domingo, 16 de abril de 2017

As Virgens Suicidas

Existe algo de muito abstrato que Sofia Coppola almeja capturar na narrativa que ela elaborou para este trabalho, quase como se houvesse um outro filme por trás dos elementos nebulosos, oblíquos e enigmáticos que nos são apresentados.
Filhote oriundo do cinema norte-americano independente, e como ele, composto de todos os elementos que o definem como a encenação e atmosfera de natureza alternativa, a ambientação da classe média norte-americana por meio da qual sondagens de nível íntimo se fazem possíveis, e a sensação de angústia perene e onipresente, esta produção marcou os primeiros passos de Sofia como a autora que vislumbrava ser, a cada projeto cada vez mais longe da sombra do pai, Francis Ford, cujas narrativas épicas e vigorosas, em escala de ópera italiana, contrastavam com o estilo minimalista, introspectivo e reflexivo que Sofia sempre buscou.
“As Virgens Suicidas” pede um tempo próprio ao expectador, uma percepção própria.
A condução de Sofia, em momento algum, concede às suas protagonistas o direito à narrativa em primeira pessoa –por conseqüência, elas nos parecem tão misteriosas e inatingíveis quanto o são para o grupo de garotos que, de fato, contam a história de todas elas.
As irmãs Lisbon são belas, etéreas e encantadoras. Preenchem, para aqueles jovens, o posto que todas as primeiras paixões ocupam: O de musas inalcançáveis, ainda que, a rigor, elas morassem do outro lado da rua.
É no espaço intermediário entre os adoradores e as musas de adoração (e no fato lúdico de que esse limite nunca é, nem deve ser extrapolado) que Sofia encontra e observa uma certa beleza.
Ainda que sua condução caminhe para uma tragédia anunciada, a direção de Sofia imprime uma aura de contos de fada que desestabiliza as convenções de gênero sem, no entanto, agregar uma inapropriada leveza –são escolhas que revelam uma clara e surpreendente inclinação para a linguagem cinematográfica, embora, no cômputo geral “As Virgens Suicidas” passe longe de ser um filme perfeito: É demasiado presunçoso em relação à atmosfera que levanta (tão enfatizada que depõe contra narrativa), tem um problema paulatino em encontrar um protagonista que conduza de modo satisfatório a trama (não é o jovem e apático Josh Hartnett, nem o ainda desconhecido Hayden Christensen, e tampouco nenhum dos outros garotos –quem mais chega perto disso é a ótima Kirsten Dunst cuja personagem, porém, é empregada de maneira muito elíptica), e não escapa, também ele, a uma série de concessões de ordem dramática que parecem estabelecer uma fórmula para filmes americanos independentes a partir dos anos 1990.

Ainda assim, para um filme de estréia, está bom demais.

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