“E se for aquilo que parece? Que melhor... é
impossível?”
Numa das melhores cenas do filme, Melvin, o
incorrigível personagem brilhantemente vivido por Jack Nicholson, sai
contrariado do consultório de seu psiquiatra que se recusou a atendê-lo em seus
termos arrogantes e egocêntricos, e dá de cara com uma sala de espera cheia de
pessoas que nunca viu.
Sarcástico, impiedoso e afiadamente
inteligente, Melvin (que é romancista) resolve cuspir sua frustração jogando
para aqueles desconhecidos algumas palavras que se aplicam a qualquer contexto,
a qualquer situação e a qualquer circunstância –e, em todas elas, representam
uma verdade dura de ser encarada para alguém na sala de espera de um
consultório psiquiátrico.
Eis aí, então, uma das grandes qualidades da
comédia do diretor James L. Brooks: O roteiro brilhante que coloca na boca de
um ator igualmente brilhante uma sucessão de sacadas espirituosas, irônicas e
por vezes implacáveis.
Justificativa para isso até que há: Melvin
sofre de distúrbios psicológicos de ordem compulsiva-obsessiva. Daí o fato de
perder com tanta freqüência a paciência com as outras pessoas –ele irrita-se
com qualquer um que interfira na harmonia bizarra dos padrões corriqueiros que
ele cria para si mesmo (leia-se, qualquer um que cruze seu caminho).
Uma de suas vítimas mais constantes é seu
vizinho de apartamento, o artista plástico Simon (o ótimo Greg Kinnear) que,
por ser gay, é um alvo freqüente de suas alfinetadas e grosserias.
Melvin é, assim, um daqueles personagens
inesquecíveis que compõem a galeria criada ao longo de uma carreira de décadas
pelo ator Jack Nicholson –um sujeito insuportável em todos os aspectos
imagináveis e que (ao contrário de outros cretinos concebidos pela ficção) não
tem a menor intenção de redimir-se e endireitar. Todavia, na composição
minimalista, descontraída, ponderadamente conduzida (muito da segurança do ator
no papel se deve pela colaboração com o diretor Brooks, com quem ele já tinha
feito “Laços de Ternura” e “Nos Bastidores da Notícia”) e vívida de Nicholson
esse poço de antipatia converte-se num protagonista a quem temos prazer em
acompanhar e por quem não tardamos muito, apesar de tudo, a torcer.
É claro que o avanço da trama oferece
possibilidades para que isso ocorra: Simon é atacado por delinqüentes e,
enquanto recupera-se no hospital, Melvin é incumbido de cuidar de seu cãozinho
–e, por meio dele, Melvin começa a descobrir a sensação inebriante de apegar-se
a uma criatura.
A relação de Melvin com Carol (a fabulosa Helen
Hunt), a única garçonete que parece ter ânimo e disposição para atendê-lo,
começa também a mudar caminhando em direção à um romance.
Merecido vencedor dos Oscars de Melhor Ator e
Melhor Atriz em 1997 (para Nicholson e Hunt), “Melhor É Impossível” é uma
daquelas poucas obras que ilustram o nível bastante impressionante de qualidade
a que se pode chegar as comédias (mesmo as comédias românticas) quando
realizadas com talento inquestionável.
E bem sabe o público o
quanto o cinema consagrado tem ficado excessivamente sério ao longo dos anos.
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