sexta-feira, 12 de junho de 2020

Desafiando O Assassino

“Mister Majestik” foi lançado em 1974, mesmo ano em que “Desejo de Matar”, também estrelado por Charles Bronson saiu e virou, como todos sabem, cult: Além de render quatro continuações foi copiado e imitado por centenas de outras realizações.
A proximidade de lançamento terminou jogando uma sombra de obscurantismo sobre “Mister Majestik”. Uma pena, já que existem inúmeros predicados notáveis neste trabalho enxuto, sucinto e incisivo do diretor Richard Fleischer, roteirizado pelo aclamado escritor Elmore Leonard.
Em princípio, o próprio Charles Bronson consegue brilhar num personagem feito com bastante adequação à persona casca-grossa, implacável e irredutível que ele criou na tela grande.
Vince Majestik é um mero plantador de melancias do meio-oeste norte-americano; embora seja também, em informações que serão apresentadas mais tarde, um veterano do Vietnam e, portanto, conhecedor de práticas militares, de técnicas de guerrilha e do manejo de armas de fogo.
Quando o filme começa, no entanto, tudo o que ele quer é sossego, e poder colher suas melancias em paz. Suas complicações têm início quando ele acerta com um grupo de imigrantes latinos, liderados por Nancy (Linda Cristal, da série “Chaparral”), o serviço de colher seus frutos durante a safra. Ao chegar em sua fazenda, porém, Majestik encontra outros homens trabalhando na colheita. Foram despachados pela intratável Bobby Kopas (Paul Koslo, de “O Portal do Paraíso”) que, ladino e ameaçador, deseja impor seus próprios funcionários ao fazendeiro.
Num perfil bastante condizente com o do próprio astro Charles Bronson e certamente de muitos realizadores que capiteanaram esse gênero do vigilante em meio a um faroeste moderno surgido naquele período, o protagonista não aceita esses termos, certo de que em sua fazenda e em sua propriedade pesará sua palavra final –e o roteiro trabalha habilmente a situação bastante intolerável em que as circunstâncias vão o colocando.
Em resumo, Majestik coloca Kopas (que chega a ameaçá-lo com uma espingarda) para correr, embora, no fim das contas, ele acabe correndo para a delegacia denuncia-lo: A ironia é que logo depois, o policiais aparecem para prender Majestik.
Encarcerado, ele é colocado num ônibus com outros detentos, entre os quais Frank Renda (o ótimo Al Lettieri) que Majestik desconhece, mas logo descobre ser um assassino de aluguel contratado da máfia. Com efeito, aliados provocam um atentado contra o ônibus em movimento na intenção de libertar Renda. No caos que se segue, tudo sai errado, e Majestik acaba assumindo o volante no lugar do motorista alvejado.
Renda o enche de propostas, mas Majestik tem seu próprio plano: Ele quer entregar Renda de novo à justiça em troca de sua libertação.
As coisas, entretanto, não saem como planejado: Majestik e Renda obtêm carona da mocinha Wiley (Lee Purcell), envolvida com o vilão, e durante a viagem, quando ela passa uma pistola para as mãos algemadas de Renda, Majestik luta com ele, escapando por muito pouco pelo vidro quebrado do automóvel.
Agora, contudo, Renda está livre e sedento de vingança pelo período exacerbado que passou junto de Majestik. Este, por sua vez, volta à polícia, que torna a encarcerá-lo. Todavia, um outro plano agora está em curso. O de Frank Renda.
Ele obtêm a lealdade de Kopas, fazendo-o retirar sua queixa e colocando o protagonista em liberdade novamente, mas descobre que a polícia mantêm Majestik em vigilância certa de que poderão usá-lo como isca para prendê-lo. Renda quer porque quer matar Majestik, e começa expulsando os empregados imigrantes de sua fazenda –trabalhadores locais ele não conseguiu contratar graças às conspirações de Renda e Kopas –e destrói a tiros o primeiro lote de suas melancias colhidas.
Eis que então, o protagonista durão, mas até então bastante contido, dá um basta –isso já num momento bem avançado da narrativa, por meio do qual percebemos a falta de pressa e o cuidado incomum que o roteiro teve em montar cuidadosamente o plot; algo pouco presente nos apressados e ansiosos filmes de hoje em dia.
Acuado cada vez mais, Majestik promove sua própria retaliação contra o cerco criminoso que se fecha ao seu redor, usando de seus conhecimentos para virar o jogo e encurralar Kopas, Frank Renda e seus capangas numa cabana nas montanhas, onde um formidável tiroteio ao estilo tenso e palpitante dos bons faroeste lhe servirá de desfecho –neste trecho, pode-se notar com exatidão a referência que a trilha sonora de Charles Bernstein presta à Ennio Morriconne ao emular acordes da trilha de “Era Uma Vez No Oeste”, sem dúvidas, a grande e primordial realização de toda carreira de Charles Bronson.
Escrito com o fulgor criminal que tornaria Elmore Leonard famoso (já indicativo do estilo que o tornou um ídolo para Quentin Tarantino, como a criação de antagonistas com diferentes e marcantes personalidades) e realizado com extrema austeridade e solidez –provando, em sua eficácia, o quanto Fleischer era um diretor mais propenso a acertar magnificamente do que a errar lamentavelmente –“Mister Majestik” se coloca com honras entre os mais bem polidos e competentes trabalhos de Bronson em sua fase de astro tardio nos anos 1970 e 80 –onde as produções que protagonizava eram trabalhadas para se adequar a sua índole e não o oposto.

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