sábado, 13 de junho de 2020

A Hora do Espanto

Falando agora de filmes de vampiro de verdade, o auge mercadológico do gênero se deu nos anos 1950 e 60; lá foram estabelecidas as características que definiram o conceito de filme moderno de vampiro –sobretudo, pelas produções da Hammer, com Christopher Lee no papel de Drácula –entretanto, como tudo o mais, a fórmula, algum tempo depois, lá pelos anos 1970, se defasou. Quando chegou a década de 1980, os vampiros hà tempos já não tinham a mesma popularidade de outrora.
Foi quando um filme despretensioso, de baixo orçamento e diretor desconhecido (além de estreante) surgiu no mapa unindo os elementos clássicos dos filmes da Hammer ao escapismo comercial que definiu o cinema de entretenimento daquele período. Tal filme era “A Hora do Espanto”, e seu apelo revelou-se tão certeiro e irresistível que, sem cerimônias, ele fez ressurgir um interesse renovado do público e dos estúdios pelos famosos chupadores de sangue, trazendo em seu rastro novas e hoje cultuadas produções como “Quando Chega A Escuridão” e “Garotos Perdidos” –anterior a ele, naquele década, só mesmo o artístico e elitista “Fome de Viver”.
Contudo, “A Hora do Espanto” continua sendo aquele que provavelmente melhor traduz a dicotomia entre sustos e divertimento que esse sub-gênero instiga ao público.
Seu diretor, Tom Holland (não, este não é o jovem ator de “O Impossível” e que faz o Homem-Aranha da Marvel Studios!), soube escrever no roteiro e dele enfatizar o manejo equilibrado entre terror e galhofa –lições também deixadas pelo sempre imprescindível mestre Alfred Hitchcock –assim como as alusões pontuais e espertas às obras canônicas de vampiros já engendradas e a forma com que elas tangenciavam uma repaginação oitentista e charmosa ao mito dos chupadores de sangue.
Morador de um bairro norte-americano de classe média, Charley Webster (William Ragsdale) é um adolescente normal com pulsões um pouco exageradas de curiosidade –na primeira cena do filme, ele desperdiça a chance de dormir com a namoradinha Amy (a deliciosa Amanda Bearse) ao dedicar demasiada atenção às atividades noturnas do novo vizinho que ele vê, junto de outro comparsa, carregando um caixão para dentro do porão da casa.
Algumas noites depois, Charley flagra –no melhor estilo “Janela Indiscreta” –seu vizinho seduzindo uma jovem (com direito à cena de nudez gratuita!) e preparando-se para morder sua garganta: Ele é, pois, um vampiro.
Um vampiro que come maçãs e assobia “Strangers In The Night”...
O jovem protagonista, assim, equaciona o crescente número de pessoas surgindo mortas na região com a chegada desse novo vizinho cujas janelas da casa estão sempre fechadas e que nunca é visto ao dia.
Claro que ninguém acredita nele. Nem Amy, nem seu estranho amigo, Evil Ed (o adequadamente irrequieto Stephen Geoffreys), nem sua mãe, que chega ao cúmulo de convidar o vampiro –que à propósito, chama-se Jerry Dandrige (e é vivido por Chris Sarandon, de “A Sentinela dos Malditos”) –para fazer uma visita em sua casa; quebrando assim a proteção de Charley que estaria seguro do vampiro desde que este não fosse convidado a entrar dentro de sua casa.
Só resta, portanto, uma saída para Charley, apelar para o único especialista no assunto que conhece: O caçador de vampiros Peter Vincent (Roddy McDowall, impagável) que nada mais é do que o apresentador do programa de TV “A Hora do Espanto”, dedicado a exibir filmes de terror.
Incrédulo e cínico, Vincent nada quer com a aflição do garoto, contudo, Amy o convence a encenar uma intervenção com a presença do próprio Jerry Dandrige pagando-lhe algum dinheiro.
É combinado que Vincent daria um frasco de água benta –na verdade, água normal –para que Jerry bebesse na frente de Charley provando não ser vampiro. Contudo, Vincent enxerga (ou melhor, NÃO enxerga!) o reflexo de Jerry num espelho, descobrindo que ele realmente é um vampiro, o que coloca os quatro –Vincent, Charley, Amy e Evil Ed –na mira da criatura.
Na mesma noite, Jerry coage Evil Ed, transformando-o em vampiro e trazendo-o para seu lado, e parece descobrir, nas feições de Amy, algum tipo de interesse amoroso do passado, tal qual em “Drácula de Bram Stoker” –elemento sugerido numa breve cena, mas pouco explorado em prol da aventura vertiginosa de terror que se segue.
Assim, com Amy capturada e levada para a mansão do vilão, Charley precisa convencer o assustado Peter Vincent a agir como um caçador de vampiros de verdade e entrar, junto com ele, na fortaleza do monstro para salvar a mocinha.
Notável êxito entre o público jovem de sua época, não apenas por conta de sua condução bem ajustada, envolvente e precisa, mas também pelo carisma irresistível dos personagens principais, Charley e Peter Vincent (cujos atores também soam como escolhas perfeitas, em especial, Roddy McDowall), “A Hora do Espanto” é um trabalho extraordinariamente hábil no crescendo de tensão, ritmo e ameaças sobrenaturais que entrega com descontração e perícia ao expectador –seus efeitos de maquiagem, por sinal, extremamente gráficos, são primorosamente ostensivos, entregando os vampiros mais assustadores e impressionantes em muito tempo nas telas de cinema.

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