É possível uma obra já tida por impecável
elevar ainda mais seu altíssimo padrão de qualidade? Esta é a difícil pergunta
que as Versões Estendidas de “O Senhor dos Anéis” se atreveram a responder com
uma audaciosa resposta afirmativa.
No capítulo final, “O Retorno do Rei”, algumas
dessas cenas novas foram filmadas depois que o filme ganhou 11 Oscars na
histórica cerimônia de 2004, o que não as impede de, pelo menos, conferir um
aspecto esclarecedor a muitas passagens em alguns momentos.
Não há, contudo, razão para os pessimistas
temerem, o filme majestoso, arrojado e inigualável que tomou o mundo de assalto
continua lá: Após as duras provações experimentadas em “As Duas Torres”, o
hobbit Frodo Bolseiro (Elijah Wood), ao lado de seu filme companheiro Sam (Sean
Astin) adentra a etapa derradeira, e mais arriscada, de sua jornada, quando
está por penetrar no território obscuro, maligno e infestado de perigos
conhecido como Mordor. Não é só: Cada vez mais prejudicado em seu juízo
perfeito pela influência do anel, Frodo rejeita a amizade sincera de Sam para
cair nas armadilhas morais de Gollum (Andy Serkis, numa aula de interpretação
virtual), cujo plano é entregá-lo de bandeja à horripilante aranha gigante
Laracna, numa das mais espetaculares cenas do filme (e do cinema).
No outro núcleo de protagonistas, vemos
Aragorn, Legolas, Gimli e Gandalf encontrarem Merry e Pippin, depois dos
desencontros do filme anterior –é nesse momento que presenciamos uma das mais
festejadas cenas da versão estendida, quando Gandalf, convertido em um mago
branco, se depara com Saruman (Christopher Lee) e o confronta; certamente uma
cena que foi um pecado ter sido tirada da versão de cinema.
O filme se ocupa de mostrar os desdobramentos
desses personagens: Gandalf e Pippin seguem para a Cidade Branca de Gondor (um
prodígio de efeitos visuais e direção de arte claramente reservado com zelo
para aparecer apenas neste filme) onde devem alertar o esclerosado regente
Denethor (John Noble) da chegada iminente de um exército incalculável de orcs;
em Rohan, o Rei Théoden (Bernard Hill) e sua sobrinha Eowin (Miranda Otto)
reúnem o exército dos rohimin para tentar impedir que a raça dos homens seja
subjugada em definitivo pelas forças de Sauron; já, Aragorn (Viggo Mortensen),
Legolas (Orlando Bloom) e Gimli (John Rhys-Davies), numa missão diferente,
devem invadir catacumbas amaldiçoadas para reivindicar o auxílio de guerreiros
fantasmas na grande guerra por vir, guerreiros estes que só responderam ao
próprio herdeiro do Rei Isildur, e legítimo rei de Gondor, papel do qual
Aragorn já não tem mais como fugir.
Essas subtramas –preenchidas com uma infinidade
de cenas grandes ou pequenas que lhes acrescentam novas impressões –convergem,
primeiro, na grandiloquente Batalha dos Campos do Pelenor, uma das grandes
sequências épicas do cinema moderno, e depois, no enfrentamento final à Sauron
e aos orcs, às portas de Mordor, quando Frodo, Sam e Gollum chegam ao ápice de
sua conflituosa relação –e o bem e o mal encontram uma das personificações mais
complexas, cativantes e visualmente estarrecedoras de seu eterno conflito.
Há beleza indescritível,
inesgotável e inatacável em “O Retorno do Rei” –acredite, cada fotograma de sua
cinematografia é um wallpaper! –e sua Versão Estendida tão somente fornece um
novo e requintado ângulo para apreciá-la; no equilíbrio tão improvável quanto
inacreditável de elementos íntimos com predicados épicos e grandiosos, e na
obra de perfeição comovente que é obtido, “O Retorno do Rei” representa o final
esplendoroso de uma das grandes sagas de nosso tempo, o auge do talento
artístico de Peter Jackson e o ápice qualitativo nas telas de cinema das
últimas décadas.
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