segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Stake Land - Anoitecer Violento

 


Trabalho apaixonado do diretor Jim Mickle, este filme, originado de um projeto em forma de pequenos episódios, reúne características do gótico sulino –uma vertente pouco difundida fora dos EUA –e elementos que remetem à série “The Walking Dead”.

Com efeito, os vampiros mostrados nesse filme são um meio termo entre os vampiros como em geral são conhecidos e os mortos-vivos: São criaturas acéfalas, despidas de racionalidade, selvagens, animalescas, com a condição de portarem presas e de queimarem à luz do sol –e, portanto, só caçarem à noite.

A trama é narrada pelo jovem Martin (Connor Paolo, de “Sobre Meninos e Lobos”), único sobrevivente de sua família após um ataque de vampiro; sobrevivência esta que ele deve exclusivamente ao Senhor (Nick Damici, também co-roteirista ao lado do diretor Mickle).

Misterioso, arredio e avesso à conversa, o Senhor é para Martin o mais próximo que pode encontrar de uma figura paterna –e o filme não se desvia das evidentes analogias cristãs embutidas em sua caracterização (não apenas a alcunha pela qual é chamado; mas também pelas chagas, tais como Cristo, que, já próximo ao desfecho, ele adquire na palma das duas mãos).

Naquele mundo desolado, as cidades foram evacuadas e, abandonadas, converteram-se em escombros. Os sobreviventes unem-se em milícias periclitantes que penam sob o jugo de hordas imprevisíveis de vampiros.

O plano do Senhor é ir para o Norte, onde dizem, há um lugar chamado Novo Éden, um refúgio longe dos vampiros e da desolação. Entretanto, tão contundente é o retrato desse mundo pós-apocalíptico devastado feito no filme que já na metade da duração duvidamos que tal lugar exista de fato.

Durante esse percurso –realizado pela dupla protagonista menos por otimismo e mais por insistir em algum propósito –o Senhor e Martin se cruzam com outros personagens: A Irmã (Kelly McGillis), uma ex-freira em fuga de um grupo de estupradores que os ajuda e acompanha em mais de uma ocasião; Belle (Danielle Harris) jovem grávida que se junta ao grupo durante uma parada num dos refúgios eventuais; e Willie (Sean Nelson, o garotinho de “Fresh”), ex-combatente que, finda a guerra no Oriente Médio, passou a viver de forma errante.

Esse grupo se consolida, mas também se desvanece a medida que todos avançam em direção ao Norte, e as ameaças se tornam mais e mais pungentes.

Mais do que colocar os vampiros como antagonistas, “Stake Land” deixa bem claro que o grande perigo que paira sobre seus personagens são os seres humanos bem vivos que essa circunstância moldou: Transformados em canibais pela profunda escassez de alimento, uma seita de homens embrutecidos caça as pessoas de dia e de noite, representando assim o maior dos desafios para eles chegarem ao seu objetivo.

Dramático e intimista em níveis inusitados para os fãs do gênero –que graças à outras obras mais conhecidas se habituaram ao feijão com arroz dos tiros e do corre-corre –“Stake Land” oferece uma criação muito mais engajada e contemplativa de um mundo em colapso (algo parecido com o que é visto em “Maggie”, com Arnold Schwarznegger, e no fabuloso “A Estrada”, com Viggo Mortensen), e por isso mesmo seu resultado prima por uma concepção tão convincente quanto opressiva.

Além deste belo primeiro filme em si, existem na internet sete pequenos ‘webisodes’ que preenchem lacunas a respeito dos personagens –como, por exemplo, os detalhes em torno da gravidez de Belle, ou a trajetória anterior de Willie –além deles, as aventuras do Senhor e de Martin ganharam também uma continuação lançada em 2016.

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