Soa ao mesmo tempo como audácia e imprudência
colocar o astro de ação Arnold Schwarzenegger num papel dramático, intimista e introspectivo,
no entanto, em “Maggie”, o diretor Henry Hobson consegue extrair dele o que
provavelmente é a atuação mais humana de sua carreira.
Apontado por muitos como uma réplica em tons
introvertidos do videogame “Last Of Us”, este trabalho distingue-se das
realizações habituais no sub-gênero dos mortos-vivos –e corresponde, em sua
natureza reflexiva, ao sub-gênero do pós-terror –mostrando um apocalypse zumbi
com mais austeridade e menos frenesi.
Schwarzenegger é Wade, um fazendeiro cuja
preocupação não é o caos que dominou as ruas das cidades populosas com a praga
dos zumbis –da qual tomamos algum conhecimento por meio de esporádicos
noticiários –e sim o bem-estar de sua filha mais velha, a adolescente Maggie
(Abigail Breslin, crescendo com muita propriedade).
Como toda adolescente que em algum momento
desenvolve certa rebeldia, Maggie saiu de casa e, nos perigos do mundo
exterior, foi mordida por um morto-vivo –e, portanto, infectada com seu mal
inevitável.
Wade a leva de volta para a vida tranquila no
campo, sob orientações dos médicos de que o período com ela como sua filha será
breve; até que ela se torne um zumbi. Na fazenda, aguardam com alguma angústia mal
disfarçada, a esposa de Wade e madrasta de Maggie, Caroline (Joely Richardson) e seus dois filhos pequenos, irmãos de Maggie.
O filme de Henry Hobson se dedicará assim a
contemplar a mutação inexorável dela diante da postura estoica do pai em
manter-se ao seu lado, mesmo ciente da realidade (e dos avisos constantes) de
que uma hora ela não será mais quem é, e representará um perigo mortal para
todos.
Dois policiais da jurisdição local, volta e
meia aparecem (naquele velho estilo “policial mau, policial bom”) para lembrar
paulatinamente ao protagonista e ao público que o prazo de validade do
relacionamento pai e filha que presenciamos terá um desfecho tão iminente
quanto terrível.
Os primeiros indícios verdadeiramente chocantes
–mostrados com belos efeitos de maquiagem –já tratam de afugentar Caroline e as
outras crianças. Wade e Maggie se veem, então, sozinhos com a amarga
constatação de que seu amor já não bastará para aplacar a maldição que vai
afastá-los.
Na interessante alegoria sobre as comiserações
da paternidade que move, o filme pode ser enxergado de muitas maneiras –como a
metáfora de um pai diante de uma jovem e rebelde filha grávida, ou doente, ou
infectada pela AIDS, ou tantos outros revezes que podem afligir a juventude
inconsequente e cujas atribulações, normalmente, serão os pais quem haverão de
arcar. Nesse aspecto, “Maggie” encontra ligeira similaridade no magistral “A Estrada”, na maneira com que encontra em expedientes pós-apocalípticos uma
oportunidade para observações de nível íntimo. O grande problema do trabalho ocasionalmente
notável de Henry Hobson é ser demasiado disperso, falhando em prender a atenção
do expectador em muitos momentos.
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