Numa narrativa que parece incorporar muito da
visão pós-apocalíptica de Michael Haneke em “Tempos de Lobo” testemunhamos um
das mais esmeradas concepções realistas do fim do mundo –ainda que pouco dos
motivos que o deflagraram sejam esboçados: Rios amarelados, a natureza em
colapso absoluto, as cidades abandonadas, quando não devastadas (!), desolação
e desesperança palpáveis no ar como uma névoa densa.
Pai e filho (Viggo Mortensen e Kodi
Smith-McPhee, ambos extraordinários) singram os escombros de um mundo
pós-apocalíptico no qual poucos indícios restaram de que houve outrora uma
civilização.
Eles vasculham as ruínas em busca de qualquer
tipo de comida (sempre escassa) e evitam a todo o custo contato com terceiros;
as redondezas queimam em incêndios, e tudo foi reduzido a cinzas.
O pai busca manter intacta a índole do filho
(para tanto inventou um ingênuo artifício sobre um "fogo" que a eles
foi encarregado de zelar), e protegê-lo da ameaça sempre presente de gangues
canibais, enquanto tem dolorosas lembranças da esposa –vivida apropriadamente
pela bela e etérea Charlize Theron.
O diretor australiano John Hillcoat conta,
munido de impactante e significativo acabamento visual, uma parábola de
sobrevivência onde os personagens anônimos de pai e filho buscam preservar um
fiapo de humanidade, em meio a um mundo de desolação, canibalismo e tons
monocromáticos.
Apoia-se, para isso, na
estupenda interpretação de Viggo Mortensen e no igualmente impecável garotinho
Kodi Smith-McPhee. Dois atores fora de série.
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