terça-feira, 25 de agosto de 2020

Olha Quem Está Falando

Dentre os astros hollywoodianos, a carreira de John Travolta talvez tenha sido a que passou mais altos e baixos: De uma expressiva promessa nos anos 1970 (quando obteve até uma indicação ao Oscar por “Os Embalos de Sábado À Noite”), ele passou para o estrelato em produções como “Grease-Nos Tempos da Brilhantina”, e aí para um gradual declínio na década seguinte, intensificado pelo fracasso da continuação “Os Embalos de Sábado Continuam”, em 1983.
Durante os anos 1980, parecia que sua carreira tomaria um fôlego renovado quando participou do extremamente divertido, adorável e inofensivo “Olha Quem Está Falando”, da diretora Amy Heckerling.
Hoje, parte do vasto leque de obras vistas à exaustão na ‘sessão da tarde’, o filme pode possuir elementos redundantes em sua encenação, na plausibilidade de sua trama e nas motivações dos personagens, além de uma pouco convincente orientação de comédia romântica, no entanto, certamente jamais foi intenção de sua diretora e roteirista almejar algo mais.
Amy Heckerling concebeu “Olha Quem Está Falando” tal e qual aquelas obras dos anos 1980, onde elementos triviais ganhavam inesperada ênfase cinematográfica –um dos realizadores que mais trabalhou esse conceito foi John Hugues –neste caso, as experiências domésticas até que bastante comuns testemunhadas do ponto de vista de um bebê (que no filme não chega a ter mais que um ano de idade). A diferença? Ele narra sua história, com uma divertidíssima ‘voz da consciência’ (dotada de compreensão e ginga improváveis para um menino de um ano) cortesia da dublagem de Bruce Willis!
O prólogo mostra um óvulo sendo fecundado por espermatozóides, numa cena esmeradamente didática e nada ofensiva; é a partir daí que o bebê adquire voz e passa a narrar as desventuras de sua mãe, Mollie (a então muito bonita Kristie Alley), uma contadora que teve o infortúnio de engravidar de um cliente casado (George Segal, perfeitamente cafajeste), e passou a contar a todo mundo –incluindo a sua mãe vivida por Olympia Dukakis –que fizera inseminação artificial.
No dia em que seu bebê vem a nascer –o mesmo em que ela tem uma decepção com o homem que tinha esperanças de ser pai de seu filho –Mollie entra no táxi dirigido por James (Joh Travolta) que, levado pelas circunstâncias, termina sendo quem a conduz ao hospital e termina por estar presente com ela na hora do parto –apesar, das implicâncias de praxe.
Nas semanas e meses que se seguem, James encontra um meio de continuar por perto –numa série de subterfúgios um bocado forçados da parte do roteiro, como a carteira esquecida em seu carro e outros detalhes –e acaba se tornando uma espécie de babá para o pequeno Mike (interpretado, e muito bem, pelos pequenos Jason Schaller, Jaryd Waterhouse, Jacob Haines e Christopher Aydon que se revezam em diferentes cenas e etapas da idade no filme).
É, portanto, o romance fugidio, hesitante e sempre muito cativante entre Mollie e James que movimenta o filme, visto pela ótica divertida de Mike –pois, como na mais formulaica comédia romântica, Mollie é aquela personagem complicada que anseia por amor, e tem planos elaborados para encontrar o homem perfeito (sendo que sua prioridade é que seja menos um bom marido e mais um bom pai), ignorante, porém, de que o candidato ideal já está cuidando de seu filho em sua casa.
E dentro desses parâmetros nada ambiciosos, o filme funciona que é uma beleza: Kristie Alley e John Travolta têm uma química encantadora (que tornou a funcionar mesmo nas duas continuações medíocres que o filme teve), seu roteiro, se por um lado entrega inúmeros momentos de inventividade duvidosa, por outro compensa com um meia hora final perfeitamente calibrada e cativante, e a direção de Amy Heckerling abraça por inteiro a proposta pueril embutida na premissa, tornando o filme um entretenimento absolutamente inofensivo para toda a família.
“Olha Quem Está Falando” foi o único sucesso de John Travolta –e o único filme pelo qual foi reconhecido por toda uma geração –por um longo tempo, até voltar de forma retumbante ao estrelato nos anos 1990 (com uma nova indicação ao Oscar, desta vez, por “Pulp Fiction”), e comprometer uma reluzente sequência de bons trabalhos com a catastrófica ficção científica “A Reconquista”, de 2000; mas, ele voltou a entregar bons desempenhos de público e crítica com projetos seguintes como “A Senha: Swordfish”, “Motoqueiros Selvagens” e “Hairspray-Em Busca da Fama”.

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