A vida a partir da perspectiva de sua finitude já era o prisma pelo qual se descortinava o belo best-seller de Mordecai Richler, e essas impressões são preservadas aqui, na medida do possível, pela narrativa atenta, dedicada e minimalista do diretor Richard J. Lewis.
Por meio dela, acompanhamos Barney Panofsky,
protagonista que tem diferentes fases da sua vida investigadas –e em todas elas
sua verve politicamente incorreta ganha a excelência de Paul Giamatti.
Do alto de sua velhice, ainda a frente de uma
certa Tottaly Unnecessary Productions (!), ele é abordado por um policial
frustrado e amargurado (Mark Addy, de “Ou Tudo Ou Nada”), escritor de um livro
obscuro e fracassado sobre uma implicante teoria que colocaria Barney como
principal culpado da morte de seu melhor amigo, Boogie (Scott Speedman, de
“Anjos da Noite”). Essa é a senha para o filme retroceder cerca de quarenta
anos no tempo, até 1972, na Itália quando, na companhia do próprio Boogie e dos
outros amigos, Cedric (Clé Bennett) e Leo (Thomas Trabacchi), Barney encontra
sua primeira esposa, a instável Clara Chambers (Rachelle Lefevre, de
“Crepúsculo”), com quem acaba se casando devido à súbita gravidez dela. A
criança infelizmente nasce morta e Barney descobre na mesma ocasião que não era
o pai –e o abandono ressentido dele leva Clara ao suicídio.
Anos depois, já trabalhando em Nova York,
Barney conhece sua segunda esposa, vivida por Minnie Driver (de “Gênio Indomável”), uma moça da família rica –cujo comportamento do pai e da mãe gera
imediato contraste com o jeitão despreocupado e desmazelado do pai dele (Dustin
Hoffman).
É durante sua cerimônia de casamento que Barney
conhece aquela que ele se convence ser a mulher sua vida (!), a austera,
sublime e encantadora Miriam (Rosamund Pike). Entretanto, Barney é casado e,
embora lhe mande flores toda a semana, Miriam se recusa a ceder aos seus
avanços.
Curiosamente, é o próprio Boogie quem lhe dá a
deixa para se divorciar: Transando com sua esposa na casa de campo (!). Apesar
de não sentir-se exatamente revoltado com ele, Barney encena, no calor da hora,
algumas recriminações triviais de velhos amigos, quando, num incidente cercado
de incertezas, Boogia cai no lago e nunca mais é visto (Ele teria se afogado ao
se jogar? Teria sido atingido pela bala da arma de Barney que disparou sem
querer? Teria, afinal, morrido mesmo? Já que o corpo nunca foi mais achado?).
Após essa estranha circunstância, Barney vai
atrás de Miriam com quem, após alguma insistência, consegue enfim se casar e
ter dois filhos ao longo de alguns bons anos de um casamento feliz.
No entanto, no livro de Richler e no filme de
Lewis, o final não corresponde necessariamente ao momento em que o protagonista
alcança o ápice de sua felicidade –como o seria em tantas outras histórias de
formato convencional –e com isso, a trama avança até a meia-idade, quando a
insegurança e os anseios egoístas de Barney o levam a perder a mulher que ama.
Acompanhamos também sua velhice –ou seja, uma
fase até além daquela em que presenciamos o filme começar –e testemunhamos a
angustiante constatação de Barney diante da própria senilidade e, portanto, do
fim da vida.
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