Para toda uma geração, John Travolta não é lembrado como Vincent Veja (de “Pulp Fiction”), nem como Vinnie Barbarino (um dos astros do seriado “Welcome Back, Kotter”, antes deste filme) e muito menos como o taxista James (de “Olha Quem Está Falando”), mas como Tony Manero, o rapaz proletário de subúrbio norte-americano no clássico “Os Embalos de Sábado À Noite”.
No papel que catapultou-o ao estrelato –e que
lhe deu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator, perdendo para Richard Dreyfuss,
por “A Garota do Adeus” –Travolta é convicto, viril, carismático e vulnerável,
características que servem adequadamente ao senso de observação proposto pelo
diretor John Badham, neste que é uma das realização mais cinematográficas no
sentido artístico de toda sua carreira; a partir dos anos 1980, Badham
tornou-se um diretor de orientação essencialmente comercial, dirigindo
trabalhos sob encomenda absolutamente destituídos de estilo identificável, ou
de intenções mais profundas e subliminares.
Aqui, contudo, nota-se sua predisposição para
reduzir à essência as angústias que rondam seu protagonista.
Tony mora no Brooklyn, com mãe, pai, irmã e avó
–tem também um irmão ordenado padre que, lá pelas tantas abandona a batina e
volta a morar com eles.
Ele trabalha numa loja de tintas para ter seu
sustento e, nos fins de semana, extraza as animosidades da juventude (a raiva
acumulada pelos conflitos eventuais; a tensão sexual inerente à idade) nas
pistas de dança da discoteca local.
Lá, Tony Manero é um astro –e, no fulgor
genuíno que Travolta ostenta nas sequências de dança, esse é um dado do qual o
público não duvida um único segundo.
Entretanto, Tony, assim como seus truculentos
amigos, está longe de ser perfeito: Quando não fascina as mulheres com seu
gingado na pista, ele às submete à grosserias ultrajantes –um comportamento
machista ao extremo (para não dizer misógino) que surge na narrativa menos como
uma postura crítica e mais como perfumaria; parece haver certa condescendência
em reconhecer aquilo como algo corriqueiro e não como o repúdio que soa
gritante aos expectadores de hoje.
Habituado à conquistar os sucessivos concursos
de dança que são realizados por lá, Tony planeja arrumar para si a melhor
parceira possível –em detrimento de sua leal e excessivamente servil
companheira, a apaixonada Annette (Donna Pescow) –e isso o leva a arrastar asa
para cima da bailarina Stephanie (Karen Lynn Gorney).
Stephanie, porém, não é (ou assim não se
considera) uma garota do meio à que Tony está habituado: Quando não estão
ensaiando, ela abre a boca para vangloriar-se de seu trabalho em Manhatan, das
pessoas famosas que conhece e do quanto isso tudo pavimenta um caminho que
deverá levá-la à glória.
Quando, vez ou outra, Tony identifica (e
ironiza) a falta de sinceridade em suas bravatas, Stephanie o ataca com a
verdade: De que, sendo ele filho do subúrbio, seu destino é envelhecer
trabalhando na mesma lojinha; conviver com os mesmos amigos; frequentar sempre
os mesmos lugares; ser, enfim, medíocre.
Paralelo à isso –e à uma certa conscientização
da parte de Tony –outros pequenos dramas se afunilam: O irmão de Tony em
conflito com a culpa por largar o sacerdócio; o amigo que engravidou a namorada
e, por medo, será pressionado a um casamento que não quer; as rusgas cheias de
imaturidade e violência entre eles (descendentes de italianos) e os rapazes
descendentes de latinos; e os esforços vazios (e, no final das contas,
trágicos) de Annette tentar chamar Tony à importar-se com ela.
Todos esses tópicos, acrescidos da relação nada
fácil com Stephanie, levaram Tony a compreender que, o passo principal e
primeiro para encontrar um caminho melhor, é desenvolver a empatia que seus
velhos amigos tomam como uma fraqueza.
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