quarta-feira, 24 de junho de 2020

Paixão Sem Limites

Recém-chegado a Los Angeles, o jornalista Nick Eliot (Cary Elwes, de “Tempo de Glória”) precisa, antes de mais nada, arrumar um lugar para morar. Termina encontrando o que parece a residência ideal: Uma aconchegante moradia anexada ao terreno da mansão de um casal milionário.
Os indícios da encrenca que o aguarda, contudo, já se apresentam em sua chegada: Ele quase atropela uma jovem que surge de patins em frente ao seu carro e lhe devolve um olhar que mescla descaso e provocação –ela é Adrian, vivida pela jovem Alicia Silverstone (uma das atrizes-sensação da década de 1990), e filha do seu casal inquilino (formado por Kurtwood Smith, de “Robocop”, e Gwynyth Walsh, da série “O Homem do Castelo Alto”).
Conduzido com a mesma parcimônia que define os expedientes do suspense doméstico assim estabelecidos por Alfred Hitchcock, o diretor e roteirista Alan Shapiro relata a rotina de Nick com calma, plantando sutilmente os elementos que intensificarão a tensão mais tarde –Nick assume seu cargo de jornalista na nova editora já sob certa pressão, e termina caindo nas graças do exigente chefe (Matthew Walker) graças a uma matéria redigida por Adrian –que aparentemente é uma pequena gênio do alto de seus catorze anos de idade (!).
Assim, Nick se torna alvo do interesse da garota, cujo assédio ao rapaz com o dobro da idade dela vai aumentando cada vez mais, ganhando ares de obsessão, tornando-se violento quando ele demonstra interesse pela colega de profissão Amy (Jennifer Rubin) e lançando mão de estratagemas calculados e cruéis que, em seu indefectível planejamento, jamais seriam plausíveis vindos de uma adolescente.
O filme de Shapiro parte assim de um conceito um tanto simples, onde a ninfeta ao estilo “Lolita” se converte numa femme fatale –reza a lenda que o próprio Shapiro teve uma desagradável experiência nesse sentido (embora certamente de repercussões menos extremas), tanto que o nome original da personagem, Daria, teve de ser alterado quando “Paixão Sem Limites” –ou “The Crush” –foi exibido na TV; as cópias em Laser Disc e VHS, diferente do DVD, ainda conservam o nome original da personagem antes dele ser modificado numa dublagem para Adrian, por conta de um processo da garota da vida real (!).
Entretanto, mesmo levados em contas esses precedentes, “Paixão Sem Limites” ainda é um filme que não soube envelhecer: Hitchcock acrescentava relevância psicológica a cada trabalho seu e compunha cenas extremamente marcantes e refinadas; Shapiro, embora nítido entusiasta do mestre do suspense, compõe, quando muito, um filme de ares televisivos, destituído de uma cena que se destaque em meio ao andamento enfadonho, prejudicado pelo protagonismo nada empolgante de Cary Elwes; seu maior atrativo, por sinal, a presença de Alicia Silverstone –cujo apelo sensual serviu aos propósitos de alguns filmes (e clipes do Aerosmith) naquela época –pouco oferece no cômputo geral além de suas caras e bocas; ela é belíssima, sem dúvida, mas longe de ser, aqui, talentosa.

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