segunda-feira, 17 de abril de 2017

Ninfomaníaca

Ninfomaníaca-Volume 1
Lars Von Trier sempre foi um diretor incomum.
Suas narrativas nunca fizeram questão de se mostrar aprazíveis ao expectador, e seus temas imbricavam por celeumas desconcertantes revelando um autor quase obcecado por pulsões de ordem sexual que revelavam a disfunção em comportamentos originados da opressão.
Sob essa condição, ele concebeu obras que, uma a uma, chocaram e desestabilizaram o público, que passou a saber exatamente o quê esperar dele: “Ondas do Destino”, “Os Idiotas”, “Dogville”, “Melancolia”, Manderlay”, “O Anti-Cristo”.
Ao mesmo tempo em que seus trabalhos faziam referências a grandes artistas transgressores do passado (como Píer Paolo Passolini e Andrei Tarkovski), Von Trier demonstrava certos fascínios específicos.
Nessa evolução, percebia-se, era questão de tempo até que um de seus filmes flertasse abertamente com o sexo explícito –deixando de lado alguns rumores que afirmam que isso já ocorria nas cenas de “O Anti-Cristo”.
“Ninfomaníaca” era, portanto, o auge de muitos temas perseguidos por Von Trier ao longo de seus trabalhos.
Nele, testemunhamos um solteirão solitário (Stelan Skarsgaard) encontrando, certo dia, uma mulher (Charlotte Gainsbourg, ambos presenças freqüentes nas obras de Von Trier) agredida e estirada num beco próximo ao seu apartamento.
Ele lhe oferece ajuda e um ouvido confidente para escutar a história que ela tem a relatar: a de como, ainda muito jovem (agora interpretada de maneira corajosa pela jovem Stacy Martin), descobriu-se ninfomaníaca, e ao longo de toda sua juventude e vida adulta, buscou suprir essa compulsão, pouco importando-se com as vidas que eventualmente destruía no processo.
Esta primeira parte (que responde por cerca de cento e dezessete minutos de um projeto que totaliza pouco mais de três horas, mas inicialmente previsto para uma duração de cinco horas!!!) enfoca a juventude da protagonista, em especial, os encontros e desencontros vividos com o homem que ela pensava amar, o reticente Jerome (interpretado pelo polêmico Shia LaBeouf).
O final é um gancho provocativo, melancólico e –em se tratando de Lars Von Trier –bastante, condizente para o segundo volume.

Ninfomaníaca-Volume 2
Dando continuidade ao relato de sua tumultuada vida sexual para o casto e interessado Seligman (Skarsgaard), a vitimizada Joe (Gainsbourg) chega ao ponto de sua narrativa em que junto de Jerome (LaBeouf), seu amor da juventude, tem um filho. É também quando ela estranhamente perde a sensibilidade de sua vagina, o quê a levará a passar quase o restante da vida tentando recuperar sua capacidade de sentir prazer.
Lars Von Trier prossegue com sua saga sexual convertida em dois volumes, na qual inclusive, logrou a concepção de “um novo gênero cinematográfico” segundo suas próprias palavras.
De acordo com o diretor, tal gênero, o “digresismo” seria um filme que corresponde à experiência sensorial de se ler um livro.
De fato, há toda uma empolgação da parte de Von Trier (talvez, mais perceptível na primeira parte) em detalhar as mais distintas impressões da narrativa, ainda que nesse sentido –e na escolha escandalosa de seu tema –essas opções aparecem em segundo plano. Há inclusive uma seqüência de auto-referência (ela remete à mais memorável cena de “O Anti-Cristo”) que pode soar pedante para alguns, genial para outros.
Esta segunda parte trás finalmente a introdução de Charlotte Gainsbourg (atriz predileta do diretor) como a protagonista Joe em sua fase adulta, e intensifica os percalços e dilemas sexuais, levando a um desfecho impiedoso que pode incomodar muitos expectadores, bem ao gosto de seu realizador.
Por isso, uma vez mais, Von Trier vale-se de seu talento, minúcia e erudição para chocar o expectador através de um tema que parece perseguí-lo: o sexo e seus desdobramentos mais cruéis visto por uma ótica feminina.
Impressionam (mas, estranhamente não excitam) as cenas de sexo explícito realizadas pelo elenco famoso.

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