terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Maggie - A Transformação


Soa ao mesmo tempo como audácia e imprudência colocar o astro de ação Arnold Schwarzenegger num papel dramático, intimista e introspectivo, no entanto, em “Maggie”, o diretor Henry Hobson consegue extrair dele o que provavelmente é a atuação mais humana de sua carreira.
Apontado por muitos como uma réplica em tons introvertidos do videogame “Last Of Us”, este trabalho distingue-se das realizações habituais no sub-gênero dos mortos-vivos –e corresponde, em sua natureza reflexiva, ao sub-gênero do pós-terror –mostrando um apocalypse zumbi com mais austeridade e menos frenesi.
Schwarzenegger é Wade, um fazendeiro cuja preocupação não é o caos que dominou as ruas das cidades populosas com a praga dos zumbis –da qual tomamos algum conhecimento por meio de esporádicos noticiários –e sim o bem-estar de sua filha mais velha, a adolescente Maggie (Abigail Breslin, crescendo com muita propriedade).
Como toda adolescente que em algum momento desenvolve certa rebeldia, Maggie saiu de casa e, nos perigos do mundo exterior, foi mordida por um morto-vivo –e, portanto, infectada com seu mal inevitável.
Wade a leva de volta para a vida tranquila no campo, sob orientações dos médicos de que o período com ela como sua filha será breve; até que ela se torne um zumbi. Na fazenda, aguardam com alguma angústia mal disfarçada, a esposa de Wade e madrasta de Maggie, Caroline (Joely Richardson) e seus dois filhos pequenos, irmãos de Maggie.
O filme de Henry Hobson se dedicará assim a contemplar a mutação inexorável dela diante da postura estoica do pai em manter-se ao seu lado, mesmo ciente da realidade (e dos avisos constantes) de que uma hora ela não será mais quem é, e representará um perigo mortal para todos.
Dois policiais da jurisdição local, volta e meia aparecem (naquele velho estilo “policial mau, policial bom”) para lembrar paulatinamente ao protagonista e ao público que o prazo de validade do relacionamento pai e filha que presenciamos terá um desfecho tão iminente quanto terrível.
Os primeiros indícios verdadeiramente chocantes –mostrados com belos efeitos de maquiagem –já tratam de afugentar Caroline e as outras crianças. Wade e Maggie se veem, então, sozinhos com a amarga constatação de que seu amor já não bastará para aplacar a maldição que vai afastá-los.
Na interessante alegoria sobre as comiserações da paternidade que move, o filme pode ser enxergado de muitas maneiras –como a metáfora de um pai diante de uma jovem e rebelde filha grávida, ou doente, ou infectada pela AIDS, ou tantos outros revezes que podem afligir a juventude inconsequente e cujas atribulações, normalmente, serão os pais quem haverão de arcar. Nesse aspecto, “Maggie” encontra ligeira similaridade no magistral “A Estrada”, na maneira com que encontra em expedientes pós-apocalípticos uma oportunidade para observações de nível íntimo. O grande problema do trabalho ocasionalmente notável de Henry Hobson é ser demasiado disperso, falhando em prender a atenção do expectador em muitos momentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário