastante claro que seu
outro roteiro funcionou bem porque um diretor perspicaz como Adrian Lyne soube
enfatizar elementos do filme que camuflavam a fragilidade da trama; já, aqui,
cada detalhe colabora para evidenciar sua superficialidade.
Desde a ambientação no Rio de Janeiro (onde
conta com a presença do ator Milton Gonçalves) passando pelas despropositadas
inserções de bailes de máscaras sem o menor sentido (ao que parece, um fetiche
de King) e pelo apático personagem de Mickey Rourke “Orquídea Selvagem” soa
todo jocoso e improvável.
E, por falar em Rourke: Seu personagem, de nome
Wheller, é um dos empresários envolvidos na tal negociação. Emily assim,
recebe de Claudia a incumbência de acompanhá-lo (e, se possível, vigiá-lo de
perto) a fim de garantir que ele não cometa nenhuma travessura antes que seja
fechado o negócio.
Sedutor nato, envolto em mistério e cheio de
manhas, Wheller logo enreda Emily –que desde o início ostenta adjetivos entre
‘frígida’ e ‘travada’ –numa espécie de jogo de provocação, identificando muitos
dos desejos ocultos dela; alguns deflagrados por uma cena de sexo que ela
testemunhou no tal edifício antigo envolvendo um casal de negros (a mulher
particularmente é estupenda!).
Engana-se, todavia, aquele expectador que
deduzir que eles logo partem para os finalmentes –protelar, ao menos em seus
primeiros trabalhos, parece ser o maior joguete de King –Wheller, na realidade,
tem ao que parece um bloqueio emocional (nunca devidamente esclarecido) onde
não tolera ser tocado; daí sua incapacidade de consumar suas conquistas
deixando as mulheres sempre em expectativa (algo um pouco parecido com o que é
mostrado com o personagem principal de “Cinquenta Tons de Cinza”, mais de vinte
anos depois). Dessa forma, impossibilitado de extasiar-se diretamente com um
toque, Wheller resolve experimentar tal sensação indiretamente, através de
Emily, levando ela a deixar-se seduzir por um outro turista americano (uma
ponta meio cafajeste de Bruce Greenwood).
Ela se torna de tal forma uma obsessão para
ele, que Wheller chegar a comprar o edifício antigo, interferindo nos negócios,
apenas para mantê-la por perto mais algum tempo.
Entre floreios excessivos a
pavimentar o caminho da sugestão até o fato, o filme de Zalman King oferece um
erotismo pulsante e revelador quando é chegada a hora –uma pena o fato dele
submeter o expectador a um considerável teste de paciência antes disso: Porque
as noções cinematográficas de King como diretor são rudimentares e equivocadas
(e não aparentam terem melhorado em trabalhos posteriores), porque o retrato
que ele pinta das noites cariocas (assim como do carnaval) é tão bisonho que
chega a resvalar na comédia involuntária e porque, salvo Jacqueline Bisset, os
demais atores não mostram a menor veracidade em seus papéis, nem mesmo Mickey
Rourke (que certamente iniciou sua decadência profissional com esta obra) ou
Carré Otis, que se casaram na vida real depois deste filme, ainda que em cena
não apresentem maiores compatibilidades.
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