Trabalho apaixonado do diretor Jim Mickle, este filme, originado de um projeto em forma de pequenos episódios, reúne características do gótico sulino –uma vertente pouco difundida fora dos EUA –e elementos que remetem à série “The Walking Dead”.
Com efeito, os vampiros mostrados nesse filme
são um meio termo entre os vampiros como em geral são conhecidos e os
mortos-vivos: São criaturas acéfalas, despidas de racionalidade, selvagens,
animalescas, com a condição de portarem presas e de queimarem à luz do sol –e,
portanto, só caçarem à noite.
A trama é narrada pelo jovem Martin (Connor
Paolo, de “Sobre Meninos e Lobos”), único sobrevivente de sua família após um
ataque de vampiro; sobrevivência esta que ele deve exclusivamente ao Senhor
(Nick Damici, também co-roteirista ao lado do diretor Mickle).
Misterioso, arredio e avesso à conversa, o
Senhor é para Martin o mais próximo que pode encontrar de uma figura paterna –e
o filme não se desvia das evidentes analogias cristãs embutidas em sua
caracterização (não apenas a alcunha pela qual é chamado; mas também pelas
chagas, tais como Cristo, que, já próximo ao desfecho, ele adquire na palma das
duas mãos).
Naquele mundo desolado, as cidades foram
evacuadas e, abandonadas, converteram-se em escombros. Os sobreviventes unem-se
em milícias periclitantes que penam sob o jugo de hordas imprevisíveis de
vampiros.
O plano do Senhor é ir para o Norte, onde
dizem, há um lugar chamado Novo Éden, um refúgio longe dos vampiros e da
desolação. Entretanto, tão contundente é o retrato desse mundo pós-apocalíptico
devastado feito no filme que já na metade da duração duvidamos que tal lugar
exista de fato.
Durante esse percurso –realizado pela dupla
protagonista menos por otimismo e mais por insistir em algum propósito –o
Senhor e Martin se cruzam com outros personagens: A Irmã (Kelly McGillis), uma
ex-freira em fuga de um grupo de estupradores que os ajuda e acompanha em mais
de uma ocasião; Belle (Danielle Harris) jovem grávida que se junta ao grupo durante
uma parada num dos refúgios eventuais; e Willie (Sean Nelson, o garotinho de
“Fresh”), ex-combatente que, finda a guerra no Oriente Médio, passou a viver de
forma errante.
Esse grupo se consolida, mas também se
desvanece a medida que todos avançam em direção ao Norte, e as ameaças se
tornam mais e mais pungentes.
Mais do que colocar os vampiros como antagonistas,
“Stake Land” deixa bem claro que o grande perigo que paira sobre seus
personagens são os seres humanos bem vivos que essa circunstância moldou:
Transformados em canibais pela profunda escassez de alimento, uma seita de
homens embrutecidos caça as pessoas de dia e de noite, representando assim o
maior dos desafios para eles chegarem ao seu objetivo.
Dramático e intimista em níveis inusitados para
os fãs do gênero –que graças à outras obras mais conhecidas se habituaram ao
feijão com arroz dos tiros e do corre-corre –“Stake Land” oferece uma criação
muito mais engajada e contemplativa de um mundo em colapso (algo parecido com o
que é visto em “Maggie”, com Arnold Schwarznegger, e no fabuloso “A Estrada”,
com Viggo Mortensen), e por isso mesmo seu resultado prima por uma concepção
tão convincente quanto opressiva.
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