domingo, 16 de abril de 2017

Melhor É Impossível

“E se for aquilo que parece? Que melhor... é impossível?”
Numa das melhores cenas do filme, Melvin, o incorrigível personagem brilhantemente vivido por Jack Nicholson, sai contrariado do consultório de seu psiquiatra que se recusou a atendê-lo em seus termos arrogantes e egocêntricos, e dá de cara com uma sala de espera cheia de pessoas que nunca viu.
Sarcástico, impiedoso e afiadamente inteligente, Melvin (que é romancista) resolve cuspir sua frustração jogando para aqueles desconhecidos algumas palavras que se aplicam a qualquer contexto, a qualquer situação e a qualquer circunstância –e, em todas elas, representam uma verdade dura de ser encarada para alguém na sala de espera de um consultório psiquiátrico.
Eis aí, então, uma das grandes qualidades da comédia do diretor James L. Brooks: O roteiro brilhante que coloca na boca de um ator igualmente brilhante uma sucessão de sacadas espirituosas, irônicas e por vezes implacáveis.
Justificativa para isso até que há: Melvin sofre de distúrbios psicológicos de ordem compulsiva-obsessiva. Daí o fato de perder com tanta freqüência a paciência com as outras pessoas –ele irrita-se com qualquer um que interfira na harmonia bizarra dos padrões corriqueiros que ele cria para si mesmo (leia-se, qualquer um que cruze seu caminho).
Uma de suas vítimas mais constantes é seu vizinho de apartamento, o artista plástico Simon (o ótimo Greg Kinnear) que, por ser gay, é um alvo freqüente de suas alfinetadas e grosserias.
Melvin é, assim, um daqueles personagens inesquecíveis que compõem a galeria criada ao longo de uma carreira de décadas pelo ator Jack Nicholson –um sujeito insuportável em todos os aspectos imagináveis e que (ao contrário de outros cretinos concebidos pela ficção) não tem a menor intenção de redimir-se e endireitar. Todavia, na composição minimalista, descontraída, ponderadamente conduzida (muito da segurança do ator no papel se deve pela colaboração com o diretor Brooks, com quem ele já tinha feito “Laços de Ternura” e “Nos Bastidores da Notícia”) e vívida de Nicholson esse poço de antipatia converte-se num protagonista a quem temos prazer em acompanhar e por quem não tardamos muito, apesar de tudo, a torcer.
É claro que o avanço da trama oferece possibilidades para que isso ocorra: Simon é atacado por delinqüentes e, enquanto recupera-se no hospital, Melvin é incumbido de cuidar de seu cãozinho –e, por meio dele, Melvin começa a descobrir a sensação inebriante de apegar-se a uma criatura.
A relação de Melvin com Carol (a fabulosa Helen Hunt), a única garçonete que parece ter ânimo e disposição para atendê-lo, começa também a mudar caminhando em direção à um romance.
Merecido vencedor dos Oscars de Melhor Ator e Melhor Atriz em 1997 (para Nicholson e Hunt), “Melhor É Impossível” é uma daquelas poucas obras que ilustram o nível bastante impressionante de qualidade a que se pode chegar as comédias (mesmo as comédias românticas) quando realizadas com talento inquestionável.
E bem sabe o público o quanto o cinema consagrado tem ficado excessivamente sério ao longo dos anos.

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