O roteiro de Kevin Williamson, dirigido com o máximo de criatividade por Wes Craven é um paradoxo na forma com que mostrou-se revolucionário: Naquele final dos anos 1990 de então, os realizadores conseguiram entregar um filme recebido como divisor de águas no gênero do terror contemporâneo, simplesmente versando em torno dos clichês inapeláveis desse mesmo gênero –e, no final das contas, não lhes acrescentando nada genuinamente novo.
A beleza de “Pânico” está, portanto, na sedução
com que consegue enredar seus expectadores, e para isso, um diretor
profundamente conhecedor das engrenagens que movem o gênero, como Wes Craven, é
essencial.
Desde seu prólogo –onde vemos uma jovem Drew
Barrymore, às voltas com um ameaçador telefonema de um psicótico que, descobrimos,
está rondando sua casa –“Pânico” é todo metalinguagem: Os personagens, fãs
incondicionais de filmes de terror ‘slasher’, debocham das decisões redundantes
das vítimas dos assassinos (que insistem em correr escadas acima, por exemplo,
ao invés de saírem porta afora) para, no momento seguinte, serem levados a
cometer os mesmos lapsos.
A preencher esse amálgama ininterrupto de
referências, o roteirista Williamson até que soube construir uma trama
suficientemente envolvente: Após o assassinato de Casey (a personagem de Drew),
um toque de recolher instala-se na cidadezinha de Woodsboro, com as autoridades
temerosas de novos assassinos, a mídia subitamente interessada nos
desdobramentos naquela comunidade pacífica e os jovens tecendo teorias e mais teorias a partir dos
filmes de psicopata que conhecem.
A protagonista de “Pânico” é Sydney (Neve
Campbell, então em alta pelo sucesso do seriado “O Quinteto”) e, em poucos
dias, há de completar um ano do assassinato da própria mãe dela; crime que
muitos insistem em relacionar com as novas mortes.
De fato, Sydney, cujo pai saiu em viagem,
deixando-a sozinha em casa, é assediada pelo assassino (um psicopata que usa
uma máscara inspirada na pintura “O Grito”, do artista Edvard Munch), usando o
mesmo recurso do telefone da vítima anterior: Ameaçadoramente, ele propõe um
jogo de perguntas e respostas sobre filmes de terror, à medida que vai
revelando sua presença próxima e letal –na cartilha de Wes Craven e Kevin
Williamson, “Pânico” surge como um herdeiro natural de “Halloween” e
“Sexta-Feira 13” (filmes com os quais a premissa é deliberadamente similar) ao
introduzir um psicopata com elementos visuais icônicos à exemplo de Michael
Meyers e Jason Vorhees, mas incrementado pelas artimanhas tecnológicas que o
conectam aos jovens (o telefone) e por sua própria percepção cultural (os
filmes de terror).
É também curioso notar que Craven humaniza o
psicopata: Ele cai, se machuca e apanha de suas vítimas antes de matá-las, o
que serve não necessariamente para humanizá-lo (embora isso aconteça) mas, mais
precisamente para relacioná-lo com os suspeitos que vão despontando. Um
elemento que garante diversão e interesse à “Pânico” –pelo menos, nas primeiras
vezes a que se assiste a ele –são as incertezas quanto à identidade real do
assassino: Seria o namoradinho de Sydney (Skeet Ulrich, de “Jovens Bruxas” e
“Melhor É Impossível”) cheio de desculpas esfarrapadas e histórias mal-contadas?
Ou seria o nerd de locadora Randy (Jamie Kennedy, possivelmente o melhor
personagem do filme) cujas observações sobre os códigos embutidos nos filmes de
terror são um dos grandes achados do filme?
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